domingo, outubro 05, 2025

o que está a acontecer

«Entrava em pormenores, Margarida ouvia-o agora vagamente distraída, de cabeça voltada às nuvens, como quem tem uma coisa que incomoda no pescoço, um mau jeito. O cabelo, um pouco solto, ficava com toda a luz da lâmpada defronte, de maneira que a testa reflectia o vaivém da sombra ao vento.» Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal (1944)

«Berenice silenciara-se também, nesse recanto deserto da popa do transatlântico: -- angustiada pela dor da partida: -- da partida do seu amante para um mundo que ela ignorava: -- e que só entrevia através duma neblina colorida, onde os seres e as coisas se revestiam de esplendores estranhos.» Eduardo Frias e Ferreira de Castro, A Boca da Esfinge (1924)

«I.A Primeira Operação / 1. Um comando não tem fome nem sede... Finalmente veio a ordem desejada, murmurada no passa-palavra, da frente para a retaguarda da companhia de comandos: / -- Parar para almoçar, meia hora, a última equipa monta segurança.» Carlos Vale Ferraz, Nó Cego (1983)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«No seu termo, existia uma quinta, recentemente propriedade da casa de Sabugosa, conhecida com o nome de Quinta de Camões. Mas não admira. Não foi Vasco Perez de Camões alcaide de Alenquer nas lutas e regência de D. Leonor? A identidade do nome, se bem que o patronímico Camões seja mais raro que Almeida, Albuquerque, e tantos do armorial, não tem significação entre nós. Se todos os Castros se prevalecessem de remontar a D. Inês, teríamos os nobiliários atulhados de criados de servir, escravos, e até remeiros das galés. A onomástica, por via de regra, fica neutral. De resto, podia haver, como há hoje, ainda para os nomes mais exclusivos, os ramos pobres, entroncados, e é muito provável em face do desamparo em que o poeta viveu dos seus e, salvo tenuíssimos vestígios, de qualquer apoio útil de fidalgos, que isso se desse com os Vaz de Camões, domiciliados à Mouraria.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)