quarta-feira, setembro 04, 2013

já agora, sobre o piropo

Preferia que se distinguisse o piropo do assédio verbal. Em primeiro lugar, porque piropo é uma palavra  gira e boa de se dizer; depois porque num jogo de sedução (passe a banalidade) entre dois adultos, o piropo é mais do que inevitável. Isto não tem nada que ver com a boca dos andaimes ou das portas da tabernas. Nem se lhe deve chamar piropo, mas agressão ou assédio verbal. Lastimável de boçalidade quando atirado a uma mulher adulta, qualquer coisa como um arroto; altamente condenável se se tratar duma adolescente, e deveria ser criminalizável, quando a javardice recaísse numa criança. Isto não é piropo, é agressão, e intolerável.

Sem querer fazer sociologia barata, trata-se em grande parte dum efeito da terrível condição da generalidade dos portugueses: primitivos, rústicos, incivis, consequência da sua secular condição servil e subalterna, pela ausência de um mínimo de educação e condições de vida, assim era o país até 1974. Esta realidade não se altera em uma geração: 40 anos depois do 25 de Abril, a paisagem dominante já não é de trolhas, criadas de servir e trabalhadores rurais; mas eles aí estão, e os filhos que pariram e que, em muitos casos, não souberam (não podiam saber) formar -- agora com os últimos gadgets, muitos com passagem pela universidade, mas sem ponta por onde se lhes pegue. Basta ver a preeminência dos futebóis e todas as merdinhas que lhes estão associadas, ou a quantidade de gente que vive a vida dos outros nesses pasquins ditos cor-de-rosa; basta ver a falta de qualidade dos nossos canais noticiosos, supostamente destinados a uma elite. O vulgar, o brejeiro são ainda a nossa realidade quotidiana. Outra coisa, só por milagre.