o meu sangue correu pelo atlântico
entre barcos negreiros de costa a costa
e companhias de navegação entre o norte e o sul
e do sul para o norte
há no meu sangue alguém subtraído
aos pais aos filhos ao amor da terra
capturado por tribo inimiga
prisioneiro de guerra
ou de cilada armada
um negro
robusto que bastasse para sobreviver à travessia do atlântico
grilhetas nos pulsos nos tornozelos no pescoço e na alma
ou uma negra
da costa dos escravos ao mercado da baía
ou de qualquer parte do brasil onde se vendesse gente como
[mercadoria
o meu sangue negro perde-se numa noite secular
até um português do meu sangue branco (branco?)
trazer uma bisavó mulata com sua mãe liberta
a bisavó que hasteava a ordem&progresso à varanda
quando se pilhava e matava na lisboa republicana
áfrica américa europa américa europa
o meu sangue fez o triângulo do mar
sábado, janeiro 29, 2011
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4 comentários:
podia pôr seu nome...sei lá.
podia, mas já cá está...
Belo! Belo! Este poeta saiu de um quilombo, lídimo filho da nação Ioruba.
Vieram-me à memória Francisco Félix de Sousa, vice-rei de Ajudá, e o Fradique Mendes da "Nação Crioula", senhor de engenho e abolicionista.
Depois de dois capítulos de Agustina, nada melhor do que esta genealogia para descontrair. Venha a número 3.
Grande generosidade a sua, Manel!
um abraço
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