Portugal perdeu hoje um dos seus maiores. Como poeta, foi um dos mais significativos do seu tempo, cujo estro era suficientemente intenso para impedir que a cultura vasta e sólida afogasse a poética em eruditismo estéril. Será sempre um autor a ter em conta em qualquer antologia do tempo que lhe coube. Enquanto crítico e ensaísta, ombreia com os grandes, sendo também um respeitadíssimo camonista. Acresce uma contínua actividade de tradutor, aclamado pelas versões que realizou de Shakespeare e Dante, entre muitas outras.
Do maior relevo, dentre as muitas funções públicas que desempenhou, foram a direcção editorial exemplar da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, e o brilho com que presidiu à Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Num e noutro lugar, o seu desempenho foi reconhecido e louvado por todos os quadrantes politico-ideológicos, e a acção que aí realizou deixou frutos, prolongando-se pelo tempo futuro. E foi, como se sabe, o mais combativo adversário do famigerado Acordo Ortográfico, contra o qual se bateu inteligente e denodadamente, sem que o tolhesse a pesada e desesperante inércia duma sociedade que passava tranquilamente ao largo das preocupações e dos interesses duma vida: a literatura e a história de Portugal.
6 comentários:
Não sabia que ele tinha morrido... que pena.
Era já esperados, infelizmente.
O problemas das antologias é darem um conhecimento limitado, embora dêem algum, e eu ainda não li nenhum livro dele de fio a pavio. Mas tenho as traduções de Dante como referência (só não tenho os livros porque os emprestei e... bem, lá se foram).
Durante muito tempo discordei das suas opiniões sobre o AO90, deve ter sido uma espécie de justiça poética, mas ontem dei por mim a repensar o que lhe li sobre o dito e a tender para a concordância.
De qualquer das formas, senti hoje a sua morte como uma grande perda e a verdade é que me deixou triste.
Belo texto, Ricardo, grande perda :-( Abraço
Carla, eu gosto muito de antologias, quer sejam abrangentes, procurando dar a conhecer um período específico ou mesmo toda a história, nas suas linhas-de-força; também gosto de antologias temáticas (até já co-organizei uma); e ainda das antologias elaboradas por determinados autores, através das afinidades por eles identificadas.
Quanto ao VGM, recomendo muito o «Laocoonte -- Rimas Várias, Andamentos Graves», publicado na Quetzal, entre outros possíveis.
Quando uma pessoa como ele, que ocupou intensamente o espaço público com aqulea qualidade, desaparece, deixa-nos sempre tristes.
Paulo, meu velho, obrigado pelo elogio.
Abraço
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