1. Não estou a ver como o mesmo país que vilipendiou Salgueiro Maia enquanto recompensava pides, e deixou ir descansado Melo Antunes, iria pôr-se de luto nacional por Otelo. O que a uns falta em vergonha na cara, a outros falece em noção.
2. E depois, há o problema das FP25. Dirigiu ou não aquele bando de tontinhos? Ele dizia que não, mas foi condenado pelos tribunais. Eu sei que um país que não é sério os tribunais também não são para ter em conta. Mas sempre se pode fingir. A tal gravitas... Se o Estado o condenou por terrorismo, bem ou mal, como o luto nacional?...
3. A ligação pelo menos moral de Otelo a um grupo armado parece não oferecer grande dúvidas. Este grupo de patetas armados fez vítimas, em nome de coisas baris. Ligações à ETA e ao IRA, diz-se. Não estou a ver a conexão. Estes têm a sua legitimidade, goste-se mais ou menos. As FP25 tinham onde, a puta da legitimidade? Só mesmo naquelas cabecinhas. Isto para dizer que um dia de luto nacional por Otelo -- enquanto ele não for ilibado -- seria um pano encharcado do Estado atirado à cara das famílias das vítimas daqueles gandas revolucionários. Quem não percebe isto é imbecil ou patife. Ou ainda -- atendendo a pessoas respeitáveis que o defendem -- que estão a celebrar uma fantasia. E para fantasias, não tenho paciência.
4. Poderia caricaturar-me e dizer que nada a obstar ao luto nacional pela morte do autor de Alvorada em Abril (1977), que Pacheco Pereira diz que é o melhor livro escrito sobre o 25 de Abril. Se é o melhor, não sei; que é um livro esplêndido e pelo qual o seu autor está ainda mais na História, não tenho qualquer dúvida. Se daqui a 500 anos um historiador se debruçar sobre Portugal neste período, e pela revolução que encerrou um ciclo na vida do país, tal como sucedera com a de 1820, sem quaisquer outras que se lhe possam comparar, terá obrigatoriamente de ler o seu livro.
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