Encarar como possibilidade a ocorrência primordial duma entidade que paira sobre nós, operosa, intervindo nas nossas vidas, dotada de vontade, e à qual nós devemos a ventura da existência, eis algo que para mim não só é inconcebível, como resulta da tão humana fragilidade carente de sentido e de amparo.
O grande milagre é termos chegado aqui, sem sabermos ler nem escrever, à real mas não menos presunçosa condição de sapiens, fruto de acasos que se combinaram, desenvolveram e evoluíram necessariamente, até tomarmos consciência de nós: em relação ao universo, primeiro; do nosso próprio mundo interior enquanto indivíduos, depois.
Que esta minha verificação não exclua uma dimensão metafísica, mas não sobrenatural, é uma evidência que seria dispensável enunciar.
(a propósito de um debate, ontem, no Clube de Leitura do Museu Ferreira de Castro)
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