quinta-feira, maio 28, 2020

na estante definitiva

Na correspondência que trocavam, Ferreira de Castro, escrevendo a Jorge Amado após receber  Mar Morto (1936), disse-lhe ser este romance um poema em prosa, no que eu não poderia estar mais de acordo, até pelo sentido épico de que se reveste a luta do homem contra os elementos -- uma épica colectiva, como teria forçosamente de ser. 
«Agora eu quero contar as história da beira do cais da Bahia.», escreve o narrador, como um autor popular vendendo nos mercados a sua literatura de cordel. Sem arrebiques acacianos, o escritor dessacraliza-se: «Vinde ouvir a história de Guma e de Lívia, que é a história do amor no mar. E se ela não vos parecer bela a culpa não é dos homens rudes que a narram. É que a ouvistes da boca de um homem da terra, e dificilmente um homem da terra entende o coração rude dos marinheiros.»
A grande literatura proletária e romântica, de que o autor, aos 24 anos e recém-licenciado no Direito que nunca praticou, se fez veículo.
Uma nota para a capa muito interessante desta minha edição, da autoria de José Ruy, a figuração de Janaína (ou Iemanjá), deusa marítima que colhe o seu tributo...

Jorge Amado, Mar Morto [1936], 4.ª ed. portuguesa, Mem Martins, Publicações Europa-América, s.d. 
data de posse:Junho de 1984

2 comentários:

rose marinho prado disse...

Mar Morto...há tempo não lia mais.

R. disse...

Li jovem, reli-o no centenário, 2012, continuo a gostar.