segunda-feira, outubro 17, 2005

Castro em Vila Franca (6 e final)

Toda a obra de Ferreira de Castro está, pois, impregnada desse anarquismo. Ele é um libertário destacado, todos o sabiam na I República pelas posições tomou; todos continuaram a sabê-lo durante o Estado Novo, tanto na situação como na oposição. E sabiam-no os leitores.
O ponto de vista libertário está nos seus livros, não apenas desde Emigrantes, um manancial de assuntos, a começar pela questão da propriedade até ao tema da (ir)relevância da nacionalidade do proletário. Mas este questionamento, esta incomodidade de um escritor que se fez a si próprio num mundo espúrio, vem já desde esse ingénuo Criminoso por Ambição. E esse ponto de vista contempla o desdém pelo jogo político, o antitotalitarismo, o antimilitarismo, o anticolonialismo.
Idealista, fez uma profissão de fé num futuro redentor. Esse idealismo não estará, contudo, isento dos perigos das utopias que transformaram ideias libertadoras em sistemas de encarceramento. Parece-me, porém, que o libertário Ferreira de Castro, rebelde e inconformista, duma rebeldia viril sem autocomiseração, dificilmente cairia na armadilha dos pensamentos únicos.

Nota:
Serão lidas passagens de Emigrantes, Os Fragmentos e das «Mensagens» de apoio às candidaturas do MUD (1946) e de Norton de Matos (1949).

2 comentários:

João Villalobos disse...

Ena, isto é que foi escrever :) Irei em breve visitar o teu museu, antes de um lanche na Raposa. Tão só a mudança de lar me permita deixar de desencaixotar livros e papéis...Abraço

Ricardo António Alves disse...

Lá te espero.