A Casa do Pó, de Fernando Campos
A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende
Baía dos Tigres, de Pedro Rosa Mendes
Equador, de Miguel Sousa Tavares
O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler
quarta-feira, outubro 31, 2007
terça-feira, outubro 30, 2007
Antologia Improvável #264 - António Pinheiro Guimarães
Desaparece o tempo
no tempo.
O espaço prolonga-se
no espaço.
Na varanda em roxo
o tempo perdeu-se,
e o espaço é saudade
do espaço que desapareceu.
Saudade fora do espaço,
saudade em roxo.
Saudade única varanda
a prender o tempo,
a dilatar o espaço!
Roxo
no tempo.
O espaço prolonga-se
no espaço.
Na varanda em roxo
o tempo perdeu-se,
e o espaço é saudade
do espaço que desapareceu.
Saudade fora do espaço,
saudade em roxo.
Saudade única varanda
a prender o tempo,
a dilatar o espaço!
Roxo
segunda-feira, outubro 29, 2007
domingo, outubro 28, 2007
Figuras de estilo - Fernando Lopes-Graça
A funda é a arma mais pronta da juventude; mas é também, é muitas vezes também, a resposta viva e exaltada que somos impelidos a dar aos rotundos e imperturbáveis desconchavos que à nossa volta, e num meio em que a trapaça intelectual e artística tem corrido à rédea solta, ofendem o bom senso, a razão e o decoro elementar que se deve pôr nas operações do espírito.
A Caça ao Coelho e Outros Escritos Polémicos
sábado, outubro 27, 2007
Do tempo e dos costumes
Ia com as mãos a abanar quando cheguei à consulta do meu osteopata americano -- ou com os bolsos a tinir: parece que as caixas multibanco, pelo menos em Cascais, tinham entrado em curto-circuito e não havia dinheiro para ninguém. Lá me desculpei e ouvi os maiores protestos de confiança na minha presumível honestidade, acima de qualquer suspeita. Particular credito neste seu paciente de vértebras destrambelhadas pelas mais dissolutas posturas? Não especialmente. Parece que por cá não seremos muito dados à aldrabice. Pelo menos a honestidade será uma característica de quem tem problemas de coluna, mantendo-a sempre vertebral, apesar de todos os contratempos... Em vinte anos de actividade em Portugal, o meu osteopata americano só por três ou quatro vezes viu os seus serviços serem pretensamente liquidados através de cheques carecas. Algo inimaginável no seu país ou em Inglaterra. «É incrível!», dizia-me ele, sinceramente admirado.
Seremos nós mais honestos do que os americanos ou ingleses? Duvido muito. Creio que o que tem defendido o meu osteopata americano de ser vigarizado pela esmagadora maioria dos seus pacientes portugueses é mesmo aquele constrangimento moral, que vem das sociedades pré-industriais, em que é condenável ficarmos em dívida para com alguém, tendo-lhe criado a justa expectativa da retribuição do seu trabalho. Não por altruísmo ou honestidade intrínseca, receio-o; mas, precisamente porque em sociedades pequenas e fechadas nada há de pior do que o apontar do dedo e o comentário depreciativo sobre quem possa haver a suspeita de não demonstrar um comportamento honrado. Quando as redes sociais se estabelecem por outros vínculos, que não os do parentesco ou os da vizinhança, já podemos ser razoavelmente desleixados para com os outros, sem temermos a sanção da comunidade. Dir-se-á que não é esse o contexto das nossas cidades cosmopolitas de Lisboa ou mesmo Cascais. É verdade, mas não nos esqueçamos de que os nossos avós só anteontem saíram das aldeias e das hortas, por isso ainda sentimos aquele imperativo social de correspondermos às expectativas ou de, pelo menos, guardarmos as aparências.
Por mim, vou já tratar de pagar o que devo, porque o meu osteopata merece -- e não vá alguém chamar-me caloteiro!... ;)
sexta-feira, outubro 26, 2007
Antologia Improvável #263 - Virgínia Vitorino
VAIDADE
Eu vim predestinada a este mundo!
O que sinto pairar no meu destino
tem, por ser entusiástico e profundo,
a calorosa vibração dum hino!
Não me detenho em mim. Não me defino.
-- Olho o mar, sem medir quanto ele é fundo...
Se vejo a chama dum clarão divino,
do divino clarão toda me inundo!
Vida! Quero viver! Que o sofrimento
seja fumo arrastado pelo vento
e que eu realize a glória que senti!
........................................................................
-- Pela estrada do Orgulho iam meus passos...
E ao fim de tudo, -- vês? -- pendem-me os braços,
canso, e pergunto a Deus: -- Porque nasci?
Renúncia
Eu vim predestinada a este mundo!
O que sinto pairar no meu destino
tem, por ser entusiástico e profundo,
a calorosa vibração dum hino!
Não me detenho em mim. Não me defino.
-- Olho o mar, sem medir quanto ele é fundo...
Se vejo a chama dum clarão divino,
do divino clarão toda me inundo!
Vida! Quero viver! Que o sofrimento
seja fumo arrastado pelo vento
e que eu realize a glória que senti!
........................................................................
-- Pela estrada do Orgulho iam meus passos...
E ao fim de tudo, -- vês? -- pendem-me os braços,
canso, e pergunto a Deus: -- Porque nasci?
Renúncia
quinta-feira, outubro 25, 2007
quarta-feira, outubro 24, 2007
terça-feira, outubro 23, 2007
Antologia Improvável #262 - Olavo Bilac
LÍNGUA PORTUGUESA
Última flor do Lácio, inculta e bela,
és, a um tempo, esplendor e sepultura:
ouro nativo, que na ganga impura
a bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
tuba de alto clangor, lira singela,
que tens o trom e o silvo da procela,
e o arrôlo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
de virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
o gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Tarde
Última flor do Lácio, inculta e bela,
és, a um tempo, esplendor e sepultura:
ouro nativo, que na ganga impura
a bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
tuba de alto clangor, lira singela,
que tens o trom e o silvo da procela,
e o arrôlo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
de virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
o gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Tarde
segunda-feira, outubro 22, 2007
domingo, outubro 21, 2007
Fantástica Anabela
Ganhou um Festival da Canção em 1993, com 17 anos. Até 2000, pouco ouvi falar dela, até aparecer no "Acontece", uma entrevista e um clip com o galego Carlos Núñez. O seu projecto Aether teve alguma repercussão mediática. Julgo que está a trabalhar com La Feria.
Devía(mos) reparar mais nela.
(Além de dois clips do álbum Mayo Longo, de C. Núñez, reproduzo também, por curiosidade, e também para vermos a sua evolução, uma gravação da então adolescente Anabela no Eurofestival).El Pózo de Arán
Nana de Lluvia
A Cidade até Ser Dia
sábado, outubro 20, 2007
Antologia Improvável #261 - Admário Ferreira (3)
Palavras açucaradas
Têm favos de impostura,
Doces mentiras, veladas
Com intenções à mistura.
Tufo de Violetas
Têm favos de impostura,
Doces mentiras, veladas
Com intenções à mistura.
Tufo de Violetas
sexta-feira, outubro 19, 2007
Caracteres móveis
A essência do fanatismo reside no desejo de obrigar os outros a mudar. Nessa tendência tão comum de melhorar o vizinho, de corrigir a esposa, de fazer o filho engenheiro ou de endireitar o irmão, em vez de deixá-los ser. O fanático é uma das mais generosas criaturas. O fanático é um grande altruísta. Está mais interessado nos outros do que em si próprio. Quer salvar a nossa alma, redimir-nos. Livrar-nos do pecado, do erro, do tabaco, da nossa fé ou da nossa carência de fé. Quer melhorar os nossos hábitos alimentares, ou curar-nos do alcoolismo e do hábito de votar. O fanático morre de amores pelo outro.
Contra o Fanatismo
(tradução de Henrique Tavares e Castro)
quinta-feira, outubro 18, 2007
quarta-feira, outubro 17, 2007
terça-feira, outubro 16, 2007
Caracteres móveis - Lev Tolstói
A a asserção de que a arte pode ser boa arte e simultaneamente incompreensível para um grande número de pessoas é extremamente incorrecta, e as suas consequências são ruinosas para a própria arte; mas ela é ao mesmo tempo tão vulgar e está tão arreigada nas nossas concepções que é impossível tornar suficientemente claro todo este absurdo.
O que É a Arte?
(a partir da tradução inglesa de A. Maude)
O que É a Arte?
(a partir da tradução inglesa de A. Maude)
segunda-feira, outubro 15, 2007
«O eclipse de deus»
O Cardeal Saraiva Martins retomou ontem na RTP o argumento do «eclipse de deus» na sociedade contemporânea. O eclesiástico confunde deus com a sua igreja, mesmo assim muito pouco eclipsada, como se verifica pela consagração do novo templo -- que parece tornar, enfim, Fátima de lugar intragável em lugar visitável, pelas magníficas obras de arte que parece encerrar.
Deus imposto à bomba pelos fanáticos islâmicos, o banditismo organizado e impune das iurdes, a beatice charlatã dos ratos e das ratas de sacristia, a reacção preocupada da igreja católica em face das seitas, do deus-consumo, das patetices new age & e outro lixo concorrente, tornando-a mais agressiva.
A relação com o transcendente é um fenómeno individual e só ao indivíduo respeita -- e como tal deve ser respeitada. Outro é o caso das organizações de deus, do proselitismo arrebanhador, da intolerável intromissão na vida das pessoas.
Eclipse é coisa que infelizmente não se vislumbra.
domingo, outubro 14, 2007
Casa do Dragão
A casa que João Gaspar Simões mandou construir em Cascais exibe um catavento invulgar: em vez do tradicional galo, ostenta um inusitado dragão: o motivo desta originalidade começa a ser desvendado aqui.
(foto de Guilherme Cardoso)
sábado, outubro 13, 2007
Snakes And Ladders
Cantor discreto, voz de veludo, Gerry Rafferty é um excelente songwriter e um óptimo melodista. A música deste escocês tanto se filia no rock como na canção tradicional britânica, na linha, por exemplo, dos Beatles e de McCartney, em particular. É seu um dos grandes hits da década de setenta: o empolgante «Baker Street», do álbum City To City (1978).
Snakes And Ladders (1980) trilha o percurso da nostalgia, do amor e da infância. Disco muito equilibrado, é difícil destacar composições. De qualquer modo, arrisco o love-blues «Bring It All Home», com um sax maravilhoso tocado por Raphael Ravenscroft; «The Garden Of England», com uma melodia angustiosa que é charge aos nostálgicos do Império; «Café Le Cabotin», saudosa também, mas dos tempos dos ballroom dancings; e o extraordinário rag que é «Syncopatin' Sandy», nome de um estranho pianista movido a whiskey, que Gerry terá conhecido na juventude, e que cometia a proeza de tocar noite e dia sem demonstrar cansaço...
Snakes And Ladders tem, portanto, as virtudes do seu autor: sem modas, é susceptível de ser fruído em qualquer ocasião, tempo e lugar.
sexta-feira, outubro 12, 2007
quinta-feira, outubro 11, 2007
Antologia Improvável #259 - João Cabral de Melo Neto
O URUBU MOBILIZADO
Durante as secas do Sertão, o urubu,
de urubu livre, passa a funcionário.
O urubu não retira, pois prevendo cedo
que lhe mobilizarão a técnica e o tacto,
cala os serviços prestados e diplomas,
que o enquadrariam num melhor salário,
e vai acolitar os empreiteiros da seca,
veterano, mas ainda com zelos de novato:
aviando com eutanásia o morto incerto,
ele, que no civil quer o morto claro.
2.
Embora mobilizado, nesse urubu em ação
reponta logo o perfeito profissional.
No ar compenetrado, curvo e conselheiro,
no todo de guarda-chuva, na unção clerical,
com que age, embora em posto subalterno:
ele, um convicto profissional liberal.
A Educação pela Pedra
Durante as secas do Sertão, o urubu,
de urubu livre, passa a funcionário.
O urubu não retira, pois prevendo cedo
que lhe mobilizarão a técnica e o tacto,
cala os serviços prestados e diplomas,
que o enquadrariam num melhor salário,
e vai acolitar os empreiteiros da seca,
veterano, mas ainda com zelos de novato:
aviando com eutanásia o morto incerto,
ele, que no civil quer o morto claro.
2.
Embora mobilizado, nesse urubu em ação
reponta logo o perfeito profissional.
No ar compenetrado, curvo e conselheiro,
no todo de guarda-chuva, na unção clerical,
com que age, embora em posto subalterno:
ele, um convicto profissional liberal.
A Educação pela Pedra
quarta-feira, outubro 10, 2007
Caracteres móveis - Fidelino de Figueiredo
terça-feira, outubro 09, 2007
segunda-feira, outubro 08, 2007
Antologia Improvável #258 - Florbela Espanca (3)
A NOITE DESCE
Como pálpebras roxas que tombassem
Sobre uns olhos castanhos, carinhosos,
A noite desce... Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!
Assim mãos de bondade me embalassem!
Assim me adormecessem, caridosas,
E em braçadas de lírios e mimosas,
No crepúsculo que desce me enterrassem!
A noite em sombra e fumo se desfaz...
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe-me embriagada, louca!
E a noite vai descendo, muda e calma...
Meu doce Amor, tu beijas a minh'alma
Beijando nesta hora a minha boca!
in Poesia da Noite
(edição de Urbano Tavares Rodrigues)
Como pálpebras roxas que tombassem
Sobre uns olhos castanhos, carinhosos,
A noite desce... Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!
Assim mãos de bondade me embalassem!
Assim me adormecessem, caridosas,
E em braçadas de lírios e mimosas,
No crepúsculo que desce me enterrassem!
A noite em sombra e fumo se desfaz...
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe-me embriagada, louca!
E a noite vai descendo, muda e calma...
Meu doce Amor, tu beijas a minh'alma
Beijando nesta hora a minha boca!
in Poesia da Noite
(edição de Urbano Tavares Rodrigues)
domingo, outubro 07, 2007
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