Já se esqueceram do chumbo do PEC IV, negociado com Merkel?; e do ultimato a Passos no PSD ('ou eleições no país ou no partido'), que nos atirou para os braços da troika? Já se esqueceram das mentiras e mentirolas em que é useiro e vezeiro? Então qual é a novidade? Estavam à espera de elevação?, de grandeza?, de patriotismo?, de sentido de estado? Não viram o mal disfarçado sorrisinho de satisfação da ex das Finanças, em face da iminência da aplicação das tais 'sanções' a Portugal?
Querem fazer-se de desentendidos, e de nós parvos. Mas haverá sempre gente, desembaraçada dos tacticismos partidários e de pouca paciência para sonsos, que faça questão de lembrar aquilo que os aparelhos da direita e os mercenários das agências de comunicação gostariam que fosse confundido, baralhado, até já não se saber bem quem fez o quê. Isso era o que eles queriam.
13 comentários:
A disputa, Ricardo, é ideológica, aqui e na Europa. Claro, Passos é um oportunista a quem as sanções davam jeito, desde que ficasse claro que são 'sanções preventivas' e não pelo 'belíssimo' trabalho do seu Governo. Mas a Comissão já veio desmentir essa hipótese. Claro, é isso mesmo que Schaeuble et al querem, usar as sanções para dificultar ainda mais o trabalho a Costa, e mostrar a outros governos (com a França e a Itália à cabeça) que não há lugar a veleidades. Agora, transformar uma disputa que deve fazer-se no campo da Economia e da Política numa disputa entre patriotas e anti-patriotas é um jogo muito perigoso, porque transfere algo do campo do concreto para o campo, chamemos-lhe assim, do simbólico. E isso cai como sopa em mel na estratégia dos soberanistas, que como se viu nos dias que se seguiram ao Brexit, não dispõem de qualquer estratégia de saída. Entregar o poder nas mãos dessa gente seria duplamente perigoso porque perderíamos o que a UE tem apesar de tudo de bom e nada nos garante que no final e a nível interno não ficássemos nas mãos de um qualquer Maduro em versão local, com muita retórica e zero de competência... O terceiro-mundismo não é definitivamente uma alternativa à UE, porque não é alternativa a coisa alguma...
Meu caro, partir do princípio que o PSD tem ideologia é uma aventura intelectual. Ideologia tem o CDS, quando lhe dá jeito; o PSD, nem isso. Qual será a "ideologia" da D. Maria das Finanças, do Marco António, do Aguiar Branco, ou até do Cavaco? Ideologia no PSD, a de alguns jovens turcos à volta de Passos, que fizeram os estragos que se viram. Até o inefável Abreu Amorim deixou de considerar-se liberal durante o exercício.
No que diz respeito à Europa, também eu advogo que não se deite fora o bebé com a água do banho. Mas não me diga isso a mim; que ou ouçam os Schaubles e os Dijsselboems (blim, blão -- há um certo bimbalhar no nome desta criatura, aliás, um camarada da IS), que alegremente vão minando a UE.
Nunca tive pachorra para patriotismos; mas também não acho agradável estar à mercê dos 'mais fortes'. Aliás, quando se sanciona um país e não outro, o que é isto senão a destruição desse projecto fantástico que é (ainda o será?) a UE.
Sim, já sei, o PSD é talvez o primeiro exemplo europeu do 'catch all' party, existe para ocupar o poder e pouco mais. Mas o PS também lhe seguiu o exemplo, tendo tido a sua 'hora de glória' enquanto tal no consulado de Sócrates. Sucede que há diferenças entre o que querem (e aquilo em que acreditam) governos como os da França, Itália e Grécia por um lado e Alemanha e etc, por outro. Sabemos que por baixo da unanimidade dos fortes imposta aos fracos a paz é podre (Costa pelos vistos acusou o Ecofin de funcionar de forma opaca e juridicamente discutível) e há algo que se mexe... Não estou otimista dada a relação de forças, mas francamente tenho ainda menos paciência para as fanfarronadas da Extrema-Esquerda (onde não o incluo, bem entendido), o Syriza começou cheio de força e acabou a comer às mãos de Merkel e Schaeuble... Essa atitude lembra-me aquele ditado que diz que numa sala, quem menos fala é quem mais poder tem...
O PS também está longe de ser um bom exemplo, como qualquer partido de poder. Por isso é que não gosto de maiorias absolutas. No entanto, o que há de melhor no PS está a dirigi-lo, é-me grato dizê-lo).
Também não gosto de fanfarronadas nem das excomunhões que lhes vêm associadas. Talvez por isso, resista ainda a ser severo com o Tsipras, entre o forçoso realismo a que obriga o governo de um país e a força brutal da Alemanha e satélites.
O que fizeram com a Grécia gostariam de poder fazê-lo connosco. Não estamos na situação da Grécia, mas convém pormos as barbas de molho, E é aí que entra a política, isto é, António Costa, esperemos que continuando a contar com o apoio de Marcelo.
Como dizia o outro, são tempos interessantes.
Sim, eu acho que Tsipras e Varoufakis cometeram um erro terrível (e todo o Syriza já agora, porque esse Partido foi para as eleições defendendo o fim da austeridade, sendo que a Grécia deveria permanecer no Euro). Não prepararam um plano B de saída da UEM (e duvido que o conseguissem mesmo se o tivessem começado a preparar logo que chegaram ao Governo, perante a intransigência que encontraram). Quando se estica a corda, devemos estar preparados para que ela se parta. Como não vale a pena travar batalhas que não podemos ganhar, perante o garrote financeiro aos bancos, Tsipras tomou aquela que eu considero a única decisão responsável, isto é, capitulou, o contrário teria provavelmente dado origem a uma catástrofe humanitária na Grécia, onde já então existiam problemas com refugiados, para além do sofrimento da pobre população grega. Claro, o que aconteceu foi uma vergonha para a Europa, mas contrariamente à Esquerda da Esquerda, eu acho que ele procedeu mal no princípio e bem no fim, e não alinho nada nas teses de que ele traiu os gregos (que voltaram a votar nele, aliás). Traiu sim os princípios ideológicos deles, mas parafraseando o outro, uma vida que seja vale bem uma missa. Costa é de outra cepa e sabe perfeitamente que com Schaeuble e Co as coisas fiam fino. É preciso saber negociar e dar sempre espaço para o outro lado recuar sem perder a face (e Deus sabe quão importante isso é). Por isso é que me chateia que o PCP e o BE, que nunca apresentaram contas sobre os custos, oportunidades e riscos de uma saída do Euro venham para aí de peito feito com as habituais entradas de leão... Lenine e Trotsky podiam não ser personalidades muito recomendáveis mas sabiam perfeitamente distinguir o lado forte e fraco de uma corda... Como Costa, aliás...
O Varufakis tinha um plano, parece; mas desentendeu-se com o Tsipras.
Quanto à 'capitulação' deste, ainda não quero chamar-lhe tal; há recuo e não há servilismo à Passos Coelho. O processo ainda está em curso.
Quanto ao que por cá se passa, até agora as coisas correm menos mal, mérito do PS, do PCP e, apesar da retórica, também do Bloco.
De qualquer modo, há uma coisa que não podemos admitir, que é a humilhação. Nenhum cidadão, e muito menos um político, deve estar disponível para aceitar tratamento desigual numa comunidade de pares. É claro que isto tem inúmeras implicações, que não é possível tratar agora aqui; mas em qualquer processo com que nos venhamos a defrontar, deveremos exigir verdade aos dirigentes políticos; e cidadania responsável aos cidadãos -- ambas as exigências quase impossíveis de alcançar, é verdade; mas poderemos estar perto de um momento histórico em que teremos de saber se queremos ser cidadãos exigentes, dentro e fora do país, ou outra coisa.
Bom, Varoufakis diz que o plano foi discutido num grupo restrito e que tais discussões não passaram disso porque preparar uma operação de tal envergadura obrigaria a que a informação fosse tornada pública (seria impossível evitar fugas, de qualquer maneira) e que isso iria exacerbar a crise. Há também aquele pormenor da suposta necessidade de entrar ilegalmente na rede de computadores do Banco da Grécia, ou lá o que foi, que a ser verdade, mostraria o amadorismo de toda essa empresa. Quanto à questão da nossa exigência enquanto cidadãos, tudo depende do que estiver em causa. Se a alternativa fosse entre austeridade à Passos ou caos económico à Maduro, eu tenho que confessar que votaria no Passos, por muito execrável que a figura me pareça. Na Venezuela falta tudo, e o orgulho nacional não justifica a perda de vidas inocentes. Nessa medida, um planeamento adequado de uma saída o mais ordenada possível do Euro, mesmo que em rotura com a UE, seria absolutamente essencial. Isto implicaria constituição de reservas de moeda estrangeira (o ouro que dispomos no BP e em Inglaterra provavelmente não serviria para nada, e este último acabaria arrestado pelos tribunais britânicos emm caso de default), de mecanismos de racionamento de bens essenciais e medicamentos, de impressão e distribuição de moeda, etc. Até agora, para além de retórica vazia vinda da Esquerda, não vi ninguém apresentar sequer um estudo detalhado de tudo o que seria preciso fazer (o livro de Louçã e Ferreira do Amaral é um bom esboço dos problemas, mas não mais do que isso). E temos também que estar preparados para que a maioria rejeite esta visão e prefira continuar com a austeridade, a não ser que não haja escolha e sejamos empurrados... O Rui Tavares chama a todos os que clamam contra a UE pseudo-eurocéticos, porque se esquecem de explicar todos os problemas inerentes à sua posição. Claro que há alternativas, não há é almoços grátis...
Amadorismo: menor, apesar de tudo, do que o demonstrado pelo pessoal do Brexit.
Maduro e Passos: então e não há nada no meio? Além disso, Maduro não é uma realidade europeia, a América Latina -- só não digo no seu pior, porque consegue haver pior.
Duvido que o PC apresente retórica vazia. Podem é não dizer tudo, pois tudo marcharia mais fino...
Eu oiço o Ferreira do Amaral, e não só, com atenção, e, portanto, passo.
Não se esqueça de que está a dialogar com um europeísta, e mais, com um federalista. Mas o que aqui estamos a discutir não é europeísmo nem federalismo, mas o condicionamento, ilegítimo, de uma parte dos países da UE sobre outra. A UE não foi feita para isto, e, portanto tem de haver resposta política, que obviamente terá de ser inteligente e efectiva -- ou inteligentemente efectiva.
Quanto ao resto, cabe às gentes decidirem -- se deixarem -- se querem ser mais pobres mas com dignidade (com governantes decentes, o que não é fácil) ou se querem ser empregados de mesa dum resort chamado Portugal.
Eu presumo que a maioria quererá ser criada -- a chatice que seria não ter dinheiro para o plasma para o cubículo ou 5 dias na Rep. Dominicana.
Se o PC está a esconder a mão, então é pior do que eu pensava. A UE foi construída por burocratas nas costas dos cidadãos, que votaram sempre contra os aprofundamentos da União. Esperar-se-ia que quem propõe alternativas fale em mais do que políticas patrióticas de Esquerda e mostre o jogo, até porque eu gosto muito da Democracia Parlamentar e desconfio das outras formas da dita. E seria igualmente de esperar que o PS andasse a estudar vias alternativas. Louçã notou um dia que no estudo económico publicado pelo PS antes das eleições, admitia-se que Portugal teria que sair do Euro se o crescimento continuasse anémico. Quanto ao resto, pessoalmente não me importo de ficar mais pobre para poder viver com dignidade, mas não estou nada disposto a deixar o destino nas mãos de leninistas incompetentes, de Esquerda ou de Direita. Indignidade por indignidade, vivo bem com o Sr. Schaeuble (better the devil you know)...
Ah, sim, Varoufakis é muito mais inteligente que Gove, Johnson, Farage et al, mas a situação da Grécia é bastante pior, logo ali não havia mesmo lugar para amadorismos. Pelo menos Theresa May é uma pessoa competente (já se é decente, não sei bem, porque o seu registo tem zonas de sombra). Claro, o RU vai provavelmente caminhar para uma recessão e o resto da UE ainda vai pagar o pato (a começar por nós). E eles têm um défice da balança comercial de 7%, pelo que se arriscam a 'stagflation', recessão com aumento da inflação por via da desvalorização da libra. Espero que isso não aconteça, mas é uma possibilidade...
O PC é um partido marxista-leninista, e parece que não se reformou. Está, por isso, a fazer o seu papel, que, no momento, é conveniente para ele, para o PS e para o BE. Nenhuma ilusão quanto a isso.
Mas, que diabo!, entre a finança, que manda nisto tudo, e o soviete, há outros caminhos. O meu receio é que isso só se torne evidente da pior maneira...
Sobre a T. May, credito-lhe o bom ar. Suponho que seja algo mais que isso, uma vez que ser ministra do interior nesta fase, em Inglaterra, não deve ser nada fácil.
(e ainda) sendo o papel do PCP conveniente para si, PS e bE, é também muito conveniente para o país -- a tal geringonça.
Sim, o PCP não se reformou porque sabe que no dia em que isso acontecer deixa de ser PCP ou mesmo de existir. O pior dessa atitude (aliás o Bloco também tem tiques desses) é não perceber que vivemos numa sociedade pós-industrial onde provavelmente o baixo crescimento vai ser não uma escolha mas uma obrigação por causa dos problemas ambientais, e onde a automatização está a matar completamente o modelo industrial que fornecia votos aos partidos de Esquerda. Não é coincidência que o precariado jovem no RU tenha votado a favor do Bremain, e o operariado mais velho tenho protestado contra os novos tempos e contra a imigração. O problema é que como o voto no Brexit mostra, as pessoas podem sempre escolher uma via protecionista (e estão no seu direito), mas a globalização acabará sempre a impor-se, provavelmente da pior maneira. Idealmente, aqueles que acreditam na globalização como algo de positivo (como eu) deveriam reconhecer que são necessárias medidas de correção, se queremos preservar a Democracia Liberal. Mas como convencer Schaeuble et al disto? P.S. Mas sim, enquanto continuarem todos alinhados com a Geringonça já não é mau...
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