quarta-feira, agosto 31, 2011

Antologia Improvável #479 - Diogo Bernardes

Retrato da beleza nova e pura
Que com divina mão, divino engenho,
Amor retratou na alma, onde vos tenho
Das injúrias do tempo mais segura:

Não mostreis aspereza em tal brandura,
Por vos vingar de mim, vendo que venho
A tanta confiança que detenho
Os olhos em tamanha formosura!

O resplendor do Céu, sem dar mais pena
A quem olha seus olhos em direito,
A vista só por breve espaço assombra...

Mas a vossa luz mais clara, mais serena,
Juntamente me cega e abrasa o peito:
Vede o Sol que fará, de que sois sombra!


Poemas Portugueses para a Juventude
(edição de Eugénio de Andrade)

segunda-feira, agosto 29, 2011

A Conspiradora

O meu filme destas férias. O pós-assassínio de Lincoln e a satisfação que a opinião pública pede. Um filme de Robert Redford que vai direitinho para a anterior administração norte-americana.

domingo, agosto 28, 2011

O Vale do Riff - Traffic, «Medicated Goo»

Antologia Improvável #478 - Nuno Pereira

Cantigua de Nuno pereyra quãdo cafou cõ dona Ifabel.

Amor, honde tefcondias
n' tempos que me matauas,
que tam forte pareçyas,
& o mais brauo guardauas.

Acupado meu cuydado
com tuas forças ffenty,
mas era por teu mandado,
pois agora vees* por ty.
Entam mandauas efpyas
pera ver como machauas,
mas poys tu vir nam querias,
paragora te guardauas.

*vens


Cancioneiro Geral
de Garcia de Resende

quinta-feira, agosto 25, 2011

Fim de semana! Que miséria em bando! / O povo folga, estúpido e grisalho!
Cesário Verde

terça-feira, agosto 23, 2011

caracteres móveis - Jorge Luis Borges

Não há poeta, por medíocre que seja, que não tenha escrito o melhor verso da literatura, mas também os mais infelizes. A beleza não é privilégio de uns quantos nomes ilustres.
Os Conjurados
(tradução de Maria da Piedade Ferreira e Salvato Teles de Meneses)

domingo, agosto 21, 2011

A verdade é o espanto que não cede.
Miguel Serras Pereira

revisitação - Paul Gauguin

«Nu ou Suzanne Costurando», de Paul Gauguin. Aqui só joga o que não joga.
Está em Copenhaga, na Ny Carlsberg Glyptotek.

Antologia Improvável #477 - Vítor Nogueira

FADO

Chegam desamparados a estas baías extensas.
E contudo, Rossio, por muito que lhes custe,
nada têm contra ti. Descem dos bairros,
abrem caminho, sentem a areia. Invertem
o percurso ao fim da tarde, o silêncio
acumulado, as normas secretas e restritas
que guiam de algum modo as suas vidas.

São criaturas fascinantes estes velhos,
conseguem transportar pesos enormes.

Mar Largo / Resumo -- A Poesia em 2009
(escolhido por José Tolentino Mendonça)

sexta-feira, agosto 19, 2011

O Vale do Riff - David Bowie, «Panic In Detroit»

figuras de estilo - Abel Botelho

O sudoeste soprava rijo, mas àquela ínfima escória humana impunha-se fatalmente a parcimónia de luz, a urgência de dar descanso aos nervos estrompados, aos músculos doridos.
Amanhã

quarta-feira, agosto 17, 2011

outros tons - Isabel Silvestre, «Chora a Videira»

figuras de estilo - Abel Botelho

Viam-se ali, numa cordial promiscuidade indistintamente baralhados, os mais prestigiosos chefes socialistas, e representantes das classes dos torneiros, serralheiros, fundidores, tipógrafos, litógrafos, canteiros, jardineiros, tanoeiros, mecânicos em madeira, calceteiros, marceneiros, sapateiros, tecelões, condutores de carroças, cocheiros, cigarreiros, manipuladores de farinha, refinadores de açúcar, corticeiros, oleiros, carpinteiros de carros, pintores, carregadores, fabricantes de carruagens, latoeiros, varinos e outros mais. Toda a miuçalha, toda a escória.
Amanhã

acordes nocturnos


terça-feira, agosto 16, 2011

revisitação - Percy Wyndham Lewis

Galeria: «Bateria Bombardeada», de Percy Wyndham Lewis. A beleza catastrófica do belicismo.
Está em Londres, no Imperial War Museum.

segunda-feira, agosto 15, 2011

outros tons - Chico Buarque, «Pelas Tabelas»

adenda

Como é óbvio, sou céptico em relação a uma sociedade em que possa estar afastada uma prática concorrencial que estimule as pessoas a melhorar a vida. Sempre que isso foi tentado, não correu bem. Mas é evidente que se o capitalismo não for domesticado, muita miséria e destruição causará, a começar por ele próprio, até renascer das cinzas, porque inerente à condição humana.

domingo, agosto 14, 2011

Quando estou em férias, ocorre sempre qualquer coisa fora do habitual, não sei porque diabo. Ora morre uma princesa em fuga, ora se dá um golpe de estado em Moscovo ou as tropas australianas desembarcam em Timor-Leste, entre muitos outros episódios levados da breca. Desta vez foram os motins de Londres e adjacências, que no fundo são metástases desta doença prolongada que atingiu em cheio um paciente chamado União Europeia, e que dá pelo nome de «mercados». 
Eu quero crer que o doente tem ainda capacidade de resposta para debelar esse cancro que dá pelo nome de «mercados». Mas é evidente que com actores políticos de escol, como os que temos tido, que entre o medo de ferir a susceptibilidade do cancro e o afã em ganhar o respeito e a confiança desse mesmo cancro, algo vai acabar mal. Talvez o doente; de certeza os «mercados». 

Vasco Graça Moura

5 poemas, aqui.