A ler o Machado de Assis, em puro gozo impúdico, como só o Eça e algum Camilo, nestes particulares de génio aliado à perfídia.
Estava, pois, a salivar em grande literatura numa boa edição brasileira de 1978, com a ortografia deles, e aquilo que antes me passava ao lado (cresci, como milhões de crianças portuguesas, com as revistas da Editora Abril, da Ebal, da Rio Gráfica), agora enerva-me, não por causa da ortografia que é naturalmente a brasileira, mas pela desfaçatez do Poder, que se arrogou a prerrogativa de torpedear a língua, minando-a ao serviço da estratégia da geopolítica dos fracos.
Não vou perorar: todos os que não são burocratas da língua, os que não lhe são indiferentes (no fundo, uma minoria de nós) e os que não têm complexos de esquerda festiva, que aceita pavlovianamente mudança bem ataviada de retórica -- esses poucos, convenhamos, sabem que não há acordo que alterem sintaxes em divergência ou uniformizem verosimilhança / verossimilhança ou dezasseis /dezesseis -- duas palavras com que tropecei no meu Dom Casmurro e que (malditos acordistas, malditos abortistas!) imperdoavelmente me desviaram a atenção do silencioso enleio Bentinho / Capitu.
1 comentário:
Muito bem.
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