Era um muro antigo, que se erguia
Em quinta solarenga, que cercava.
As árvores que ao pé do muro havia
Mal mostravam o fruto a quem passava.
Pela estrada, que o sol esbraseava,
Uma turba famélica seguia,
Que olhando o fruto na alta ramaria,
Tinha esse ar com que Cristo agonizava...
Falava o fruto aos pobres com tristeza;
«Sou da fome; comei-me em liberdade...»
E o muro hostil gritava-lhes: «Ladrões!»
Este muro oprimindo a Natureza,
É quem oprime aí toda a Verdade,
Todo o Amor, separando os corações!
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Grão de Trigo / Obra Poética
(edição de Joaquim Magalhães)
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