quinta-feira, setembro 19, 2019

a culpa do padeiro na agonia da III República

Tenho tudo a favor de padeiros na política, padeiros e todas as profissões. Acho até que a corrupção generalizada do país tem muito que ver com os chamados profissionais da política, vindos das juventudes partidárias, cuja grande competência na vida é a de saberem arranjar-se, a si e aos amigos.
A administração ganharia muito em limitar drasticamente os quadros políticos que acompanham membros do governo nos gabinetes. «Sim, senhor ministro», apesar de caricatura, faz muito mais sentido do que esta feira indecorosa que minou a nossa democracia. É isto que cria os populismos, que enoja uns, lançando-os nos braços do demagogo mais habilidoso, e que espevita outros para a chicoespertice. 
É preciso um grande sentimento de impunidade para passar por aquelas cabecinhas deformadas pelos esquemas em que permanentemente vivem e congeminar consultas públicas para o fornecimento de kits  antifogo a empresas de bordados e de electrodomésticosValha-nos o Ministério Público, apesar de todas as asneiras, e, agora e sempre, a liberdade, nomeadamente a de imprensa. A verdade é que atingimos um patamar de degradação nos partidos de poder já sem remédio, a não ser com o fim da III República e a instauração de uma IVª. Uma autodissolução seria uma atitude sábia, aproveitando no dia seguinte a memória dos erros da véspera, para que nunca mais o Estado pudesse ser colonizado pelos grupos de pequenos e grandes interesses que capturaram os partidos. Mas obviamente que não vai acontecer assim; só com um susto valente. Mal comparando, é como o aeroporto dentro da cidade de Lisboa: enquanto não cair um avião em cima dos edifícios, é para expandir. Pois, o crescimento, o turismo -- mas isto já não é corrupção, mas outra coisa que para aqui não é chamada.


2 comentários:

Jaime Santos disse...

A resolução dos problemas raramente se resume a mudanças nas Leis, especialmente entre nós que até temos um sistema constitucional que não é tão mau quanto isso (mau grado o nosso sistema eleitoral de lista fechada, mas para isso não é preciso deitar fora o bebé com a água do banho, basta mudar a Lei Eleitoral).

Ela só pode ser obtida por mudança nos comportamentos, a começar pelo mais simples, a saber, que as ditas Leis devem ser aplicadas e os infratores punidos.

Os nossos republicanos aproveitaram-se da grave crise causada pela falência do País no final do século XIX para prometer que com a República, tudo mudaria. De facto mudou, mas para pior, que é o que normalmente acontece e quem fala assim até é republicano...

E depois, estamos bastante melhor agora do que nos anos 80, por exemplo. Ao menos agora os corruptos são investigados, levados a julgamento e condenados. Não se se aprende a ser a Dinamarca de um dia para o outro...

E depois, quem são os 'populistas'? Os de Direita são neo-patrimonialistas ao estilo de Trump, do mais corrupto que há, a aproveitarem-se do ressentimento e da xenofobia da turba. Os de Esquerda são 'socialistas' requentados à Chávez, igualmente corruptos até à medula. Não é com eles que se moraliza o que quer que seja...

R. disse...

Sucede, meu caro, que as leis têm muitos alçapões que lá são deixados propositadamente pelo legislador.
E por que diabo haveria uma mudança de comportamentos, em nome de que ética ou sentimentos pios? Já viu alguém largar o 'pote' de motu proprio? Há, claro, mas são a ínfima excepção.
A verdade é que o poder se constrói sobre uma teia de relações e interesses que começa nas bases, nas concelhias dos partidos; e a cúpula sabe perfeitamente que as coisas funcionam assim, mas como precisa daquela mão-de-obra barata, guarda de Conrado o prudente silêncio.
E não acho nada que estejamos melhor: nos anos 80, tinha o 25 de Abril acontecido há bocado, ainda estavam a organizar-se e a chocar os dirigentes de hoje. Mas mesmo que fosse como diz, a percepção pública é hoje muito diferente, mais informada, embora tão ou mais manipulada.
Os populistas de cá andam por aí, e há quem lhes queira dar palco; mas são tão pouco credíveis que ninguém lhes presta atenção. Há sempre a possibilidade de tomarem um partido de assalto, o PSD ou outro, e aí terão outra margem de manobra. É uma questão de o Poder tardar.