domingo, junho 22, 2008

I'm Ready

Tive sempre uma predilecção especial por este músico de voz bondosa e olhos tristes. Com John Lee Hooker (1917-2001) e B. B. King (n. 1925), Muddy Waters (1915-1983) fazia parte da santíssima trindade dos guitarristas de blues meus contemporâneos. O seu nome de baptismo era McKinley Morganfield e, tal como Samuel Clemmens (Mark Twain), foi às águas lamacentas do Mississípi da sua infância buscar o pseudónimo que o imortalizou.
Muddy Waters, por muitos considerado o pai dos blues modernos, foi, por maioria de razão, o avô do rock. Co-autor -- com Brownie McGhee -- do conhecido «The Blues Had A Baby & They Named It Rock'n'Roll», coube-lhe ainda a generalização da formação tipo que viremos a encontrar no rock: voz, guitarra-solo, harmónica, guitarra-ritmo, baixo e bateria.
I'm Ready, de 1978, é um dos últimos discos de Waters. Nele encontramos, a par de composições novas, velhos standards como a faixa-título e «I'm Your Hoochie Coochie Man», ambas de 1954. Se quisermos perceber a razão do fascínio que ele exerceu nos jovens músicos de sessenta, ou porque -- autor de «Catfish Blues» --, além de pai, foi também padrinho, basta ouvir «Rock Me», de 1957. Ali está a estrutura que encontraremos não apenas nos rockers de cinquenta, como nos Beatles, nos Stones ou nos Led Zeppelin.
Waters rodeia-se aqui de um conjunto de músicos de primeira água, dos quais menciono, naturalmente, Johnny Winter, guitarrista cultor de um marcado hard-blues; o velho e inspirado harmonicista Walter Horton; e o não menos venerando «Pine Top» Perkins, cujo empolgante fraseado pianístico que lhe é característico, está, neste disco do patrão Waters, muito discreto, como que reduzido a uma função eminentemente rítmica, secundarizado relativamente às guitarras e harmónicas.
I'm Ready é, em suma, um registo importante, pela frescura destes blues que permitem ir às raízes do rock.

4 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Gostei imenso deste post!

Muddy Waters...! O que eu venerei este senhor! Continua a ser excelente ouvi-lo e merece inteiramente ser homanageado!

As raízes do rock no seu mais puro e melhor!

Ricardo António Alves disse...

Obrigado, Ana Paula. Ele foi tudo: pai, avô e padrinho...

Ana Paula Sena disse...

Perdoe a gralha: "homenageado".

:)

Ricardo António Alves disse...

digitadore, traditore...:)