quinta-feira, setembro 30, 2010

Antologia Improvável #452 - Jorge de Aguiar

[...]
Cuydado faz nam dormyr,
cuydado faz nam comer,
cuydado faz nunca rryr,
cuydado emfamdyçer,
cuydado nam ter prazer.
Cuydado da myl payxões,
cuydado da myl cuydados:
cuydado myl corações,
cuydado myl namorados
tem feyto defefperados.
[...]

O Cuydar, & Sospirar,
Cancioneiro Geral de Garcia de Resende

O Vale do Riff - Muddy Waters, «I'm Your Hoochie Coochie Man»

quarta-feira, setembro 29, 2010

caderninho

A mesma agudeza de espírito que nos leva a escrever coisas boas, leva-nos a recear que elas não sejam boas bastante para merecer serem lidas. La Bruyère, Os Caracteres

terça-feira, setembro 28, 2010

-- Que dás, Poesia? Castigos eternos?
Pedro Homem de Melo

O Vale do Riff - Bruce Springsteen, «My Lucky Day»


Bruce Springsteen, My Lucky Day

segunda-feira, setembro 27, 2010

caracteres móveis

És como o albatroz, que rouba o peixe que as outras aves caçaram. Pertences ao número dos homens que impuseram aos outros aquilo a que chamam governo, que são donos de todos os outros homens e que comem a comida que os outros ganham e que gostariam de poder comer. Jack London, O Lobo do Mar

os predestinados

No Público, uma foto impressionante de colonos israelitas, mulheres, na maior parte, exultando pelo fim da moratória de dez meses para a construção de novas casas nos territórios ocupados.
Neste grupo de predestinados, vejo os carrascos de si próprios, no fanatismo que lhes está intrínseco, a semente da sua condenação -- deles ou dos descendentes directos. Não é possível viver à custa da humilhação e do menosprezo dos outros -- neste caso, dos palestinianos --, em nome de um direito divino, bíblico, milenar a um território, que entretanto se tornou, desde há séculos, pátria de outro povo.
É uma pena que o Israel liberal e progressista, o Israel libertário do kibutz das origens, recue em face da peste religiosa que o assola e se vai espalhando pelo mundo.
A consequência disto será a guerra, a deportação, o massacre -- não dos árabes da Palestina, que de há muito têm a sua conta, mas dos judeus de Israel. É uma questão de tempo, se a última oportunidade para a paz, que é a negociação em curso, for desperdiçada. 

domingo, setembro 26, 2010

sábado, setembro 25, 2010

caderninho

"Le casino gagne toujours. La mort aussi." Louis-Ferdinand Céline
apud Marcello Duarte Mathias, O Destino Velado

boas maneiras

Sidney Bechet

sexta-feira, setembro 24, 2010

Antologia Improvável #451 - Cecília Meireles (8)

MÁQUINA BREVE


O pequeno vaga-lume
com sua verde lanterna
que passava pela sombra
inquietando a flor e a treva
-- meteoro da noite, humilde,
dos horizontes da relva;
o pequeno vaga-lume,
queimada a sua lanterna,
jaz carbonizado e triste
e qualquer brisa o carrega:
mortalha de exíguas franjas
que foi seu corpo de festa.


Parecia uma esmeralda
e é um ponto negro na pedra.
Foi luz alada, pequena
estrela em rápida seta.


Quebrou-se a máquina breve
na precipitada queda.
E o maior sábio do mundo
sabe que não a conserta.

Antologia Poética
Bernard Prince regressa! E com ele vêm também Barney Jordan e Djinn.
Desenhos do incomparável Hermann, argumento também dele, e não já do maravilhoso Greg (Bernard Prince, Comanche, Bruno Brazil, Achille Tallon, Zig e Puce, etc., etc.), mas do filho do primeiro, Yves H.
Lido aqui

O vale do Riff - New Order, «Isolation»


New Order, Isolation

quinta-feira, setembro 23, 2010

JornaL

O poema é uma alquimia em que a dor vira prazer estético.
Ferreira Gullar, entrevista a Maria Leonor Nunes, no JL de ontem.

A grandeza não teme a grandeza alheia: só a mediocridade e a inveja.
João Bigotte Chorão, a propósito de Malraux e Bernanos, ibidem.
Gächinger Kantorei de Stuttgart, Bach-Collegium de Stuttgart, Helmutt Rilling
Sibylla Rubens, Eva Kirchner, Christinne Schäfer, James Taylor, Matthias Goerne e Thomas Quasthoff
Cantata de Casa e Cantata do Café, Johann Sebastian Bach (1996)

quarta-feira, setembro 22, 2010

terça-feira, setembro 21, 2010

figuras de estilo

Cinquenta anos a clamar aos homens que se conhecessem a si próprios, para, ironia trágica, eu mesmo por fim consciencializar que o fundo da alma é tão deveras pantanoso e tão abismal que apenas por gracejo alguém pode dizer a si próprio que se conhece.
Miguel Real, Carta de Sócrates a Alcibíades, seu vergonhoso amante

caracteres móveis

[...] se cairmos sinceramente em nós, quem ousará dizer: "Sou melhor do que este homem?" É preciso muito orgulho e muito pouca imaginação para se julgar outrem. Como se pode avaliar as tentações que um homem pode ter sofrido.
Simone de Beauvoir, O Existencialismo e a Sabedoria das Nações

Casimiro de Brito

5 aforismos de Casimiro de Brito, aqui

segunda-feira, setembro 20, 2010

caracteres móveis

«A democracia liberal não é agnóstica quanto às concepções do bem.» Francisco Sarsfield Cabral, «Os limites da tolerância», no Público de hoje.

O Vale do Riff - Robert Plant, «Tin Pan Valley»


Robert Plant, Tin Pan Valley

acordes diurnos

Radu Lupu, Orquestra Sinfónica de Londres, André Previn,
concertos para piano de Robert Schumann e Edvard Grieg (1973)

domingo, setembro 19, 2010

caderninho

Uma gaiola foi à procura de um pássaro. Kafka, «Aforismos»

caderninho

CORCUNDAS -- Têm muita graça e muita saída entre as mulheres sensuais. Flaubert, Dicionário das Ideias Feitas

sexta-feira, setembro 17, 2010

Antologia Improvável #450 - Pedro Tamen (2)

HERZOG

Sofrer é outro mau hábito.
(palavras de Ramona em Herzog, de Saul Bellow)

A minha desforra são palavras.
Levanto-me de manhã amarrotado
pelo peso inclemente das mentiras
e vazo no real outro real
das letras que ninguém vislumbrará.
O pássaro que canta é uma palavra,
é uma carta escrita a este, àquele,
que me saiu do lápis da amargura;
tudo se refaria se jamais feita fosse
alguma coisa que minha mão não desse.
Desforro-me sem gosto. Desforro-me sem gasto,
acorrentado ao que me vem de trás
e ao que virá e que não sei se quero.

Analogia e Dedos

Fernando Pessoa

5 dele, aqui.

acordes diurnos

quarta-feira, setembro 15, 2010

figuras de estilo

ele partiu, sem perceber que um beijo a teria devolvido a ele. Sem perceber que é pelo corpo que vamos, que é pelo corpo que se tem uma mulher.
Sarah Adamopoulos, «O empata-fodas e a amiga dos Kennedy», A Vida Alcatifada

figuras de estilo

Os filhos dos outros tinham direito de escola. Ele não, não era filho. O serviço arrancava-o cedo da cama e devolvia-o ao sono quando dentro dele já não havia resto de infância.
Mia Couto, «O dia em que explodiu Mabata-bata», Vozes Anoitecidas

segunda-feira, setembro 13, 2010

sábado, setembro 11, 2010

caderninho

Os ricos detestam-se talvez uns aos outros. Mas os pobres tratam-se uns aos outros como cães. José Bacelar
Revisão 2 -- Anotações à Margem da Vida Quotidiana

passeatas de blogger

quinta-feira, setembro 09, 2010

Antologia Improvável #449 - Alda do Espírito Santo

LÁ NO ÁGUA GRANDE

Lá no «Água Grande» a caminho da roça
negritas batem que batem co'a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.

Cantam e riem em riso de mofa
história contadas, arrastadas pelo vento.

Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.

As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes...
Velam no capim um negrito pequenino.

E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso...
Jazem quedos no regresso para a roça.


in No Reino de Caliban II
(edição de Manuel Ferreira)

figuras de estilo

Não falavam. Entre eles pesava um daqueles sentimentos comprometidos que quase sempre anunciam aventura amorosa. Ruben A.
A Torre da Barbela

acordes diurnos

segunda-feira, setembro 06, 2010

Somente amor... Somente?! é pouco esta palavra? / Duas sílabas só -- em pouco um mundo está
Antero de Quental

acordes diurnos

O Vale do Riff - Mostly Autumn, «Evergreen»

domingo, setembro 05, 2010

caracteres móveis

Não se trata [...] de fazer a anarquia hoje, ou amanhã, ou daqui a dez séculos; mas de caminhar para a anarquia hoje, amanhã e sempre. Errico Malatesta
apud Neno vasco, A Concepção Anarquista do Sindicalismo

passetas de blogger

sábado, setembro 04, 2010

O Vale do Riff - INXS, «Shine Like It Does»

Casa Pia: 2 ou 3 coisas

1. A perversidade da natureza humana não tem limites. Isto aplica-se aos arguidos (a alguns deles, pelo menos) como às vítimas (algumas delas, pelo menos).
2. O que me diz a intuição:
2.1. As duas vítimas que deram a cara, parecem-me credíveis. Desconheço o seu depoimento em concreto.
2.2. Carlos Cruz: não tenho opinião. Homem de comunicação, referiu-se muito bem às alegadas fragilidades do processo. É um ponto forte na luta pela sua credibilização.
2.3. Ricardo Sá Fernandes: tenho muita consideração por ele. É um grande defensor. A sua indignação parece-me genuína.
2.4. Os outros arguidos: à excepção de Hugo Marçal, que me faz pena, os restantes não me despertam a mínima simpatia -- o que me é irrelevante para saber se sim ou sopas.
2.5. Os funcionários judiciais, vulgo magistrados, desde o início do processo: nem tenho palavras.
3. E de repente havia um partido de pedófilos em Portugal: o PS, que por acaso tinha um esplêndido líder, Ferro Rodrigues, o mais à esquerda que conheceu. Foram bem sucedidos na decapitação.
Se, depois da palhaçada monumental que foi a tentativa de incriminação da cúpula do PS, isto é para levar a sério, vou a li e já venho.

Vá, agora quero os outros nomes, os nomezinhos dos que (também) andaram a abusar das crianças desfavorecidas da Casa Pia como quem se serve de lixo.
Ah, e as provas dos culpados têm de ser inequívocas, pois mais vale deixar um culpado à solta que prender um inocente.

caderninho

A poesia dissolve a existência que lhe é estranha na sua própria. Novalis
Fragmentos São sementes (tradução de João Barrento)

sexta-feira, setembro 03, 2010

quarta-feira, setembro 01, 2010

Antologia Improvável #448 - Cecília Meireles (7)

ADOLESCENTE

As solas dos teus pés.
As solas dos teus pés pintadas de vermelho.

De teus pés correndo no verde chão do parque.

As solas dos teus pés brilhando e desaparecendo
sob a orla dourada da seda azul.

(A moça brincava sozinha,
bailava assim, por entre as árvores...)

As campainhas dos tornozelos, pingos d'água
sobre as flores dos teus pés pintados de vermelho.

As solas dos teus pés, pintadas de vermelho,
duas pétalas no tempo.
Duas pétalas rolando para o fim do mundo, ah!

Abaixavam-se, levantavam-se
as solas dos teus pés, pintadas de vermelho.

E no parque os pavões, também vestidos de sol e céu,
clamavam para os horizontes seus anúncios,
transcendentes e tristes.

As solas dos teus pés correndo para longe,
duas pequenas labaredas.

(A moça brincava sozinha,
ia e vinha assim, com o ar, com a luz...)

Os teus pequenos pés.
O parque.
O mundo.
A solidão.


Poemas Escritos na Índia / Antologia Poética

acordes diurnos