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Quando se trata de banda desenhada de inspiração histórica, a tradição nacional tem sido a de cair num didactismo a causar sempre grandes entraves à fluência narrativa. Este livro de Cotrim e Rocha é algo completamente diferente: é um ensaio sobre a personagem Salazar na sua circunstância de governante solitário e todo-poderoso.
A visão é crítica, naturalmente, mas sem proclamações nem vociferações; pelo contrário, a obra é atravessada por uma densa melancolia -- no fundo a melancolia de um país em luto permanente.
Atmosfera angustiosa, portanto, em que o magistral tratamento de imagem de Miguel Rocha serve na perfeição a narrativa de João Paulo Cotrim, que fez a opção pelos momentos-chave do percurso do ditador e as ideias-força da sua actuação política.
Este Salazar, agora na hora do seu ressurgimento mediático, sendo uma obra maior dos quadradinhos portugueses (ou da nona arte, se preferirem), acaba por extravasá-la, tornando-se, pelo seu altíssimo nível, uma referência bibliográfica na interpretação do salazarismo.
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