domingo, julho 26, 2009

Antologia Improvável #390 - Ruth Sylvia de Miranda Salles

RETRATO

Ah, Senhor, por que não sermos
amados pelo que somos,
e sim pelo que nos sonham?

Os mais prementes anseios
abandonamos na vida.
Resta a mágoa adquirida.

Com que torturado esfôrço
arrastamos o que temos
para fora da moldura!

Para que o olhar amado
resplandeça de ternura,
há que ser outro o retrato.

A mágoa de não nos sermos
guardemos adormecida.
Para não manchar a tela

tôda lágrima guardemos.
E que as ondas dêsse pranto
embalem tamanha perda.

Ah, Senhor, nessa premência
de termos o que nos trazem,
de sermos o que nos sonham,

afinal o que é que somos?
Somos o vasto silêncio
da solidão que nos fazem.


Pastoral / A Nova Poesia Brasileira
(edição de Alberto da Costa e Silva)

2 comentários:

rose marinho prado disse...

E quando nasci mamãezita cortou vários figurinos e fez um álbum para quando eu fosse moça. Tentei seguir, mas não! fugi fugi...e nunca mais encontrei molde.

Ricardo António Alves disse...

Bom sinal, Rose.