Imagine-se!, eu que acho imensa piada à mulatice da minha bisavó Ida, de Pernambuco, chego à conclusão que com inquéritos deste jaez, também posso descobrir-me, afinal, "racista"...
Já expressei aqui várias vezes a minha percepção sobre a existência de racismo em Portugal, a última das quais a propósito de
vandalismo. O racismo biológico, o único que poder ser caracterizado como tal, é quanto a mim residual e rupestre. Outra coisa é o "racismo" que sofre quem é pobre e vive num gueto. É classista e defensivo, por razões tão óbvias que me dispenso de pormenorizar. Há, é verdade, e empiricamente me parece com dimensão superior, fenómenos de xenofobia de que são alvo caboverdianos, ucranianos, brasileiros de todas as cores. Também aqui as razões são óbvias, não é preciso sociologia de meia-tigela para o perceber.
Pois bem, um inquérito europeu e um "
estudo" anunciam que 62% dos portugueses manifestaram alguma forma de racismo. Diz o
Expresso que apenas 59% dos 1055 inquiridos discordaram da existência de grupos étnicos mais inteligentes do que outros. talvez ficasse melhor escrever que ainda há 41% de portugueses que acreditam em superioridade e inferioridade "rácica"; se rigoroso, o inquérito, 41%, é ainda uma porção significativa de criaturas sem saneamento básico interno.
Mas um inquérito que se sustenta numa pergunta sobre se há "culturas mais civilizadas do que outras" deixa-me as maiores dúvidas, pois seria de espantar que a maioria dos indígenas a percebesse.
A cultura, da técnica agrícola à religiosidade, é sempre uma resposta ao entorno; a civilização é o complexificar adquirido, constante e renovado dessa resposta.
O nivelamento ou o destaque de umas sobre outras é mera ideologia. E poderá ser tema para outras postagens, assim tenha tempo e me apeteça. Mas para deixar aqui vincada a minha recém-adquirida qualidade de "racista", sempre direi que uma comunidade que partilha os valores de liberdade, autoquestionamento, inclusão plena e que tolera o dissenso será sempre civilizacionalmente superior à que não o faz, e isto tanto é válido para a 5.ª Avenida como na maloca mais recôndita da Amazónia. É a minha resposta, também ela ideológica, é claro.