Manuel da Fonseca é, sempre foi, o meu escritor de eleição da geração neo-realista de 40. Os romances, os contos, os poemas surgiram como se não fossem trabalho literário de um iniciante (como, ao tempo, notou João Pedro de Andrade). As suas personagens, os seus ambientes têm os contornos épicos e trágicos que lhes dá não apenas a desgraça da extrema pobreza alentejana, mas também um porte digno de muitos desses desvalidos, que lhes alimenta a propensão para a revolta. Revolta contra o que é mais forte do que eles, revolta, por vezes, nem sabem bem contra quê:
«Seca e breve como uma chicotada, a praga rompe dos lábios azedos da velha: /-- Raios partam este vento!/ Por instantes, as duas mulheres entreolham-se. A velha de punho no ar, a boca ainda aberta pelo grito. [...]» Seara de Vento (1958).
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