É mais importante conhecer Shakespeare ou Miguel Ângelo do que «fazer investigação» a respeito deles. Pode a investigação não fazer surgir nada de novo, mas do conhecimento brota sempre prazer e enriquecimento. Parece mil vezes lamentável que as nossas universidades estejam tão organizadas que não se dê por esta diferença. Muito do mal-estar das ciências humanas poderia desaparecer do dia para a noite se se tornasse claro que não precisam imitar as ciências exactas para continuarem a ser respeitáveis. Pode haver uma ciência da cultura, mas pertence à antropologia e à sociologia. O historiador cultural quer ser um académico, não um cientista. [...] Podemos ter desconfiança quanto às intepretações actuais de Shakespeare ou ao modo como Bach é hoje executado e querer chegar à verdade nessas matérias. Todavia, em toda esta investigação o que o historiador cultural verdadeiramente ambiciona é servir a cultura, e não alimentar a indústria académica.
Para uma História Cultural
(tradução de Maria Carvalho)
2 comentários:
Inteiramente de acordo. Se retirarmos completamente o factor lúdico ao conhecimento, muito deste conhecimento se perde por falta de interesse espontâneo. É como aqueles turistas que conhecem o mundo inteiro através da lente de uma máquina fotográfica, mas nunca param para olhar e apreciar de facto uma paisagem.
Abraço
Ana
Gombrich era um cavalheiro, por isso falava da indústria académica; mas no que todos estamos a pensar (ou, pelo menos eu, no que estou a pensar) é no lixo académico, que se auto-alimenta e justifica.
Outro abraço.
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