Logo nas primeiras três ou quatro páginas de A Sibila (1954), temos um universo já delimitado, com várias camadas epocais. Um daqueles milagres de talento, surgido da pena duma jovem escritora, com pouco mais de trinta anos.
Uma das coisas que me agrada em Agustina Bessa Luís é a enorme consistência enquanto autora enraizada na sua matriz histórica e cultural, mas, ao mesmo tempo, plena de mundo e de sofisticação, muito ao contrário do aldeanismo de vários romancistas seus contemporâneos.
Os retratos impressivos das mulheres, interessantes, dramáticas, misteriosas, sensuais: Germa: «Ela tinha o espírito de parecer vulgar. Um dos seus prazeres consistia em analisar-se como o conteúdo de todo um passado [...]» -- como se o narrador falasse da própria Agustina; Quina, o centro de outro tempo, já morta, que será o eixo do romance; Maria da Encarnação, mãe desta, com núpcias pouco ortodoxas com Francisco Teixeira, um "galaró"; Isidra, uma mulher cativante e pouco convencional, amante do dito Teixeira. Muito menos interessantes os homens, do cheio-de-si Teixeira a Bernardo Sanches, burguês aristocratizado por gerações argentárias, suficientemente educado para não deslustrar o ter e o ser, mas demasiadamente plano para Germa(na) -- a tal que tinha «o espírito de parecer vulgar»...
Não é para todos.
2 comentários:
A escrita é muito boa, mas a atrofia daquele mundinho e a ausência de... Mundo que permita às personagens singrar com... panache...
Abraço
Pois é, mas esse mundinho ela conhecia-o bem. E as grandes personagens do livro, Germa e Quina, tem profundidade que supre a outra falta.
Outro abraço
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