A generalidade dos blogues alinhados com o governo cessante oscila entre a tentativa de manipulação, normalmente canhestra, e a desqualificação de António Costa, isto para não falar numa simplicitas que encara o processo eleitoral como uma espécie de jogo de futebol, em que quem tem mais golos (votos) ganha a partida (eleições). E que, nalguns casos, acreditam (ou argumentam) que Passos tem direito (direito, imagine-se) a governar, porque "venceu as eleições".
Começando já por aqui: a coligação PàF teve mais votos, mas não ganhou as eleições. Perdeu-as, inapelàvelmente. Poderão considerar-se vencedores se formarem governo e lograrem aprová-lo na fonte da soberania que é a Assembleia da República. Aí sim, podem cantar vitória, mesmo que tenham de governar com um programa em boa parte imposto pelo PS.
Mas os representantes eleitos do povo são, na sua maioria, contra a política do actual governo. Logo, democraticamente, os deputados da nação, podem, legitimamente (eu diria: quase obrigatoriamente) reprovar o programa de um executivo do PSD e do CDS -- se estes, contra as conveniências dos mercados etc. & tal, insisitirem em levar a sua avante, sabendo de antemão que são minoritários no hemiciclo.
No nosso sistema, no que respeita à formação do governo, as legitimidades política e constitucional estão no parlamento e só no parlamento. Não há esperteza saloia como a tradição, nem infantilismos como "prémios" para o vencedor.. Há a vontade política maioritária dos portugueses, expressa pelos seus representantes, e é só.
Por outro lado -- pondo de parte os argumentos patetas e patéticos que pretendem desclassificar Costa e o agitar do papão anti-PC --, será (ou seria) natural haver dúvida ou receio sobre a consistência de um eventual governo à esquerda. Porém, não só António Costa nem muitos dirigente do PS são meninos de coro para se deixarem manobrar pelos partidos à sua esquerda, como um acordo de futuro governo terá de ser assinado e divulgado, com as tais linhas vermelhas, sob pena de ao PS não restar alternativa senão viabilizar um governo à direita, e, então sim, justificadamente.
Confio porém que isso não irá acontecer. Depois da catástrofe política e social dos últimos quatro anos, o trauma é tal, que correr com eles se tornou um desígnio essencial. Ou já ninguém se lembra da venda do país e da subserviência do governo cessante, a triste figura que, na UE, fizeram representantes de um estado com um lastro de quase novecentos anos?
E além disso -- o mais importante para um futuro governo que regenere o país: esse país que vota à Esquerda não perdoaria uma traição. Ao PS, e, muito principalmente, ao PCP e ao Bloco.
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