terça-feira, setembro 03, 2013

Antologia Improvável -- Júlio Evangelista

ARRÁBIDA

O vento bate na face
De quem sobe àquela serra.
Vento que por ali erra
Bate na face a quem passe
Perto do cimo da serra.

Bate forte, o vento forte,
Chicoteando com força,
Ao vir das bandas do norte,
Chicoteando com força,
Dono da serra e da morte.

Consente, vento, que eu passe
Pelo alto desta serra
E não me batas na face
Porque, se mais não bastasse,
Basta eu ser da tua terra.

Não grites assim tão forte
Nem te exaltes contra mim,
Porque eu também sou do norte:
Donde tu vens, também vim,
Vento que ventas do norte.

Venho ver frei Agostinho;
Trazer ao Frade saudades
Das verdes terras do Minho:
Venho falar de saudades
Com o Poeta Agostinho.

Morreu o Sebastião
Que lhe falava, falava,
Das coisas do coração.
E o frade está desolado
Era quase como um irmão!...

Ele mora ali em cima
E a conversa não demora.
Venho falar-lhe do Lima,
Venho falar-lhe de Ponte,
E outras coisas que ele ignora.

Regresso depois ao Minho,
Vento que sopras do norte
E guardas Frei Agostinho.
Se um dia quiser recados,
Traze-los tu, vento norte?


Arrábida, 8/3/53


António Mateus Vilhena e Daniel Pires,
A Serra da Arrábida na Poesia Portuguesa

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