Escrever (edição de Heleder Godinho)
segunda-feira, junho 30, 2008
caderninho
Caiu-te em cima uma ovação de estrondo. Foste celebrado com um calor intenso. E reflectiste surpreendido que toda a razão disso estava num sítio invisível de ti que por isso nunca conheceste. Não será razão para te alegrares? Porque é do invisível e do incognoscível que nasce o que se pode ver e vale a pena conhecer. Vergílio Ferreira
domingo, junho 29, 2008
Antologia Improvável #317 - Martins Fontes (4)
CANÇÃO DAS DESENCANTADAS
É belo ver brincarem as crianças!
É belo ver cantarem as raparigas!
Esparzindo alegrias e esperanças,
Desfolhando os amores em cantigas!
É belo ver, em tardes vitoriosas,
Os poetas, os heróis, os combatentes,
Sob as chuvas das pétalas de rosas,
Sob aplausos contínuos e frementes!
É belo ver as mães enamoradas!
É belo ver os sábios entretidos!
Por milhares de seres adoradas!
Por milhares de seres benqueridos!
Mas o que há de mais íntimo e profundo,
E mais consola o coração humano,
Sim, o que há de mais belo! é, neste mundo,
Ver um punhal no peito de um tirano!
Schahrazade / Poesias Completas
É belo ver brincarem as crianças!
É belo ver cantarem as raparigas!
Esparzindo alegrias e esperanças,
Desfolhando os amores em cantigas!
É belo ver, em tardes vitoriosas,
Os poetas, os heróis, os combatentes,
Sob as chuvas das pétalas de rosas,
Sob aplausos contínuos e frementes!
É belo ver as mães enamoradas!
É belo ver os sábios entretidos!
Por milhares de seres adoradas!
Por milhares de seres benqueridos!
Mas o que há de mais íntimo e profundo,
E mais consola o coração humano,
Sim, o que há de mais belo! é, neste mundo,
Ver um punhal no peito de um tirano!
Schahrazade / Poesias Completas
sexta-feira, junho 27, 2008
caderninho
quinta-feira, junho 26, 2008
Edgar Põe
O computador que utilizo no meu trabalho não aceita o glorioso apelido do autor das Histórias de Mistério e Imaginação. Edgar Allan Põe, pretende ele...
E logo a seguir fiquei a saber que o anormal também não gosta do Erico Veríssimo. Eriço, diz o estúpido. Eriço!...
quarta-feira, junho 25, 2008
terça-feira, junho 24, 2008
Figuras de estilo - Abel Botelho
Ao longo de toda a «ilha» alastrava a mesma grossa e vaga escuridão do campo. Apenas, a intervalos irregulares, algumas raras janelas, como vazias órbitas de espectros, radiavam lívidos luaceiros na absorvente espessidão da sombra. O piso, talhado no terreno natural, era um misto traiçoeiro e imundo de restos de comida, objectos de toda a sorte, cacos, barro, cisco, cascalho e lama. Na grande vala longitudinal fermentavam acidamente as podridões. Havia um cheiro acre e nauseabundo, cumulativamente a hospício, a curral e a cemitério. E dessa sórdida promiscuidade animal, dessa fruste aglomeração de miseráveis, subia para a frialdade inerte do ar, dançando nas infectas emanações de caneiro insalubres harmonias, um como surdo verrumar de febre, um atormentado e bárbaro concerto, feito ao mesmo tempo de pragas, risos, lamentações, balidos de cabras, mugidos de vacas, grunhidos de porcos, latidos de cães e choros de crianças.
Amanhã
segunda-feira, junho 23, 2008
Antologia Improvável #316 - Américo Durão (2)
A LUÍS TEIXEIRA.
Se me encaro sereno,
frente a frente, leal,
de olhos nos olhos,
vejo:
-- o rasto incerto e claro
da minha vida inquieta,
-- um íntimo desejo
de ser casto e ser puro,
-- um fraternal amor
aos bons e aos humildes,
-- um profundo desdém
dos falsos ouropéis,
-- e um quixotesco anseio
do bem e da verdade!
Cubro com véu piedoso
os meus erros sem fim...
(Poenitet me!)
Mas, ai! se nas virtudes límpidas e belas
meu olhar demoro,
mísero, só vejo
narcisismo e vaidade...
Tômbola
domingo, junho 22, 2008
I'm Ready
Tive sempre uma predilecção especial por este músico de voz bondosa e olhos tristes. Com John Lee Hooker (1917-2001) e B. B. King (n. 1925), Muddy Waters (1915-1983) fazia parte da santíssima trindade dos guitarristas de blues meus contemporâneos. O seu nome de baptismo era McKinley Morganfield e, tal como Samuel Clemmens (Mark Twain), foi às águas lamacentas do Mississípi da sua infância buscar o pseudónimo que o imortalizou.
Muddy Waters, por muitos considerado o pai dos blues modernos, foi, por maioria de razão, o avô do rock. Co-autor -- com Brownie McGhee -- do conhecido «The Blues Had A Baby & They Named It Rock'n'Roll», coube-lhe ainda a generalização da formação tipo que viremos a encontrar no rock: voz, guitarra-solo, harmónica, guitarra-ritmo, baixo e bateria.
I'm Ready, de 1978, é um dos últimos discos de Waters. Nele encontramos, a par de composições novas, velhos standards como a faixa-título e «I'm Your Hoochie Coochie Man», ambas de 1954. Se quisermos perceber a razão do fascínio que ele exerceu nos jovens músicos de sessenta, ou porque -- autor de «Catfish Blues» --, além de pai, foi também padrinho, basta ouvir «Rock Me», de 1957. Ali está a estrutura que encontraremos não apenas nos rockers de cinquenta, como nos Beatles, nos Stones ou nos Led Zeppelin.
Waters rodeia-se aqui de um conjunto de músicos de primeira água, dos quais menciono, naturalmente, Johnny Winter, guitarrista cultor de um marcado hard-blues; o velho e inspirado harmonicista Walter Horton; e o não menos venerando «Pine Top» Perkins, cujo empolgante fraseado pianístico que lhe é característico, está, neste disco do patrão Waters, muito discreto, como que reduzido a uma função eminentemente rítmica, secundarizado relativamente às guitarras e harmónicas.
I'm Ready é, em suma, um registo importante, pela frescura destes blues que permitem ir às raízes do rock.
sábado, junho 21, 2008
caderninho
sexta-feira, junho 20, 2008
Figuras de estilo - Oliveira Martins
quinta-feira, junho 19, 2008
História de Roma, com batatas fritas e ovo a cavalo
Li há pouco a breve e excepcional História de Roma de Pierre Grimal (1912-1996), editada, em boa hora, pelas Edições Texto&Grafia. Fico sempre fascinado quando a erudição se põe ao serviço dos outros. Em 100 páginas o autor dá-nos uma visão panorâmica, mas rigorosa e atractiva, duma história milenar de que somos herdeiros. E percebe-se, pela solidez da síntese, que ela só foi possível graças ao trabalho de uma vida. Depois, o peso da palavra »Roma», a sua ressonância grandiosa e para mim sem paralelo na História, ainda me tornou mais admirável o conseguimento de Grimal. Finalmente, maravilha das maravilhas, este pequeno grande livro, lembrou-me a singular figura de Carl Sagan. Ficou-me sempre gravado um episódio do magnífico Cosmos, em que, de paperback na mão, o cientista e divulgador, querendo evidenciar o progresso no acesso ao conhecimento, asseverava: nos nossos dias, podemos ter acesso à história de Roma pelo preço duma simples refeição... É o caso.
quarta-feira, junho 18, 2008
terça-feira, junho 17, 2008
Antologia Improvável #315 - José Correia Tavares (2)
De entre todas a mais dura
Esta quadra tem a rima:
Flor na tua sepultura
E eu hei-de mijar-lhe em cima.
Leitura dos Actos
Esta quadra tem a rima:
Flor na tua sepultura
E eu hei-de mijar-lhe em cima.
Leitura dos Actos
segunda-feira, junho 16, 2008
caderninho
sábado, junho 14, 2008
Caracteres móveis - Nietzsche
[...] Não se diz «o nada»: substitui-se por «o além»; ou então por «Deus»; ou pela «vida verdadeira»; ou então pelo nirvana, pela salvação, pela bem-aventurança... Esta inocente retórica, que pertence ao domínio da idiossincrasia religiosa e moral, parecerá muito menos inocente quando se compreender qual a tendência que aqui se veste com um manto de palavras sublimes: a inimizade à vida.
O Anticristo
(tradução de Tavares Fernandes)
sexta-feira, junho 13, 2008
O não da Irlanda
É impossível, e indesejável, avançar sem a Irlanda, apesar das advertências de Napolitano. Como não parece que a Irlanda queira abandonar a União, para já só vejo duas possibilidades de contornar o problema: a mais simples, que passa a breve prazo por um novo referendo, com outro resultado. A segunda, que significaria uma refundação da UE -- e terá de ser forçosamente liderada pela Alemanha, França e Itália --, implicará um referendo generalizado, em que cada estado deverá assumir a sua responsabilidade. É arriscado, mas talvez mais desejável do que o prolongar da situação existente, que conduzirá à agonia da União.
Antologia Improvável #314 - Carlos de Oliveira (10)
INSTANTE
Esta coluna
de sílabas mais firmes,
esta chama
no vértice das dunas
fulgurando
apenas um momento,
este equilíbrio
tão perto da beleza,
este poema
anterior
ao vento.
Sobre o Lado Esquerdo / Trabalho Poético
Esta coluna
de sílabas mais firmes,
esta chama
no vértice das dunas
fulgurando
apenas um momento,
este equilíbrio
tão perto da beleza,
este poema
anterior
ao vento.
Sobre o Lado Esquerdo / Trabalho Poético
quinta-feira, junho 12, 2008
caderninho
Geometria, «finesse». -- A verdadeira eloquência, não se preocupa com a eloquência; a verdadeira moral não se preocupa com a moral. Isto é, a moral do juízo, que não tem regras, em nada se preocupa com a moral do espírito.
Porque é ao juízo que pertence o sentimento, tal como as ciências pertencem ao espírito.
A finesse é a parte do juízo, a geometria a do espírito.
Não nos preocuparmos com a filosofia é verdadeiramente filosofar. Pascal
Pensamentos (tradução de Américo de Carvalho)
quarta-feira, junho 11, 2008
algumas vantagens da paragem dos camionistas
Vamos todos regressar às praças e aos mercados a comprar os repolhos directamente aos saloios.
Os aceleras reduzem-se à sua insignificância.
Nos telejornais, talvez haja mais mundo para além da Selecção.
terça-feira, junho 10, 2008
Caracteres móveis - Juan Ramón Jiménez
Quando chegamos à sombra da nogueira grande, parto duas melancias, que abrem a sua neve escarlate e rósea num estalido longo e fresco. Saboreio a minha lentamente, ouvindo, ao longe, as vésperas da aldeia. Platero bebe a carne de açúcar da sua, como se fosse água.
Platero e Eu
(tradução de José Bento)
segunda-feira, junho 09, 2008
cabaz da feira
Alface, Um Pai Porreiro Ganha Muito Dinheiro (Fenda)
Angeli, Sexo É Uma Coisa Suja (Jacaranda / Devir)
Marcel Aymé [Antologia do Conto Moderno] (Atlântida)
Carl Barks, Uncle Scrooge (Gemstone Publishing)
João de Barros, Adeus ao Brasil (Livros do Brasil)
Ruy Belo, Transporte no Tempo (Presença)
Ambrose Bierce, Dicionário do Diabo (Tinta da China)
Armando Silva Carvalho, Lisboas (Quetzal)
Joseph Conrad, O Companheiro Secreto (Relógio d'Água)
José-Augusto França, O Essencial sobre Almada Negreiros (Imprensa Nacional)
Manuel de Freitas, Jukebox (Teatro de Vila Real)
Geral & Derradé, Pai Natal: Um Estudo Morfológico (Polvo)
José Carlos González, Clave de Sol (Livros Horizonte)
Aldous Huxley, Os Corvos de Pereiraflorida (Livros Horizonte)
Alfred Jarry, O Amor em Visitas (& etc)
Laerce, Classificados, vol. 1 (Jacaranda / Devir)
M. Rodrigues Lapa, Poetas do Século XVIII (Seara Nova)
Isabel Vaz Ponce de Leão, O Essencial sobre Miguel Torga (Imprensa Nacional)
Óssip Mandelstam, Antologia Poética (Relógio d'Água)
Guilherme d'Oliveira Martins, O Essencial sobre Oliveira Martins (Imprensa Nacional)
Cecília Meireles, Antologia Poética (Relógio d'Água)
Vasco Graça Moura, Letras do Fado Vulgar (Quetzal)
Alfred de Musset & George Sand, Cartas de Amor (Relógio d'Água)
Santiago, O Melhor do Macanudo Taurino (L&PM)
Joel Serrão, Liberalismo, Socialismo, Republicanismo (Livros Horizonte)
Jeff Smith, Bone -- Fora de Boneville (Via Lettera)
M. Teixeira-Gomes, Regressos (Bertrand)
Willy Vandersteen, Bob e Bobette -- O Paraíso dos Cães (Bonecos Rebeldes)
Edgar Vasques, O Gênio Gabirú (L&PM)
Luís Fernando Veríssimo & Miguel Paiva, Ed Mort -- Com a Mão no Milhão (L&PM)
Mark Waid & Alex Ross, Kingdom Come I -- Estranho Visitante (Vitamina BD)
Max Weber, A Bolsa (Relógio d'Água)
(Filharada:)
John Cunliffe & Ivor Wood (a partir de), Carteiro Paulo -- Livro de Pintar (Porto Editora)
Jorge Gonçalves & José Augusto Silva, Costa Sudoeste -- Macrofauna Marinha (ICN)
André Letria, Foxi & Meg -- Colorir As Férias (Ambar)
Stephan Pastis, Pérolas a Porcos -- A Ratvolução não Passará (Bizâncio)
Jan Pfloog, O Livro do Esquilo (Melhoramentos)
Charles Schulz (a partir de ), Linus, Larga o Cobertor (Verbo)
Dinah Sobral & João Gomes, Peixes Litorais (ICN)
Anton Tchékov, O Tio Vânia (Relógio d'Água)
Uderzo & Marie-Christine Crabos, A Cozinha com Astérix (Meribérica)
VV. AA., Fábrica de Quadrinhos (Devir)
VV. AA., Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal III -- Peixes Marinhos e Estuarinos(ICN)
Anne Wilson, Pratos Clássicos de Legumes (H. F. Ullmann)
Anne Wison, Refeições Ligeiras (H. F. Ullmann)
Angeli, Sexo É Uma Coisa Suja (Jacaranda / Devir)
Marcel Aymé [Antologia do Conto Moderno] (Atlântida)
Carl Barks, Uncle Scrooge (Gemstone Publishing)
João de Barros, Adeus ao Brasil (Livros do Brasil)
Ruy Belo, Transporte no Tempo (Presença)
Ambrose Bierce, Dicionário do Diabo (Tinta da China)
Armando Silva Carvalho, Lisboas (Quetzal)
Joseph Conrad, O Companheiro Secreto (Relógio d'Água)
José-Augusto França, O Essencial sobre Almada Negreiros (Imprensa Nacional)
Manuel de Freitas, Jukebox (Teatro de Vila Real)
Geral & Derradé, Pai Natal: Um Estudo Morfológico (Polvo)
José Carlos González, Clave de Sol (Livros Horizonte)
Aldous Huxley, Os Corvos de Pereiraflorida (Livros Horizonte)
Alfred Jarry, O Amor em Visitas (& etc)
Laerce, Classificados, vol. 1 (Jacaranda / Devir)
M. Rodrigues Lapa, Poetas do Século XVIII (Seara Nova)
Isabel Vaz Ponce de Leão, O Essencial sobre Miguel Torga (Imprensa Nacional)
Óssip Mandelstam, Antologia Poética (Relógio d'Água)
Guilherme d'Oliveira Martins, O Essencial sobre Oliveira Martins (Imprensa Nacional)
Cecília Meireles, Antologia Poética (Relógio d'Água)
Vasco Graça Moura, Letras do Fado Vulgar (Quetzal)
Alfred de Musset & George Sand, Cartas de Amor (Relógio d'Água)
Santiago, O Melhor do Macanudo Taurino (L&PM)
Joel Serrão, Liberalismo, Socialismo, Republicanismo (Livros Horizonte)
Jeff Smith, Bone -- Fora de Boneville (Via Lettera)
M. Teixeira-Gomes, Regressos (Bertrand)
Willy Vandersteen, Bob e Bobette -- O Paraíso dos Cães (Bonecos Rebeldes)
Edgar Vasques, O Gênio Gabirú (L&PM)
Luís Fernando Veríssimo & Miguel Paiva, Ed Mort -- Com a Mão no Milhão (L&PM)
Mark Waid & Alex Ross, Kingdom Come I -- Estranho Visitante (Vitamina BD)
Max Weber, A Bolsa (Relógio d'Água)
(Filharada:)
John Cunliffe & Ivor Wood (a partir de), Carteiro Paulo -- Livro de Pintar (Porto Editora)
Jorge Gonçalves & José Augusto Silva, Costa Sudoeste -- Macrofauna Marinha (ICN)
André Letria, Foxi & Meg -- Colorir As Férias (Ambar)
Stephan Pastis, Pérolas a Porcos -- A Ratvolução não Passará (Bizâncio)
Jan Pfloog, O Livro do Esquilo (Melhoramentos)
Charles Schulz (a partir de ), Linus, Larga o Cobertor (Verbo)
Dinah Sobral & João Gomes, Peixes Litorais (ICN)
Anton Tchékov, O Tio Vânia (Relógio d'Água)
Uderzo & Marie-Christine Crabos, A Cozinha com Astérix (Meribérica)
VV. AA., Fábrica de Quadrinhos (Devir)
VV. AA., Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal III -- Peixes Marinhos e Estuarinos(ICN)
Anne Wilson, Pratos Clássicos de Legumes (H. F. Ullmann)
Anne Wison, Refeições Ligeiras (H. F. Ullmann)
domingo, junho 08, 2008
3 dos U2
E se de repente me perguntassem pelas minhas músicas favoritas dos U2, eu diria logo: Sunday, Bloody Sunday, One e Beautiful Day.
Bah! (ou O quadrado e a cultura de hipermercado)
Devo ser muito quadrado, muito pouco dado à mudança, nada permeável às culturas organizacionais -- pensei eu, depois de me ter passeado pela alameda da Leya, na Feira do Livro. Tantos hosanas ao espírito empreendedor do grupo do Paes do Amaral, o tal editor que parece que não lê, tanta recriminação aos pacóvios da APEL, para, no fim , me apresentarem uns pavilhecos tinhosos, com expositores afins de qualquer Continente ou Pingo Doce, e as caixas todas concentradas, à maneira dum hipermercado. Eu nem critico tanto o novo-riquismo da Leya, mas os debitadores de opinião -- o grande VPV à cabeça --, que magnificam um visionarismo entrepreneur que mais não fez do que dar àquele bocado da Feira do Livro um aspecto de Conforama ou Moviflor da edição. Bah!
Saí rapidamente daquele salão do livro e fui purificar-me na barraca da Devir...
sábado, junho 07, 2008
Antologia Improvável #313 - Ed. Bramão de Almeida (4)
A FAVORITA
Em coxins de damasco reclinada
E olhos postos no céu cor de safira
Como as águas do Egeu, está Palmira,
Por um milhão de dracmas comprada.
Poisa a grácil cabeça destrançada
Num bordado subtil de Cachemira,
Nos seus cabelos uma rosa expira
E, no chão, roça a perna torneada.
A longa veste azul que soe trazer
Cobre-lhe as ancas fortes, mas em troco
Deixa os túrgidos seios entrever.
-- Seios que até um frei poriam louco,
Taças de néctar puro e de prazer
Que o sultão vai libar de aqui a pouco.
Maré Alta
Em coxins de damasco reclinada
E olhos postos no céu cor de safira
Como as águas do Egeu, está Palmira,
Por um milhão de dracmas comprada.
Poisa a grácil cabeça destrançada
Num bordado subtil de Cachemira,
Nos seus cabelos uma rosa expira
E, no chão, roça a perna torneada.
A longa veste azul que soe trazer
Cobre-lhe as ancas fortes, mas em troco
Deixa os túrgidos seios entrever.
-- Seios que até um frei poriam louco,
Taças de néctar puro e de prazer
Que o sultão vai libar de aqui a pouco.
Maré Alta
quinta-feira, junho 05, 2008
caderninho
quarta-feira, junho 04, 2008
os meus problemas
O meu problema com a chamada "festa das esquerdas", ontem ocorrida, não é tanto o percutir no Governo, tão estimado pelo Compromisso Portugal, pela CIP e outras beneméritas instituições progressistas. O que me aborrece no comício do Trindade é mesmo uma boa parte daquele pessoal festejante: antigos trotskistas, estalinistas, maoistas, hoxistas, gente, em suma, com uma noção muito específica da democracia e da liberdade.
terça-feira, junho 03, 2008
Figuras de estilo - Cyro dos Anjos
"Por que um livro?", foi a pergunta que me fez Jandira, a quem, há tempos, comuniquei esse propósito. "Já não há tantos?" Por que você quer escrever um livro, seu Belmiro?" Respondi-lhe que perguntasse a uma gestante por que razão iria dar à luz um mortal, havendo tantos. Se estivesse de bom humor, ela responderia que era por estar grávida. Sim, vago leitor, sinto-me grávido, ao cabo, não de nove meses, mas de trinta e oito anos. E isso é razão suficiente.
O Amanuense Belmiro
domingo, junho 01, 2008
Antologia Improvável #312 - Eduardo Salgueiro (3)
RENASCIMENTO
Tanta esperança, em mim, a Dor mantinha,
Que de febre e canseiras fiz meu pão:
-- Em cinzas converti meu coração,
E em fumo se tornou a vida minha!
Dos meus sonhos, fazia o que a andorinha
Faz das penas que busca pelo chão;
Mas, feito o ninho, é certo que o tufão
Não tardava a levar-me quanto tinha!
Assim fui renegando o Amor e a Vida;
Quando uma voz, em prece, comovida,
Por mim chamou da mais divina Altura.
Da cinza morta, um crente renasceu:
Nova Luz em meu canto amanheceu,
-- Como estrela a boiar em noite escura...
Rosário de Gente Humilde
Tanta esperança, em mim, a Dor mantinha,
Que de febre e canseiras fiz meu pão:
-- Em cinzas converti meu coração,
E em fumo se tornou a vida minha!
Dos meus sonhos, fazia o que a andorinha
Faz das penas que busca pelo chão;
Mas, feito o ninho, é certo que o tufão
Não tardava a levar-me quanto tinha!
Assim fui renegando o Amor e a Vida;
Quando uma voz, em prece, comovida,
Por mim chamou da mais divina Altura.
Da cinza morta, um crente renasceu:
Nova Luz em meu canto amanheceu,
-- Como estrela a boiar em noite escura...
Rosário de Gente Humilde
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