Quem ande por aqui saberá que nunca simpatizei com Soares. Sempre me pareceu um homem de corte e demasiado sensível à lisonja. Também nenhum político em Portugal, depois do 25 de Abril, foi tão adulado quanto ele, na política e no jornalismo, por essa categorial assaz desprezível de criaturas a que os brasileiros dão o bem apanhado nome de puxa-saco.
Voltando a Soares, com quem estive pessoalmente algumas vezes, a primeira das quais era eu um adolescente parecido com o homem de meia-idade que sou hoje. Soares candidatava-se de novo a governante, à frente do PS, e queria ouvir os jovens, Lá fui a Nafarros, com o meu amigo e colega do Liceu de S. João do Estoril Paulo Campos, que por essa altura já transpirava política por todos os poros, Éramos cerca de dez, e eu fui fazer o papel do extremista da esquerda (pelo menos foi assim que fui entendido por uma jornalista presente, sabe-se lá porquê...). Soares e Maria Barroso, impecáveis, de enorme afabilidade e bonomia. Podia falar também das restantes três ou quatro vezes em que o encontrei, já no meu âmbito profissional, mas não tem grande interesse.
O que me importa escrever, neste dia da sua morte, é que Soares, nas grandes linhas que definem a acção dum político, esteve sempre do lado certo da História, desde a juventude:
1. - na segunda metade da década de quarenta, jovem comunista, contra Salazar no MUD Juvenil e na candidatura de Norton de Matos;
2, - na luta contra o colonialismo português -- criminoso, como todos os colonialismos -- liderando, de resto, o processo de descolonização. A extrema-direita e os ressentidos do costume, que o vituperaram por causa da descolonização a que ironicamente chamaram exemplar, não tiveram nem têm a honestidade intelectual e/ou os dedos de testa suficientes para analisarem o momento histórico particular, interna e externamente, que o país e as colónias atravessavam. Isto para dizer que ninguém, poderia ter feito melhor do que ele e outros fizeram;
3. - no enfrentamento do sovietismo 'comunista' da miséria moral, dos candidatos a apparatchiks ou a polícia ou bufo, que sempre os houve em todos os regimes, e também a uns tipos cheios de acne revolucionário, que quarenta anos depois não passam de -- usando a boa linguagem da época -- serventuários do capital;
4. . finalmente, e já não é pouco: a liderança no processo de adesão à CEE, fundamental para a nossa liberdade política (ameaçada pelos sovietizantes, e inevitáveis oportunistas e idiotas úteis), e também para recuperarmos do atraso que quarenta anos de salazarismo nos deixou, cujos efeitos ainda hoje se fazem sentir na sociedade, com o seu baixíssimo nivel médio de instrução e sentido crítico, a começar pelas chamadas élites, políticas, académicas & outras.
2 comentários:
Acabei de descobrir que sou uma "extremista de esquerda" porque penso e tenho ideias que diferem das linhas cordeiristicas (será que esta palavra existe?)! Porque é que sempre que alguém pensa diferente se tem que se pôr um título?
Preguiça?...
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