segunda-feira, setembro 16, 2019

eu cá, votava lá nela

Jo Swinson makes a speech

Jo Swinson ("Stop Brexit"), escocesa, líder dos Lib Dem


Corbyn a encanar a perna à rã, nem o pai morre nem a gente almoça, nem...


10 comentários:

Jaime Santos disse...

Por uma vez, só uma, dou razão a Corbyn, mesmo se a posição do Labour é um nem, nem, que lhe tem custado muito votos. Só um referendo pode reverter o resultado do anterior. E mesmo que ele aconteça e o remain acabe por vencer, algo altamente improvável, ninguém espere que a sociedade britânica não continue rachada a metade (olhe-se para as sondagens onde os Tories+Brexit Party+UKIP chegam perto dos 50%, todos eles partidários de uma saída sem acordo).

Será que a UE quer mesmo conservar um membro poderoso em crise permanente?

A melhor solução será mesmo, do ponto de vista estritamente racional, uma saída negociada para que os britânicos possam dirimir as diferenças entre si.

Pode isso levar à independência da Escócia e à união das Irlandas, com violência à mistura, neste último caso? Pois pode, mas como no caso da Catalunha e mau grado eu gostar muito do RU na UE e unido, é preferível um divórcio a um mau casamento (um ou mais, neste caso)...

R. disse...

Sim, um referendo, agora que já perceberam do que se trata, expurgado dos espantalhos agitados pelos brexiters. Mas a minha preocupação não é a GB, unida ou fragmentada; a Inglaterra tem sempre saídas, mesmo que no início seja problemático. O meu receio é a Europa sem o equilíbrio que lhe dá a presença da Inglaterra.

Jaime Santos disse...

Hmmm, eu gosto muito da Inglaterra, e da Escócia (conheço bem a primeira, não conheço a segunda, mas conheço uns quantos escoceses e quem me dera que os ingleses fossem como eles) e gostava que eles permanecessem na UE para eu poder regressar lá quantas vezes quisesse. Mas só por isso...

Sobre a sua capacidade de servirem de contrapeso às ambições Franco-Alemãs, bem já não há eixo Paris-Berlim (curiosamente, a Alemanha tem hoje uma crise de identidade que é de certo modo pior do que a da França que tem andado de crise em crise desde Mitterrand), pelo que esse argumento perdeu a força.

O motivo da entrada do RU na então CEE foi a constatação de que o modelo estatista britânico estava em crise e que o RU estava a crescer mais devagar que o continente (não se percebe bem como Mitterrand não o estudou antes de decidir perder tempo com isso nos anos 80, para depois fazer marcha-à-ré, e não se percebe de todo porque Corbyn agora quer alinhar numa versão mitigada desse mesmo modelo, embora se perceba bem porque o BE e o PCP alinham). Mas Thatcher soube bem depois aproveitar a CEE e a UE para criar um mercado único (o que é ótimo) e para dividir a Europa :-) :

https://www.youtube.com/watch?v=37iHSwA1SwE

Eu sei, é sátira, mas com um bom grão de verdade... Lembre-se que o RU foi o principal impulsionador do alargamento a Leste, sendo que hoje os factos mostram claramente que Países como a Hungria, Roménia, Bulgária e Polónia não estavam preparados para entrar na UE (e provavelmente a Grécia também não estava).

Não sei por isso se iremos sentir assim tanto a falta do RU... A UE tem problemas que cheguem sem eles... Se eles saírem, podem dedicar-se a reparar a sociedade britânica, profundamente dividida. Se não saírem, continuarão a degladiar-se com isto e a consumir as suas energias e as da UE.

Bem entendido, a nossa diplomacia deve defender que eles devem ter todo o tempo do mundo para tomarem a decisão. Em bom Inglês, 'they will have for once to own their decision...'

R. disse...

Ah, o velho Sir Humphrey, que saudades...
O Franco Nogueira dizia que a Inglaterra estava na CEE para melhor a destruir. Desse ponto de vista, é ainda um erro a saída. Uma das coisas que me admirou foi a união dos restantes no que respeita ao Brexit.
A ausência do eixo Paris-Berlim, embora este fosse duvidoso, ainda me preocupa mais. Temos de estar atentos aos próximos capítulos. Da Itália parece que vêm sinais positivos, veremos por quanto tempo. A França está demasiadamente encalacrada com a grandeza passada, os problemas internos e o poder militar desproporcional que tem no contexto da União. Continuo a achar que para nós, Portugal e outros países secundários, era melhor ela lá continuar.

Jaime Santos disse...

Humphrey era claramente da escola de Franco Nogueira, está bem visto :) ...

Só que não creio que os Ingleses quisessem destruir a UE. Queriam apenas dividi-la para melhor se aproveitarem dela e simultaneamente satisfazerem o nacionalismo reaccionário e xenófobo da imprensa tablóide inglesa.

Cameron agora lamenta-se de que os únicos argumentos que utilizou para defender a permanência na UE fossem de cariz económico. Meu Deus, como poderia ter sido de outra forma se ele se içou ao poder dentro dos Tories recorrendo a uma retórica eurocéptica?

O mal dos britânicos é que, como sempre estiveram com um pé dentro e outro fora, nunca tiveram vontade de liderar a UE, coisa para a qual teriam sido excelentes.

Hoje em dia, custa a ver como nas negociações Barnier aparece sempre como o mais bem preparado e o mais capaz de sangue-frio (não como o idiota do Bettel, os luxemburgueses ainda se vão arrepender disto um dia mais tarde), de realismo e de ironia, todas aquelas qualidades que atribuímos aos britânicos...

Numa situação normal, claro que nós, pequenos e atlanticistas, beneficiaríamos da presença britânica. Só que, repito, isto não é uma situação normal, mas uma em que o RU está fracturado em duas partes iguais, que não desejam outra coisa que não dar uma lição uma à outra. E ambas têm, como é comum nas tragédias, a sua parte de razão...

O melhor que podemos desejar é um Brexit com acordo, que permita depois estabelecer pontes no futuro, quando os ingleses perceberem que o modelo de 'Singapore-on-the-Thames' de Johnson é detestável e se voltem a aproximar do continente. Mas até lá, o melhor é deixá-los sozinhos a lidar com os seus próprios problemas...

Bem entendido, no caso improvável de acabarem por fazer outro referendo que reverta o primeiro, têm todo o direito de ficarem... A decisão soberana é deles e só deles.

Só tenho muitas dúvidas que esse seja o melhor resultado...

R. disse...

A sua análise está bem informada, e não tenho grande coisa a acrescentar. Já tentei pôr-me na pele de um inglês para ver como votaria num referendo; mas para fazê-lo seriamente precisaria de ir estudar, por isso fico-me pela posição (aparentemente) egoísta de querê-los mais ao perto. Quanto ao RU, nada é eterno, não é verdade; e a bem dizer, os Windsors provêm directamente dos Stuarts, ou seja, dos reis escoceses. Ironias da História...

Jaime Santos disse...

Sim, Sua Graciosa Majestade Britânica tem mais legitimidade para reclamar o trono da Escócia do que o da Inglaterra.

Aliás, creio que se a Escócia optar pela independência, escolherá manter-se na união pessoal daquilo que conhecemos como os 'Commonwealth Realms'(mas note que a dinastia actual descende dos Hannovers e não dos Stuarts, que se extinguiram con a Rainha Ana)...

Ou talvez não, D. Luís aparentemente recusou o trono da Espanha provavelmente porque temia que o Reino de Portugal acabasse engolido pelo de Espanha...

R. disse...

Sim, mas foram buscar o Jorge Hannover porque a consorte era Stuart.

Quanto ao D. Luís, creio que sim. Aliás, ele, que ficou na história por ter reinado no maior período de paz e prosperidade do turbulento século XIX, nem estava virado para ser rei, não fora a morte prematura do irmão. A sua paixão era o mar, como sucedeu com o filho. Aliás, por causa desse gosto, instala-se em Cascais (onde viria a morrer), contribuindo para a regeneração da vila, muito afectada pelo Terramoto de 1755.

Jaime Santos disse...

Maria Filomena Mónica disse em tempos que Luís acabara por ser um Rei muito melhor que o puritano irmão, desde logo porque não tinha queda para interferir na política, coisa que pelos vistos D. Pedro tinha.

Mas também teve a sorte de ter reinado em tempos calmos. A crise do mapa cor-de-rosa, a bancarrota, a agitação republicana e a 'ditadura' de João Franco tornaram o reinado de D. Carlos bem mais difícil, culminando no regicídio. E as dívidas acumuladas pelo Reino foram uma política de todos os Governos Liberais, dos Cabrais, aos Regeneradores e aos Progressistas...

But we digress :) ...

R. disse...

É verdade, mas pobre D. carlos que levou com o Ultimato um mês ou pouco mais após chegar ao trono...