sexta-feira, dezembro 05, 2025

o que está a acontecer

 «No intuito de expiar o sítio, segundo a pia frase de Fr. Francisco Brandão, ergueu a piedade um altar encostado à seteira por onde o regicida abocara a escopeta, e aí foi arvorada aquela milagrosa imagem do Crucificado, que despregou a mão revolucionária no dia em que o duque bragantino foi aclamado rei.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Regicida (1875)

quinta-feira, dezembro 04, 2025

ucraniana CDVII - e o que queria a União Europeia?

Quando a Cia orquestrou o golpe de estado na Ucrânia, em 2014, a UE, aprovou. Quando uma prócere americana proferiu Fuck the EU!, a UE gostou. Quando Trump impôs e humilhou, a UE anuiu e continuou a pagar. Agora, quando os dois beligerantes, Rússia e Estados Unidos, se preparam para decidir a situação no terreno, marimbando-se para a Europa, depois da obediência canina, do que estava a UE à espera senão ser desprezada?

2 versos de José Alberto Oliveira

«Um cansaço agradável / enchia as tardes de tagarelice e jogos de cartas.» 

Peças Desirmanadas e Outra Mobília (2000) - «Camionetas Bedford»

Mostly Autumn, «Evergreen»

quarta-feira, dezembro 03, 2025

2 secos de António Filipe em Gouveia e Melo

A propósito da guerra entre a Rússia e os Estados Unidos que decorre na Ucrânia, e que os segundos querem, desde Trump, acabar, não perdendo tudo, Gouveia e Melo tinha vindo a fazer declarações nuançadas relativamente ao papel de Portugal nesta grave crise.

Era (é, será?) uma posição interessante e prudente, que contrasta com a vacuidade seguidista e a irresponsável da generalidade das lideranças políticas portuguesas.

Ontem, porém, numa estratégia de efeitos eleitorais duvidosos, quis entalar António Filipe com conversa fiada. Recebeu o troco, e ficou colado àquele grupo que demonstra não ter nem pensamento estratégico ou, talvez pior, que se está nas tintas, desde que venha o voto. Ora o almirante conhece muito bem os factos, razão de sobra para não se pôr ao mesmo nível daquele artista que dizia aos portugueses que "é(ra) preciso derrotar a Rússia"...

A outra foi sobre o estúpido pacote laboral, uma indignidade suficiente para qualquer ministro pintar a cara de preto. Podia ter aprendido com o Seguro e chutar para canto, se não quisesse mostrar-se tão equidistante, redondo ou, como disse Filipe,  "neutral": este pacote não constava do programa eleitoral dos partidos que governam, portanto é insusceptível de passar pelo crivo do PR.

6 versos de Fernando Jorge Fabião

«Todo o Verão tem o seu assombro / paisagens altas / onde principio a escrever / (num silêncio de sinos) / vocábulos escassos, dissonâncias / numa saudade de rosas e luz estilhaçada.» 

Na Orla da Tinta (2001)

terça-feira, dezembro 02, 2025

o que está a acontecer

«I. Ainda os membros dispersos do cadáver de Domingos Leite Pereira apodreciam nos postes, quando saiu uma procissão de triunfo a desempestar especialmente as Ruas dos Torneiros e da Fancaria.»  Camilo Castelo Branco, A Filha do Regicida (1875)

«Um silêncio súbito, silêncio da terra. Só vozes ermas dos campos, ouço-as no calor parado da tarde. Reparo agora melhor no pequeno jardim. Uma selva bravia. As plantas selvagens irromperam de todo o lado, aos cantos dos muros à volta, junto à casa. Há algumas armações de madeira ainda, já apodrecidas, suspensas de arames, sem flores.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)

«Fez-se um silêncio de expectativa risonha. E o professor, debruçando sobre a secretária os bigodes pendentes e amarelados, perguntou-lhe: -- Quais regras da ciência? -- E ele, entreabrindo os lábios finos que nunca se sabia quando sorriam ou se apertavam de contrariedade, respondeu: -- A observação e a experimentação. -- Ah, muito bem, e como foi que o senhor observou e experimentou a alma dos animais? -- Como, senhor doutor? Pessoalmente --. E foi uma gargalhada geral.» Jorge de Sena, Sinais de Fogo (póst., 1979)

7 versos de José Carlos Ary dos Santos

«Que o sangue que era o seu seja o rictus da tara, / A máscara de sal, / A vingança do pobre. / E que o Exterminador, no seu trono de enxofre, / O faça tilintar os guizos da tortura / Até que o mundo o esqueça / E mais ninguém o chore.» 

A Liturgia do Sangue (1963) - «In memoriam» 

segunda-feira, dezembro 01, 2025

Frank Pé (1956-2025)



 

David Benoit, «Blue Charlie Brown»

2 versos de Fernando Assis Pacheco

«Como são belas de facto as árvores na Place des Vosges! mas nesse dia / eu andava pelo Marais com a mais uma vez morte presa aos cabelos» 

Siquer Este Refúgio (1976) - «Quarto Bairro, Paris»