Quando eu agonizar, Senhor,
Vencido sob a cruz que me impuseste,
Não permitas que seja de amargor
O derradeiro instante que me reste.
Tenta-me, até ao fim com toda a provação!
Só essa, Pai! só essa não.
Para tanto, bastara que deixaras
Que a criança mais nova da família,
Por um acaso extraordinário,
Desses que tu preparas,
Velasse inconsciente a minha última vigília
No frio quarto solitário.
Já cego, eu poderia, então, inda sonhar
A minha última lágrima aquecida
Por seu sorriso, seu olhar...
Isso me bastaria, Pai! para acabar
Sem maldizer a vida.
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In Líricas Portuguesas. 2.ª Série
(edição de Cabral do Nascimento)
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