segunda-feira, agosto 03, 2009

Antologia Improvável #392 - David Mourão-Ferreira

SERENATA DO ADOLESCENTE

Que doentia claridade
a que me invade e me obsidia,
durante a noite e à luz da tarde,
à luz da tarde, à luz do dia!
Que doentia aquela grade
de insone e ténue claridade,
sob a avançada gelosia!

Passo na rua e nada vejo
senão a luz, a luz e a grade.
Ó lamparina do desejo,
porque ardes tu, até tão tarde?
E às vezes surge, entre a cortina,
aquela sombra vespertina
que me retém nesta ansiedade.

Se tens trint'anos? ou cinquenta?
Quis lá saber a tua idade!
Sei que em meus olhos se impacienta
fome da luz daquela grade!
Sei que sou novo, e que me odeio
porque me tarda -- ante o teu seio --
queimar tão pobre mocidade!


Os Quatro Cantos do Tempo

2 comentários:

vieira calado disse...

Um gosto clássico.

Bem escrito.

Gostei.

Um abraço

Ricardo António Alves disse...

Clássico é a palavra para o David M-F.
Um abraço também.