quarta-feira, setembro 30, 2009

Antologia Improvável #401 - Cecília Meireles (5)

APRESENTAÇÃO

Aqui está minha vida -- esta areia tão clara
com desenhos de andar dedicados ao vento.

Aqui está minha voz -- esta concha vazia,
sombra de som curtindo o seu próprio lamento.

Aqui está minha dor -- este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.

Aqui está a minha herança -- este mar solitário
que de um lado era amor e, do outro, esquecimento.


Retrato Natural / Antologia Poética

4 comentários:

Teresa Santos disse...

Que vida tão sofrida, a desta Mulher.
Na sua biografia podem ler-se estas palavras escritas pelo seu punho:
"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno." in, Wikipedia.

Esta morte prematura dos pais marcaram-na profundamente, fazendo dela um ser solitário, alguém para quem o efémero e o eterno formam como que uma simbiose.

Ricardo António Alves disse...

É verdade, Teresa. Na sua poesia há esse espectro que parece nunca a largar.

Ana Paula Sena disse...

Alguém capaz de dizer o belo.

Adoro a aparente simplicidade. Tão cativante!

Ricardo António Alves disse...

Essa aparente simplicidade, como muito bem diz, é a dos grandes autores.