Luanda, Maio de 1868 / Minha querida madrinha, / Desembarquei ontem em Luanda às costas de dois marinheiros cabindanos. Atirado para a praia, molhado e humilhado, logo ali me assaltou o pensamento inquietante de que havia deixado para trás o próprio mundo. Respirei o ar quente e húmido, cheirando a frutas e a cana-de-açúcar, e pouco a pouco comecei a perceber um outro odor, mais subtil, como o de um corpo em decomposição. É a este cheiro, creio, que todos os viajantes se referem quando falam de África.»
José Eduardo Agualusa (1960), Nação Crioula (1997)
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