segunda-feira, agosto 30, 2021
domingo, agosto 29, 2021
sábado, agosto 28, 2021
quinta-feira, agosto 26, 2021
Afeganistão: os aliados de calças na mão e sem tempo para pensar -- ou a não-discriminação selectiva
O que se assiste no Afeganistão é inominável. Não que houvesse grande ilusões, quanto ao desfecho, mas à forma como os Estados Unidos deixaram os seus aliados, para não falar com os afegãos, com as calças na mão. As declarações do G7 são patéticas, ridículas e só demonstram medo e impotência. É bem feito para estes mesmos aliados que, como diz Putin, muitas vezes com razão, se comportam menos como aliados e mais como vassalos, a começar por Portugal (veja-se como fomos obrigados a reconhecer a "independência" -- piada amarga -- do Kosovo).
Vamos tentar resgatar cento e poucas pessoas, a cinco dias do prazo que os talibãs deram aos Estados Unidos e aliados. (Se não estamos no domínio do improviso, do remendo, do desenrasca, de que tanto gostamos, o que vem a a ser isto?).
Fez-me confusão saber que no caso português estão contempladas as mulheres dos colaboradores dos portugueses, mas apenas uma; quando houver mais -- porque no islão, um homem pode ter mais de uma mulher -- alguma terá de ficar para trás. E como será? Tira-se à sorte? E os filhos de cada uma? Então não é este governo tão defensor de direitos básicos e essenciais de não discriminação? E anuncia que se desemerdem os afegão que trabalharam para nós que têm o azar de ter uma família composta por mais de uma mulher? Como é?, a não descriminação é só para os que têm os nossos padrões?
domingo, agosto 22, 2021
A. J. Saraiva (4), «De Alfonso X, o Sábio a D. Dinis»
«De Alfonso X, o Sábio, a D. Dinis», o capítulo inicial, pp. 15-22 ocupa 6,5% do total. O primeiro subcapítulo versa sobre "Os cancioneiros e a lírica jogralesca" (16-22). A poesia trovadoresca, uma adaptação em boa parte do lirismo provençal casado com o cancioneiro primitivo galaico-português, de que resultaram as célebres "cantigas" (de amigo, de amor, de escárnio e de mal-dizer), realçando os três níveis, consoante a densidade: do ambiente rural ao cortês, passando pelo doméstico; ou da "tradição oral" ingénua e campesina à "invenção literária" propriamente dita, à "dialéctica dos sentimentos" em meio palaciano.
Os autores referidos: Afonso X o Sábio, D. Dinis, Airas Nunes de Santiago. Os títulos: Cantigas de Santa Maria, Cancioneiro da Ajuda. Conexões: Dante, Petrarca, Bernardim Ribeiro (Menina e Moça).
"A épica jogralesca" (16-23). Trata das façanhas de Afonso Henriques, gesta vertida para prosa na 3.ª Crónica Breve de Santa Cruz de Coimbra e a Crónica General de Espanha de 1344, cujo original, perdido, foi escrito em português: «O ciclo épico em torno de Afonso Henriques apresenta-nos um herói bravio e instintivo, verdadeira encarnação da nobreza guerreira do século XII, em luta com os Leoneses, o clero e com os Árabes.»
Conexões: Cantar de Mío Cid e Lendas e Narrativas (Alexandre Herculano).
"O romance de cavalaria" (23-25). As traduções do Ciclo da Bretanha, Demanda do Santo Graal, O Livro de José de Arimateia, (séc. XIII) ou a História de Barlão e Josafate, baseado na vida de Buda, cuja tradução portuguesa se fez em Alcobaça, abrem caminho para um romance como o Amadis de Gaula, cujo original em português se perdeu, cuja autoria foi atribuída por Zurara ao trovador Vasco de Lobeira [entretanto, a atribuição já passou para um outro, chamado João Pires de Lobeira].
Conexões: Cervantes, Dom Quixote.
sexta-feira, agosto 20, 2021
terça-feira, agosto 17, 2021
um passeio com A. J. Saraiva (3)
Afonso VI de Leão |
Citação: «[...] como o mostra a lamentação citada de Afonso VI, quando se formou o reino de Portugal já o Noroeste da Península constituía um espaço linguístico, o domínio do galego-português como língua materna.»
segunda-feira, agosto 16, 2021
domingo, agosto 15, 2021
um passeio com A. J. Saraiva (2)
A propósito do título, este pequeno livro de 172 páginas vem substitui um outro da célebre «Colecção Saber», da Europa-América (muito suportada para os títulos estrangeiros na célebre «Que sais-je?», da PUF), a breve História da Literatura Portuguesa, que gostaria de ter à mão para ver as balizas. Iniciação é um título que dá liberdade ao autor, permitindo-lhe um grau maior de liberdade e subjectividade que o substantivo História denega. Mantenho, no entanto, que é sempre arriscadíssimo entrar pelo nosso tempo adentro, sem fugir às antipatias, ajustes de contas, sem falhar. Por isso, se o autor tivesse parado ao fim de dois terços do XIII e último capítulo, sustendo-se por pelos autores a que se refere nascidos em torno de 1900, Ferreira de Castro, Vitorino Nemésio, José Rodrigues Miguéis e José Régio -- os quatro maiores da sua geração no romance (Castro), poesia (Nemésio), conto e novela (Miguéis) e ensaio (Régio) --, a obra estaria "imaculada".* A alteração realizada (que diz o autor não ser meramente uma mudança de título) o que se compreende, atendendo à evolução do seu pensamento) permite, pois, a liberdade de dizer que numa súmula da literatura portuguesa, o iniciado deverá "forçosamente" ler os autores referidos, mesmo salvaguardando, como o faz para o século XX o mais extenso dos capítulos, que é impossível referir todos os autores de valor. Mas há sempre uma escolha, e neste particular, é curioso ver que foi eliminado. Destas ausências, haverá umas que percebo e outras que não. E há ainda as que me divertem, concordando ou não.
* Nemésio, não sendo o maior romancista da sua geração, é autor do melhor romance da literatura portuguesa já lido por mim, e não sou o único a ter esta opinião, e era um ensaísta genial. Régio, não sendo o maior poeta da sua geração, é grande em todas as áreas em que trabalhou.
sábado, agosto 14, 2021
Um passeio com A. J. Saraiva (1)
Como se não tivera nada mais para fazer, fui interpelado por este resumo brilhante, que vai até aos "novíssimos" seus contemporâneos. Estava tentado a dizer que ele se espalha no século XX, em que deveria ter ficado pelo Ferreira de Castro, o José Régio, etc. Mas não. Ele não se espalha efectivamente -- a não ser no neo-realismo, de que foi uma das cabeças de cartaz; mas ele faz uma escolha, e assume-a, mesmo ressalvando o que de bom fica de fora.
É um livrinho esplêndido, e vou passar o resto das férias a passear com ele por aqui, a fazer aquelas continhas de que gosto.
sexta-feira, agosto 13, 2021
Saigão, 1975
Foi o que me veio à cabeça, perante a debandada de Cabul.
Quem deve estar apreensiva é a China, que tem fronteira a oeste com o país dos talibãs. Estes vão ser racionais e moderados pelo Paquistão, uma vez que os chineses não vão tolerar o mínimo de desestabilização na província de maiorias islâmica. E é possível que depois de três impérios terem de fugir desde o século XIX, o britânico, o soviético e o americano, a China já pensasse trinta vezes em cada uma das possibilidades que se lhe podem oferecer.
quinta-feira, agosto 12, 2021
terça-feira, agosto 10, 2021
o populismo não pensa
Uma jovem estudante de artes francesa escreveu uma frase na base do Padrão dos Descobrimentos que, não estando totalmente errada -- “Blindly sailing for monney, humanity is drowning in a scarllet sea” --, está muito longe da realidade. Os Descobrimentos foram muito mais do que pilhagem e barbárie.
Obviamente que isto não é matéria para amadores, mas para historiadores, e sérios. Porque os há vigaristas ou ideologicamente cegos. A jovem, coitada, é jovem, não tem culpa de ser ignorante, tem toda a desculpa ao contrário daqueles que se põem em biquinhos de pés.
O episódio deveria ser ignorado, é uma manifestação da ligeireza e idiotice das "redes sociais", mas é impossível neste tempo de trincheiras -- um tempo que acho especialmente interessante para chamar nomes aos bois -- olhar com o distanciamento que a seriedade impõe.
O populismo e a vigarice à esquerda incomodam-me, pois ainda vou considerando a esquerda o meu campo, apesar de estar difícil. Por isso exulto ao ler uma entrevista de um homem que é um artista e não historiador, Rodrigo Francisco, ir para além da banalidade, do lugar-comum, da banalidade, no que respeita à forma como aborda a Guerra Colonial, o fenómeno dos retornados ou os militares que fizeram a guerra -- uma guerra criminosa, note-se, sob qualquer ponto de vista.
domingo, agosto 08, 2021
caracteres móveis
«É um amálgama de realidade e pesadelo, trapos de nuvens e palácios desmedidos.»*
«Mas Henrique de Souselas -- que era este o nome do cavaleiro -- fora educado e passara da infância à plena juventude, em Lisboa, levantando-se por avançada manhã, frequentando o teatro, o Grémio, as câmaras, parolando no Chiado ou no Rossio, e indo alguns dias do ano a Sintra, ou a qualquer praia de banhos, desenfadar-se da monotonia da capital.»**
«Mas Luísa, a Luisinha, saiu muito boa dona de casa: tinha cuidados muito simpáticos nos seus arranjos; era asseada, alegre como um passarinho, como um passarinho amiga do ninho e das carícias do macho: e aquele serzinho louro e meigo, veio dar à sua casa um encanto sério.»***
*Raul Brandão, A Farsa (1903)
** Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)
*** Eça de Queirós, O Primo Basílio (1878)
quinta-feira, agosto 05, 2021
quarta-feira, agosto 04, 2021
caracteres móveis
«Aqui está um campino fumando gravemente o seu cigarro de papel que me vai emprestar lume.» *
«Eurico era uma destas almas ricas de sublime poesia a que o mundo deu o nome de imaginações desregradas, porque não é para o mundo entendê-las.» **
«Há momentos em que um escritor público se vê forçado a corar.» ***
* Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra (1846)
** Alexandre Herculano, Eurico o Presbítero (1844)
*** Camilo Castelo Branco, A Filha do Arcediago (1854)