segunda-feira, julho 30, 2007

estampa CXV

Edouard Manet, Almoço na Relva
Museu d'Orsay, Paris

Não somos mais do que o desejo / De outro desejo que nasceu.
António Botto

O Vale do Riff - Durutti Column, «Prayer»

domingo, julho 29, 2007

Tug of War

Quando se fizer uma grande antologia do trabalho a solo de McCartney, será necessário algo equivalente aos antigos álbuns duplos «vermelho» e «azul» dos Beatles.
Ele não foi apenas o mais popular dos «Fab Four», como o mais dotado de génio melódico. Autor de «Yesterday» a «Let It Be», passando por «Michelle», «Hey Jude» e inúmeras outras, foi dos quatro de Liverpool aquele que teve um percurso mais rico, embora cheio de altos e baixos, mas com composições que o redimem das tentações mais oportunisticamente comerciais. «Jet», «Band On The Run», «Silly Love Songs», «We All Stand Together» são alguns dos marcos assinaláveis desse caminho pejado de pequenas obras-primas, por vezes esquecidas num lado B dum single ou perdidas no meio da dezena ou dezena e meia de um Lp ou de um CD. Mas quem compôs «My Love» ou «Mull Of Kintyre» tem direito a todos os perdões e ao reconhecimento de todos os amantes da pop. Embora Lennon e Harrison tenham contribuído com o seu quinhão para manter acesa a chama mágica dos Beatles, é a McCartney que devemos a circunstância de ela continuar shining brightly -- pelo que fez, repito, antes e depois deles.
Tug Of War (1982) é um dos seus mais conseguidos trabalhos, não sendo alheia a esta constatação o concurso do produtor, George Martin, a quem já chamaram o «quinto Beatle»...
A música de McCartney costuma oscilar entre as evocações nostálgicas (musicais, líricas, vivenciais..) e a necessidade de intervenção em grandes temas da actualidade contemporâneas. Foi assim, por exemplo, com «Give Ireland Back to The Irish», em 1970. Neste LP são talvez mais abundantes as composições com carácter de intervenção: o racismo («Ebony And Ivory»), a Guerra Fria («Tug Of War»), a especulação bolsista («The Pound Is Sinking»). Em simultâneo, topamos com as sentidas evocações, directas ou indirectas, de outros tempos, em que Paul convida o seu ouvinte a aderir em conjunto às memórias evocadas. É o caso de «Ballroom Dancing», com um soberbo início num puxado piano quase ragtime; a presença de Ringo Starr em «Take It Away»; a piscadela de olho aos Beatles com a inclusão do refrão do velho «She Loves You» em «What's That You're Doing?» (única música em co-autoria, neste caso com Stevie Wonder); o dueto com o rocker Carl Perkins (autor de «Blue Swede Shoes») em «Get It» (o rock'n'roll foi sempre uma inspiração para McCartney); e, por todas, a sentida evocação, a amrgurada invocação de John Lennon, em «Here Today» -- propositada reminiscência de «Yesterday» --, em que se percebe a comoção diante do irreparável, após o assassínio daquele com que fez a dupla mais importante de toda a música popular, como se as coisas pudessem ter corrido de outra maneira entre ambos: «What about the night we cried? / Because there wasn't any reason left / To keep it all inside / Never understood a word / But you were always there with a smile // And if I say I really loved you / And was glad you came along / Then you were here today / For you were in my song / Here today». Referira-se ainda a colaboração de Andy Mackay, dos Roxy Music, de Denny Lane, ex-Moody Blues e ex-Wings, e, fazendo também a ponte com a segunda banda de Paul, da sua mulher, a malograda Linda McCartney, que soube ser ao longo de mais de duas décadas, não apenas a companheira devotada, como uma música indispensável pelo claro enetnedimento que ela possuía da personalidade musical do seu marido.
Termino falando de «Tug Of War», a já referida faixa inicial que dá título ao álbum, com um portentoso arranjo orquestral tão ao gosto de McCartney e Martin, perfeitamente harmonioso com a guitarra de Lane e com a secção rítmica; de «Wanderlust», um tema antológico com colorações épicas, uma espécie de rock-tambourin em que a percussão e os metais do Philip Jones Brass Ensemble quase nos transportam aos tempos de Monsieur Jean-Baptiste Lully, o compositor preferido de Luís XIV; finalmente, o aclamado «Ebony And Ivory», que para além das boas intenções conseguiu marcar o ano. Nem é um grande tema, mas não foi característica dos Beatles, nomeadamente de Paul McCartney, tornar o trivial sublime?

Esta semana n'O Vale do Riff






sábado, julho 28, 2007

o fim

de Cinco Vezes Dois, de François Ozon, com Valeria Bruni-Tedeschi e a música de Paolo Conte valem, o fim, Valeria e Conte, todo o filme

Antologia Improvável #244 - António Botto (4)

ASSIM PENSO E ASSIM O DIGO

Se alguém
Cai num choro e se debruça
Na mágoa que as próprias lágrimas dão,
Devemos falar, apenas,
Com palavras de ternura
Que envolvam
Esse triste coração.

Se é crueldade mostrar-se
Que nos fugiu a coragem para a luta
E que não somos mais
Do que um farrapo vencido,
Sem luz, sem fé, sem valor,
-- Cruel é quem ao aflito repreende
O amargo sentir da sua dor.


Baionetas da Morte

quarta-feira, julho 25, 2007

Acordes nocturnos


Caracteres móveis - Kropótkin

As sociedades humanas, sob pena de perecerem, são forçadas a voltar aos princípios fundamentais. Sendo os meios de produção obra colectiva da humanidade, têm que voltar à colectividade humana de onde saíram. A apropriação pessoal não é justa nem é útil. Tudo é comum, porque comum é a necessidade.


A Conquista do Pão
(tradução de Manuel Ribeiro)

O Vale do Riff - Mike Bloomfield & Al Kooper, «Stop»

terça-feira, julho 24, 2007

capismo

autor não identificado, capa para Sertão, de Coelho Neto
Livaria Lello Limitada, Porto, 1926

Não sei o que vai fazer o Tony Blair à Palestina, se a ideia for marginalizar o Hamas. O problema é que o Hamas já não é facilmente marginalizável, ainda para mais com um Abu Mazen irrelevante - disse-o a ministra Tzipi Livni --, nas mãos dos israelitas para sobreviver. Há a incógnita Marwan Barghutti, na cadeia; mas neste momento a Fatah parece uma "organização" tomada de assalto pelos bandidos; e os homens do primeiro-ministro (?) Ismail Hanie os verdadeiros patriotas.

Os EUA (e a UE) atrás não deram uma oportunidade ao Hamas, quando havia sinais de que este farias cedências relevantes, como o reconhecimento de Israel, com o regresso às fronteiras de 1967. Lidaram com a organização como se fosse monolítica ou uma espécie de filial da Al-Qaida na Palestina. Para já, as declarações de Condoleezza Rice em Lisboa foram uma desgraça pelo irrealismo e pela estupidez -- não dela, é claro, que se sujeita a fazer figuras tristes semelhantes às de Colin Powell na ONU. Veremos o que se segue.

O Vale do Riff - Procol Harum, «A Whiter Shade Of Pale»

estampa CXIV

Henri Matisse, O Atelier no Sótão

Museu Fitzwilliam, Cambridge, Mass.

segunda-feira, julho 23, 2007

Antologia Improvável #243 - Armindo Rodrigues

A MENINA FEIA

A menina feia
Senta-se à janela,
Mas quem vai na rua
Nem repara nela.

À noite no quarto
Despe-se a menina
Para se deitar.
Tem os seios duros
E a barriga lisa.
Mal tira a camisa
Logo o quarto fica
Cheio de luar.

E a menina feia,
Mas de corpo lindo,
Sonha que está nua
Sentada à janela,
E no meio da rua,
Com os olhos luzindo,
Os homens se matam
Por um riso dela.

Romanceiro / Líricas Portuguesas. 2ª. Série
(edição de Cabral do Nascimento)

O Vale do Riff - Dire Straits, «Why Worry»

sábado, julho 21, 2007

A propósito do caso «Tintin no Congo»


A Comissão Inglesa para a Igualdade Racial recomendou o boicote à comercialização do Tintin no Congo, por conteúdo racista (link). Muitos se indignaram com mais este ditame do politicamente correcto, entre os quais alguns amigos e cofrades bloggers (que não linko porque dá trabalho, e este blogue é preguiçoso). Compreendo a indignação de vários tintinófilos, espécie de que faço parte, mas não sou insensível ao mal-estar que pode resultar da leitura deste álbum.

Vejamos: trata-se da segunda aventura de Tintin, datada de 1931. O seu interesse, mesmo com a nova versão feita por Hergé, é essencialmente documental. Estou até convencido de que se o o seu autor fosse vivo actualmente, mais depressa «renegaria» este trabalho juvenil do que o inicial Tintin no País dos Sovietes. Tintin destina-se a um público alargado, composto, portanto, por crianças e jovens -- muitos deles negros. Se um adulto, independentemente da etnia, tem distanciamento e discernimento para relativizar a caricatura, situando autor, mentalidade, época, o mesmo não se passa com os mais novos. É, quanto a mim, escusado adicionar mais um factor de humilhação, mágoa ou amargura nalgo que se quer recreativo. Pode até tornar-se cruel, dada a natureza particular de que se reveste: um dos grandes ícones mundiais da BD.
Por isso, sendo contra a censura, totalmente descabida, parece-me avisada a decisão do grande retalhista livreiro que decidiu colocar o livro na secção de adultos.


Conflito à mesa do café

O John Lee Hooker perturbou-me a leitura do Armando Silva Carvalho.

quinta-feira, julho 19, 2007

Antologia Improvável #242 - Fausto José

VISÃO



Desconheço a matéria de que és feita,

Que mão febril teu corpo modelou;

Minha alma, ao pressentir-te, insatisfeita,

Como as ondas do mar se alevantou!



Oh! feminil visão clara e perfeita

Que o meu olhar profano dissipou,

Névoa que a luz do alvorecer enfeita

E o hálito da aragem dispersou!...



Na terra, em sonhos ando a procurar-te,

Na terra, pelo céu, e em toda a parte

Para beijar o rasto de teus pés...



Mas quanto mais minha alma te procura,

Mais teu vulto se perde na fundura...

E por ti morro sem saber que és!



Fonte Branca / Líricas Portuguesas. 2.ª Série

(edição de Cabral do Nascimento)

O Vale do Riff - Dexy's Midnight Runners, «Plan B»

quarta-feira, julho 18, 2007

Caracteres móveis - Oscar Wilde

Quem me dera ser capaz de contar a verdade... de viver a verdade. Ah! Viver a verdade é uma grande coisa.


Um Marido Ideal
(tradução de Carmo Vasconcelos Romão)

O Vale do Riff - Chuck Berry, «No Particular Place To Go»

segunda-feira, julho 16, 2007

una mujer desnuda es un silencio / que no admite pudor ni violaciones
Mario Benedetti

O Vale do Riff - Pepper Adams, «A Child Is Born»

domingo, julho 15, 2007

Antologia Improvável #241 - Luís Adriano Carlos

NITROGLICERINA

Um queixume febril enrola-se-me no corpo
como tiros de um vento alucinado, são 25
horas da tarde em cada nitrato de poema,
queixume subterrâneo de fictícios braços.

Projecta-se o recorte laminar nos porões barrocos
da tua mão que escreve com monstruosos lápis
de falésias sobre o mar na velha fotografia.

Jantaremos velas românticas a meio do restaurante.
Sonharemos galeras de sal e sangue no tempero da refeição.
Inventaremos um vendaval secreto por debaixo da mesa.

Pelas veias as velas e as selvas rasgam profundos vales:
adorei passear com as tuas janelas verdes, e lanço
beijos trovadorescos para os teus seios marítimos
até ao coração. O poema é por momentos
o nosso cardiograma.

Adeus, prometo escrever-te com regularidade
antes do regresso heróico das galés portuguesas
às praias desertas da tua excitação sexual.
Levo colunas de sonhos vermelhos, aluviões
de sangue que nos dedos apenas tremem como lagos,
holofotes de Molière sobre o meu dia adiado
enquanto o sangue escorre das areias para o pulmão.

Adeus, deixo-te a minha partida por fim todas as manhãs
à hora do noticiário, good-bye, my sweet friend,
I'll write you again sentado nos rochedos
de um epitáfio celeste. Adeus.


A Mecânica do Sexxo XXI

sábado, julho 14, 2007

One From The Heart

O artifício ao serviço da verdade. Ou de como um filme rodado em estúdio tem em si o selo da autenticidade, mesmo quando se torna mais onírico, ainda quando é mais feérico. E depois há a música de Tom Waits e a voz de Crystal Gayle. Foi dos poucos filmes que me levou à procura da banda sonora a seguir ao cinema. Outro, foi a do Magnólia, e as canções de Aimée Man


sexta-feira, julho 13, 2007

Caracteres móveis - Octavio Paz

O pragmatismo da social-democracia, a perda gradual do radicalismo e da visão de justiça que a haviam inspirado no princípio podem ser vistos como uma reacção face aos excessos e aos crimes do socialismo autoritário e dogmático; mas, ao mesmo tempo, a social-democracia não tem sido capaz de preencher o vácuo deixado pela falência da grande esperança comunista. Quererá isto dizer, como muitos prevêem, que chegou a hora das igrejas? Se assim vier a acontecer, espero que reste na Terra ao menos um pequeno punhado de seres humanos -- como no fim da Antiguidade -- que resistam à tentação da omnisciência divina, tal como outros, nos nossos dias, têm resistido à da omnisciência revolucionária.

«Breve panorâmica do velho mundo» [1967],
Uma Terra, Quatro ou Cinco Mundos

O Vale do Riff - Jack Teagarden, «Stars Fell On Alabama»

quinta-feira, julho 12, 2007

Pedro Nora e João Paulo Cotrim (argumento), Anita O'Day

Antologia Improvável #240 - Olegário Mariano

O ENTERRO DA CIGARRA

As formigas levavam-na... Chovia...
Era o fim... Triste outono fumarento!
Perto, uma fonte, um suave movimento,
cantigas de água trêmula carpia.

Quando eu a conheci, ela trazia
na voz um triste e doloroso acento.
Era a cigarra de maior talento,
mais cantadeira desta freguesia.

Passa o cortejo entre árvores amigas...
Que tristeza nas folhas... Que tristeza!
Que alegria nos olhos das formigas!...

Pobre cigarra! Quando te levavam,
enquanto te chorava a natureza,
tuas irmãs e tua mãe cantavam...


Últimas Cigarras

retrato de Olegário por Portinari

O vale do Riff - Artie Shaw, «Concerto For Clarinet»

terça-feira, julho 10, 2007

Figuras de estilo - Maria Archer

E frágil de corpo, enfermiço, não deixava nela a dor fascinante do esmagamento, a violência sedutora de ter ido na dianteira dum vendaval irresistível. Sim, era ardente no amor, vibrante, sedento das horas infinitas que se não contam. Mas largava-a insatisfeita, intacta na sua ansiedade, inquieta e aterrada perante o deus que descia à terra e regressava ao seu trono de nuvens sem deflagrar o milagre.


Ida e Volta duma Caixa de Cigarros

O Vale do Riff - Deep Purple, «Child In Time»

Antologia Improvável #239 - António Botto (3)

PALAVRAS DUM AVESTRUZ TODO GRIS

Arrancam-me as penas
E eu sofro sem dizer nada:
-- Sou ave
Bem educada.

E, se quisesse,
Podia
Morder-lhes as mãos morenas
A esses
Que sem piedade
Me roubaram estas penas que me cobrem.

E, no entanto,
Sem o mais breve gemido,
O meu corpo
Vai ficando
Desguarnecido.

E elas,
Aquelas
Que se enfeitam, doidamente,
Com estas penas formosas
-- Que são minhas! --
Passam por mim, desdenhosas,
Em gargalhadas mesquinhas.

Sim, eu sofro sem dizer nada:
-- Sou ave
Bem educada


Motivos de Beleza / Líricas Portuguesas. 2.ª Série
(edição de Cabral do Nascimento)

segunda-feira, julho 09, 2007

O Vale do Riff - The Moody Blues, «Nights In White Satin»

os últimos 5 livros

O meu velho Amigo Réprobo quis saber quais tinham sido as minhas cinco últimas refeições. Respondi-lhe que nem sequer me lembrava do jantar, quanto mais do almoço de anteontem... Gosto de comer bem, mas as refeições ou são para conversar em família ou para, em restaurante, ler o jornal. Por isso, aproveito a generosa possibilidade que ele me dá para falar dos últimos cinco livros que li. E são estes:

Estou a terminar uma das primeiras obras da prolífica Maria Archer, Ida e Volta duma Caixa de Cigarros, Lisboa, Editorial O Século, 1938. Maria Archer é uma das nossas grandes autoras da primeira metade do século XX. Estilo apurado, fluente, seguro, servindo uma fortíssima personalidade de escritora e de mulher. Uma figura interessantíssima e uma obra romanesca a resgatar.
Estou também a concluir este álbum do grande Hal Foster, Príncipe Valente, com pranchas correspondentes aos anos de 1943-44, editado pela Livros de Papel, Lisboa, 2005. Edição primorosa de Manuel Caldas e José Manuel Vilela que parece nem os americanos têm... O traço de Foster e a saga de Valiant bem o mereciam.
Com argumento de João Paulo Cotrim, autor do magnífico Salazar -- Agora e na Hora da Sua Morte -- e desenhos cheios de jive de Pedro Nora, Anita O'Day, para a colecção «BD Jazz», uma ideia das Éditions Nocturne, secundada em Lisboa pela Corda Seca (2003). O grande triunvirato das cantoras negras Billie Holiday, Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan fez esquecer injustamente esta branca excessiva e plena de swing.
Um livro de poemas de paulo da costa, Notas de Rodapé, Livros Pé d'Orelha, Vale de Cambra, 2005. Poesia auto-referencial (qual a que o não é?), acusando a tensão do afastamento e da fragmentação de quem vive há quase vinte anos no Canadá, sem inteira pertença aos mundos de cá e lá.
Finalmente, um grande xarope: Artur Portela [Pai], O Trapeiro Russo e Outras Histórias, Lisboa, Livraria Clássica Editora, s.d. Portela foi um jornalista exímio, repórter e chefe de redacção do Diário de Lisboa, o melhor jornal português que alguma vez existiu (refiro-me aos anos de Joaquim Manso, com Portela, e de Norberto Lopes, com Mário Neves). O que este livro demonstra, se fosse preciso, é que não basta escrever sem mácula e ter conhecimento da língua para se ser escritor, sequer mediano. A escrita faz-se com nervo, com as entranhas e não com lugares-comuns nem achados "originais" insólitos ou pesados. Arrastei a leitura até ao fim pela estúpida repugnância de deixar um livro a meio. Mas com que penas...

O pincel agora para alguns dos meus blogues favoritos, ainda não encadeados: Artes Plásticas , Aurelia (se houver tempo e disposição...), Cine-Australopitecus, Escola dos Ferroviários e Ma-Shamba.


sábado, julho 07, 2007

estampa CXIII

Juan Gris, O Livro
Museu Picasso, Paris


Tiveste a sorte de ter alguém / na tua vida a quem é tão difícil dizer / adeus?
Jorge Gomes Miranda

quinta-feira, julho 05, 2007

A entrevista de Zita Seabra

Retenho da entrevista de Zita Seabra à RTP, a propósito das suas memórias, apresentadas hoje, a ausência de uma atitude de autojustificação do percurso como militante e dirigente do PCP. Zita assumiu-se como uma militante disciplinada, sectária, fanática, que através dum doloroso processo de ruptura acaba por pôr em causa as ideias por que se bateu, classificando-as como erradas na sua essência. Todos quantos estávamos de fora sabíamos que assim era; os que convictamente lá militavam, não viam nem queriam ver. Ela o disse, referindo-se a si mesma, e assim vale(rá) a pena ler o que se assume de um passado, com todos as luzes e sombras. O período do PREC será de certeza interessantíssimo, para ver onde acaba a acção dos grupúsculos da extrema-esquerda e como esta se integra na (ou aproveita a) estratégia do PCP. Só espero que o estilo seja escorreito, ao contrário de alguns dos seus ex-camaradas, que escreveram memórias nos moldes de um relatório, como se fose uma espécie de informe ao c.c....

Acordes nocturnos

imagem pilhada aqui

Caracteres móveis - Geneviève de Gaulle Anthonioz

Tento rezar, o Pai-Nosso, a Ave-Maria, fragmentos de salmos. Do fundo do abismo, também eu clamo por Deus, como fizeram tantos outros. Tento entregar-me à misericórdia do Pai, juntar-me à agonia de Jesus no Horto das Oliveiras. Nem sequer é um silêncio que me responde, mas o miserável rumor da minha angústia.


A Travessia da Noite
(tradução de Artur Lopes Cardoso)

O Vale do Riff - Sheila Jordan, «Autumn In New York»

quarta-feira, julho 04, 2007

Antologia Improvável #238 - José Régio

PEQUENO POEMA

Quando eu agonizar, Senhor,
Vencido sob a cruz que me impuseste,
Não permitas que seja de amargor
O derradeiro instante que me reste.

Tenta-me, até ao fim com toda a provação!
Só essa, Pai! só essa não.

Para tanto, bastara que deixaras
Que a criança mais nova da família,
Por um acaso extraordinário,
Desses que tu preparas,
Velasse inconsciente a minha última vigília
No frio quarto solitário.

Já cego, eu poderia, então, inda sonhar
A minha última lágrima aquecida
Por seu sorriso, seu olhar...

Isso me bastaria, Pai! para acabar
Sem maldizer a vida.


In Líricas Portuguesas. 2.ª Série
(edição de Cabral do Nascimento)

O Vale do Riff - Frank Sinatra, «I've Got You Under My Skin»

terça-feira, julho 03, 2007

torradas

a vida seria pior sem elas

é sempre assim

Depois da leitura dum romance do nordeste brasileiro, tenho de dessedentar-me (raio de palavra!) numa narrativa do norte europeu. Depois do sertão, uma floresta de abetos.

O Vale do Riff - Crosby, Stills & Nash, «Our House»

segunda-feira, julho 02, 2007

Smudja

A não perder os trabalhos do sérvio Gradimir Smudja, autor de BD apaixonado pela pintura e, em particular, pelo impressionismo. Aqui