«Durante anos foi povoado exclusivamente pelos ratos que o atravessavam em corridas brincalhonas, que roíam as madeiras em portas monumentais, que o habitavam como senhores exclusivos. Em certa época um cachorro vagabundo o procurou como refúgio contra o vento e contra a chuva. Na primeira noite não dormiu, ocupado em despedaçar ratos que passavam na sua frente. Dormiu depois algumas noites, ladrando à Lua pela madrugada, pois grande parte do teto já ruíra e os raios da Lua penetravam livremente, iluminando o assoalho de tábuas grossas. Mas aquele era um cachorro sem pouso certo e cedo partiu em busca de outra pousada, o escuro de uma porta, o vão de uma ponte, o corpo quente de uma cadela. E os ratos voltaram a dominar, até que os Capitães da Areia lançaram as suas vistas para o casarão abandonado.»
Jorge Amado, Capitães da Areia (1937)
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