Quando leio que a decisão que anula a proibição do 'burquíni' é "pequena vitória para a liberdade das mulheres", estamos conversados.
O júbilo (a cegueira) explica-se por essa "pequena vitória" ser vista como derrota do "imperialismo cultural europeu". Ora, não negando que existe um imperialismo cultural europeu, ocidental e até cristão (como existe um imperialismo cultural saudita, por exemplo...), a última coisa que os anti-imperialistas de sofá deveriam sancionar seria a opressão, neste caso da mulher.
As mulheres muçulmanas que arduamente durante décadas conseguiram ver-se livres da opressão nas sociedades que tiveram à proa movimentos laicos -- os países do Magrebe, o Egipto, a Síria, o Líbano, o Iraque, a Jordânia, são, para estes simplórios, vítimas desse imperialismo cultural; onde elas são mesmo livres é na Arábia Saudita, e nos países do Golfo.
Como não se acredita que estes defensores da liberdade da mulher não saibam que não sua maioria, elas são obrigadas a cobrir-se (entre muitas outras restrições atentatórias da sua dignidade) , aqui, sim, teria cabimento a observação de Fernanda Câncio: " Às tantas é porque não é, nunca foi e nunca será com as mulheres e a sua opressão que estamos ralados, verdade?"
2 comentários:
Acho que se a questão fosse apenas de liberdade religiosa, eu teria que defender o direito de algumas mulheres de se cobrirem de véus (ou de burquinis). Infelizmente, o carácter patriarcal das sociedades muçulmanas (e a sua reprodução no Ocidente) não é só defendido por homens, mas também por muitas mulheres. Mas julgo que nesta polémica se vai muito além disso. É que estas mulheres com este gesto não estão apenas a exercer a liberdade de consciência (alguém imagina uma muçulmana pia e submissa a exibir as suas formas debaixo de um tecido molhado?). Não, isto é propaganda de uma interpretação particular do Islão que também é defendida por energúmenos que se fazem explodir em aeroportos, ou que fuzilam inocentes, ou ainda que atiram camiões a toda a velocidade para cima de famílias que não queriam mais que celebrar um dia nacional do seu País. E com este tipo de propaganda não deve haver contemplações de nenhuma ordem. Como diz o Sheik Munir, quem não quer viver numa sociedade liberal, é livre para ir viver para outro lado...
Tal e qual.
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