terça-feira, janeiro 23, 2007

Uma leitura da «presença» #12

Álvaro Cunhal
Explica-se por isso o ataque que desde finais da década de trinta a revista passou a sofrer por parte de sectores neo-realistas alinhados com o PCP. Está adquirido que o labéu redutor da «arte pela arte» imputado à presença e objurgatórias do género da «torre de marfim» e do «umbilicalismo», que alegadamente procuravam denunciar uma atitude estética de alheamento dos homens e dos seus problemas mais ingentes -- denúncia que continha em si uma reprovação ética --, não foi mais do que um pretexto para fustigar o fervoroso apoliticismo artístico de Régio e Simões (que não de Casais) e separar as águas entre duas formas de conceber a arte. (42) Numa missiva dirigida a Simões, o futuro autor de Davam Grandes Passeios aos Domingos notava a divergência assumida por um aguerrido sector de novos escritores em oposição à presença: «Uma geração começa a mexer-se contra nós, é certo -- mas contra o que em nós é melhor só pode mexer-se pelo que nela é pior.» (43)
(42) Sobre a polémica entre Álvaro Cunhal e José Régio, num contexto histórico-cultural, ver José Pacheco PEREIRA, Álvaro Cunhal -- Uma Biografia Política, vol. I, Lisboa, Temas e Debates, 1999, pp. 358 e segs.; José Augusto SEABRA, «Cunhal versus Régio ou o Ideólogo contra o Poeta», Boletim, n.º 4-5, Vila do Conde, Câmara Municipal / Centro de Estudos Regianos, 1999, pp. 101-110.
(43) Carta de 21 de Março de 1936, in Eugénio LISBOA, O Segundo Modernismo em Portugal, p. 59.
(continua)

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