terça-feira, julho 31, 2018

«Nesse dia, a 6 de Janeiro, o que mettait en émotion tout le populaire de Paris, como diz Jehan de Troyes, era a dupla solenidade dos Reis e da festa dos Loucos, celebradas juntamente desde tempos imemoriais.» Victor Hugo, Nossa Senhora de Paris (1831) (trad. Jorge Reis)

«Surpreendidos pelo aguaceiro, os espectadores dispersos pela escadaria regressavam ao vestíbulo, rindo e empurrando os que como sardinha em lata se chamavam em altos berros por entre os ombros nus, rodeados por uma chuva que se detinha no berçário dos toldos, para desabar, a potes, sobre os degraus de granito.» Alejo Carpentier, A Perseguição (1956) (trad. Margarida Santiago)

«Tapada a sepultura, Rollo Martins afastou-se ràpidamente a largos passos das suas compridas pernas de aranha, enquanto pelo seu rosto de homem de trinta e cinco anos deslizavam lágrimas de criança.» Graham Greene, O Terceiro Homem (1949) (trad. Baptista de Carvalho)


segunda-feira, julho 30, 2018

CCCXXVI - Heinrich Lossow


Leda e o Cisne

domingo, julho 29, 2018

«If I Ever Recall Your Face»

Van The Man

Um dos que tinha de ver quando por cá passasse; e este  foi muito perto de chez moi.


sexta-feira, julho 27, 2018

«Com os remos a chapejarem surdamente, cautelosos como os dos ladrões, nas proas um ruído fino, menor ainda que os dos botos cortando a tona da água, as canoas meteram a terra.» Ferreira de Castro, O Instinto Supremo (1968)

«E a chuva começa, o ruído doce da chuva que faz sonhar em tantas coisas idas e tristes!» Raul Brandão, Os Pobres (1906)

«Era em Julho, um domingo; fazia um grande calor; as duas janelas estavam cerradas, mas sentia-se fora o sol faiscar nas vidraças, escaldar a pedra da varanda; havia o silêncio recolhido e sonolento de manhã de missa; uma vaga quebreira amolentava, trazia desejos de sestas, ou de sombras fofas debaixo de arvoredos, no campo, ao pé da água; nas duas gaiolas, entre bambinelas de cretone azulado, os canários dormiam; um zumbido monótono de moscas arrastava-se por cima da mesa, pousava no fundo das chávenas sobre o açúcar mal derretido, enchia toda a sala de um rumor dormente.» Eça de Queirós, O Primo Basílio (1878)

«Swing That Music»

quinta-feira, julho 26, 2018

o activismo da idiotia, ou a História pensada como 'talkshow'

Chamaram-me a atenção para uma entrevista de Nicholas Mirzoeff, um activista visual. Nem tudo o que o homem diz é estúpido, por certo. Faz-me, no entanto, lembrar a conversa  do Marcelo Caetano, creio, para um aluno que lhe apresentara uma tese, e em relação à qual o professor terá dito: "a sua tese tem coisas boas e originais; as que são originais não são boas e as que são boas não são originais."
Assim a conversa do activista, que, em relação ao que lhe será original, provoca mais do que um simples esgar de enjoo: a evidência da propagação, já não dos "conhecimentos úteis", como queriam as sociedades operárias do século XIX, mas do insidioso e mais do que larvar pensamento totalitário.   
«A corda tensa que eu sou, / o Senhor Deus é quem / a faz vibrar...» Sebastião da Gama, Serra-Mãe (1945

Por enquanto mais nada, senão / o torvo tinir dos talheres / no banquete da morte impossível.» Rui Knopfli, «Lírica para uma ave», O País dos Outros (1959)

«Uma rapariga tem sempre a sua música / leva o dinheiro apertado num saco bordado / o retrato da amada na outra mão.» João Miguel Fernandes Jorge, O Regresso dos Remadores (1982)

terça-feira, julho 24, 2018

criadores & criatura

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Jean-Michel Charlier, Victor Hubinon e Barbe Rouge / Barba Ruiva

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«Os homens se apertavam nos bancos, suados, os olhos puxados para o tablado onde o negro Antônio Balduíno lutava com Ergin, o alemão.» Jorge Amado, Jubiabá (1935)

«Um silêncio súbito, silêncio da terra.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)

«Estes ensinamentos foram-me inoculados sem especial zelo pela minha família, transmitidos quase como um ruído de fundo que acaba por se integrar no nosso pensamento, o rumor que se ouve quando tudo está em silêncio.» Bruno Vieira Amaral, As Primeiras Coisas (2013)

segunda-feira, julho 23, 2018

domingo, julho 22, 2018

«Promovido a oficial, Giovanni Drogo deixou a cidade numa manhã de Setembro para se dirigir à Fortaleza Bastiani, seu primeiro destino.» Dino Buzzati, O Deserto dos Tártaros (1940) (trad. Margarida Periquito)

«Havia algo numa quermesse que atraía irresistivelmente Arthur Rowe, que o tornava vítima indefesa das longínquas estridências de uma banda de música e do entrechocar dos cocos com as bolas de madeira.» Graham Greene, Ministério do Medo (1943) (trad. Marília de Vasconcelos)

«Era um velho que pescava sòzinho na Corrente do Golfo, e saíra havia já por oitenta e quatro dias sem apanhar um peixe.» Ernest Hemingway, O Velho e o Mar (1952) (trad. Jorge de Sena) 

12 sinfonias: 6. Tchaikovsky, Sinfonia #4 (1878) - 1. Andante sostenuto. Moderato con anima

estampa CCCXXV - George Clausen


Estudante (1889)

sábado, julho 21, 2018

4x4



Herdeiro sem honraria
Casa, bens materiais,
Eu por nada trocaria
O legado de meus pais.
                               
                                    José Correia Tavares

Ó mães de fala amorosa,
Arrulhos do nosso ninho,
Dai-nos bênção piedosa,
Que nos proteja o caminho!

                                           Júlio Brandão

Peço às altas competências
perdão, porque mal sei ler,
p'ra aquelas deficiências
que os meus versos possam ter.

                                                 António Aleixo

Cantigas de portugueses
São como barcos no mar --
Vão de uma alma para outra
Com riscos de naufragar.
                             Fernando Pessoa

sexta-feira, julho 20, 2018

«Carry On»

«Quem tem janelas / que fique a espiar o mundo» Francisco Alvim, «Com ansiedade», in Heloisa Buarque de Hollanda, 26 Poetas Hoje (1975)

«Ela, a pequenina infância, andará aí sentada com / um velho nas nádegas e / o crucifixo saltando no pescoço, a negra mão do talismã / buscando o brinquedo na vitrina / já contemplado.» José Emílio-Nelson , O Anjo Relicário (1999).

«Um torpe e estafado gramofone / cansou os meus ouvidos que queriam / agudezas de vértice de cone / ou maciezas de novelo de lã.» Saul Dias, ...Mais e Mais... (1932)

«Innocent Travels»

quinta-feira, julho 19, 2018

estampa CCCXXIV - Natalia Gontcharova


Colunas de Sal (1908)

estou a ler


«Pela falaceira do "Lagarto" soubemos, porém, que a parte central de Lisboa estava ocupada por densas forças; Chiado abaixo passavam, a todo o momento, camionetas transportando guardas-republicanos e, de quando em quando, descia da Avenida da Liberdade pesado tanque, com atitude de anfíbio cauteloso.» Ferreira de Castro, O Intervalo (póstumo, 1974)

«Com o sol a pino, ardendo por cima das árvores sem folhas, os soldados, atrás uns dos outros, na "bicha de pirilau", viam à sua frente apenas dois ou três homens da companhia de comandos e sentiam os passos dos que os seguiam, afastavam os ramos carregados de espinhos que lhes rasgavam os camuflados e a pele.» Carlos Vale Ferraz, Nó Cego (1983)

«"Há muito mais", disse Austin, "havia um amigo da família que tinha o Rato Mickey tatuado no peito e que pedia ao rapaz para bater na tatuagem, bate com força, com mais força, agora uma esquerda, agora uma direita, mete um crochet, mete um uppercut.» Dinis Machado, O que Diz Molero (1977)

quarta-feira, julho 18, 2018

«Asimbonanga»

cacarejos sobre a cimeira Putin-Trump

No meio do cacarejar geral, ainda não li ou ouvi nada a respeito da declaração de Putin e Trump sobre a necessidade da defesa do estado de Israel. Declaração que se conjuga  com a questão da Palestina e, mais premente ainda, o problema do Irão. Putin poderá ser essencial para travar os ímpetos belicistas da administração americana e do seu instável presidente e do governo de Netanyahu, pois é no Médio Oriente que se joga a segurança mundial, muito mais do que nas Coreias. Enfim, coisas de somenos; o que interessa é o folclore do Trump e a nada inocente diabolização do Putin, mais do que suficiente para desviar as atenções do essencial.

terça-feira, julho 17, 2018

segunda-feira, julho 16, 2018

«Supervixen»

ainda os Descobrimentos: os historiadores, os activistas e os outros

Só historiadores dum tempo relativamente longo e complexo, que compreende os séculos XIV, XV e XVI, estão habilitados a aspirar ver todo o quadro em que se processou a navegação e conquista dos portugueses, ou seja o que designamos por Descobrimentos e Expansão; são os que põem as mãos na massa dos arquivos, dos documentos, dos livros quem tem em cima da mesa as questões políticas, económicas, sociais, culturais, mentais, científicas, geopolíticas, e por aí fora. O resto é opinião.

Sobre a questão interessa-me saber o que pensa, por exemplo, Luís Filipe Thomaz (não sei se já se pronunciou sobre o assunto); já o que defende Fernando Rosas (que, aliás, fez um extraordinário programa sobre o colonialismo português, que elogiei aqui), é, para o caso, irrelevante.

Uma das tácticas dos activistas consiste em amalgamar os que se opõem ou manifestam reservas à eliminação da palavra Descobrimentos naquele período histórico como um conjunto de indivíduos que têm uma visão glorificadora da História. Daí à sugestão subliminar de nacionalismo ou protofascismo vai um passo. Ora bem, é preciso desmontar essa vigarice intelectual

A historiografia não se compadece com activismo, para o qual, o rigor é um detalhe. Por isso a embrulhada a que recorrem, uns propositadamente, outros por psitacismo, trazendo à liça o império colonial e outros anacronismos e distorções.

No fundo, trata-se de um debate desigual: por um lado, os que pensam a História; do outro, as palavras-de-ordem, a ideologia, as estruturas mentais semelhantes àqueles que procuram censurar ou reescrever os livros do Mark Twain, nos Estados Unidos, ou do Monteiro Lobato, no Brasil. Em suma, o politicamente correcto, designação que tanto os irrita.

(Acrescentando ao que já escrevi):

sábado, julho 14, 2018

12 sinfonias: 6. Bruckner Sinfonia #4 (1874) - 1. Bewegt, nicht zu schnell

«Para o fim do Verão daquele ano vivíamos numa aldeia que, para lá do rio e das planície, confrontava as montanhas.» Ernest Hemingway, O Adeus às Armas (1929) (trad. Adolfo Casais Monteiro)

«Era um prazer muito especial ver as coisas arderem, vê-las calcinar-se e mudar.» Ray Bradbury, Fahrenheit 451 (1953) (trad. Mário-Henrique Leiria)

«Uma história não tem princípio ou fim: escolhemos arbitrariamente um momento da experiência, de onde olhar para trás, ou olhar para diante.» Graham Greene, O Fim da Aventura (1951) (trad. Jorge de Sena)

sexta-feira, julho 13, 2018

estampa CCCXXII - Ferdinand Hodler


Auto-Retrato (1891)

«Blueberry Hill»

ela tem o toque

O David Byrne pertence àquela estirpe de músicos que não anda cá para ver passar os comboios. E ontem viu-se, talvez até alguns dos que andavam por lá em maré de nostalgias. Ele e mais uma dúzia de instrumentistas extraordinários fizeram um concerto memorável, com um espectáculo de palco contido na parafernália luminotécnica, porém de assinalável mestria; bastava a energia exuberante de cada um dos elementos em palco, a começar por Byrne, nos seus 65.
Muito mais nova é, Sara Tavares, mas com tanto já dito e feito. A música dela é a sério


À chegada, porém, a verdadeira surpresa: Jéssica Pina. Na trompete ou no fliscórnio, ela tem o toque.



E um grande obrigado ao Observador pela foto, minha e da Teresa, a acompanhar a Jéssica Pina:


quinta-feira, julho 12, 2018

terça-feira, julho 10, 2018

tudo bem feito


Chris Roy Taylor

«I'm So Glad»



(1968)


(2005)

segunda-feira, julho 09, 2018

estampa CCCXXII - Eastman Johnson


Mulher Lendo (1874)

sexta-feira, julho 06, 2018

quinta-feira, julho 05, 2018

criador & criaturas


Jean Roba e Boule & Bill


quarta-feira, julho 04, 2018

"Não sei o teu nome para além"

Não sei o teu nome para além
De árvore podes ser carvalho
Olmo ou choupo bravio pinheiro torcido
Pelo vento atlântico causticado sobreiro
pelo suão há entre nós um destino
comum: sou só porque existes.

50 discos: 1. LOUIS ARMSTRONG PLAYS W. C. HANDY, (1954) - #6 «Memphis Blues»



terça-feira, julho 03, 2018

estampa CCCXXI - Arthur Fischer



Ninfa e Sátiro (1900)


segunda-feira, julho 02, 2018

lido


«As coisas são a sua morada / e há entre mim e mim um escuro limbo / mas é nessa disjunção o istmo da poesia / com suas grutas sinfónicas / no mar.»     Sebastião Alba, «Como os outros», A Noite Dividida (1996)

«A tarde cai, por demais / Erma, úmida e silente...»     Manuel Bandeira, «Cartas de meu avô», A Cinza das Horas (1917) / Os Mehores Poemas de Manuel Bandeira (1984)

«Na suave trepidação das ruas / mansamente tocado pelo vento de Janeiro / penso que tudo vale mais do que qualquer palavra.»     Fernando Cabrita, «Na suave trepidação das ruas», O Portão das Colinas do Nada (Poemas da Cidade de Londres) (1988)