sábado, junho 24, 2006

Ouvindo Waine Shorter, de pé

O Parque rebenta pelas costuras.
Alegría.
De joelhos e de cócoras,
as fotógrafas procuram ângulo.
Alegría.
Waine despeja notas
com ar de executivo em férias.
Alegría.
Engasgado o soprano,
a secção rítmica arranca-nos
inesperadas flexões
de joelhos. De joelhos
as fotógrafas continuam
à procura do melhor ângulo.
Alegría.

O tempo estava incerto.
Chuva no final do concerto.

Cascais, 12-VIII-2003












Uns dias prás praias do sul.

sexta-feira, junho 23, 2006

Antologia Improvável #142 - Martins Fontes (2)

O INDIFERENTE

Ao Poeta Luís Edmundo, no dia da nossa
visita ao Salão La Case, no Louvre.

Les donneurs de sérénades
Et les belles écouteuses
Échangent des propos fades...

Watteau-Verlaine-Samain
Fêtes Galantes

No azulor do silêncio o parque se edulcora...
Luarizam-se os cetins, afinando os corpetes...
Desprendem-se os roclós, soltam-se os manteletes...
Sons de viola de amor, mandolina ou mandora...

Vinhos de Asti e Tokay... Granadinas de Angora...
Confeitilhos. Bombons. Caramelos. Sorvetes.
Ruge-ruges... A ouvir-lhe o flautim dos falsetes,
Da canção de Damis Climène se enamora...

Ré... mi... sol... si... lá... lá... Afectadas, fictícias,
Fluidicamente, as mãos arpejam as carícias...
-- Ui! que frívola eu sou! -- Oh! tão frágil não és...

E o indiferente, a sós, na pelúcia da brisa,
Violeta azul que em tons de opala se arcoirisa,
Gracilmente desfolha o coração de Agnès!

Schahrazade / Poesias Completas

Martins Fontes

estampa LI

Frederick Arthur Bridgman, No Terraço
Colecção particular, Tóquio

quarta-feira, junho 21, 2006

Caracteres móveis #79 - Antoine de Saint-Exupéry

A infância, esse grande território donde todos saímos! Pois donde sou eu? Sou da minha infância como se é de um país...
Piloto de Guerra
(tradução de Ruy Belo)

Saint-Ex

terça-feira, junho 20, 2006

Ressentidos

com o mundo, com a vida, com eles próprios -- são assim os extremistas, a coberto da máscara de fortaleza com que querem enganar(-se).

segunda-feira, junho 19, 2006

estampa L

Caspar David Friedrich, Dólmen na Neve
Gemäldegalerie, Dresda

Antologia Improvável #141 - Júlio Dantas (2)

FEIA

Não te amei. E porquê? Porque não há em ti
A graça que perturba, o sorriso que enleia:
Porque eu sou cego, filha, e porque tu és feia;
Porque te olhei, amor, e porque não te vi.

Foste minha e -- vê lá! -- nunca te conheci.
A tua alma, tão bela e tão nobre, -- ignorei-a.
Quis beleza, frescura, -- e contruí na areia:
Só comecei a amar-te, hoje, que te perdi.

Amor espiritual, amor sem esperança,
Amor que não deseja e, por isso, não cansa,
Amor contrito e puro, arrependido e triste...

Hoje estou convencido, ó minha gloriosa:
A paixão sem beleza é a mais perigosa;
O amor por uma feia é o maior que existe.

Sonetos

Dantas

domingo, junho 18, 2006

Ferido de inocência desde sempre
Alberto de Lacerda

Herculano

Correspondências #49 - Alexandre Herculano a Oliveira Martins

[1869]


Il.mo Snr.
V. S.ª teve a bondade de me remeter o seu opúsculo acerca de Teófilo Braga e do Romanceiro e Cancioneiro Português, acompanhando a dádiva de uma carta recheada de expressões tão exageradamente benévolas que não sei se as agradeça, se me limite a esconder a mesma carta para que ninguém a veja.
Sempre tive grandes dúvidas sobre a doutrina da superioridade das inteligências; isto é, da diferença de inteligência a inteligência, quando estas são completas. No que acreditava, na época em que pensava nessas cousas, era na superioridade das vontades. O querer é que é raro; e tenho a consciência de que fui um homem que quis nas cousas literárias. Desde que perdi o querer, caí na vulgaridade. Hoje não passo de um homem vulgar.
Aqui tem V. S.ª a verdade da minha apoteose.
Quando profundos desgostos me forçaram a descrer das letras, e ainda mais do país, as tendências da actual mocidade estudiosa apenas despontavam no horizonte, se despontavam. V. S.ª faz-me, ou o favor, ou a justiça, no seu opúsculo, de me supor homem de análise. Não há-de, pois, de admirar-se que lhe diga que me parecem perigosas, para não dizer outra cousa, essas tendências. A generalização, a síntese, são, em absoluto, cousas excelentes: são a ciência na sua forma definitiva e aplicável. Mas, para generalizar e sintetizar, é necessário haver que. Ora, a história, na significação mais ampla da palavra, ainda não possui elementos suficientes para a generalização. Desde a paleontologia e a etnografia, até à história das sociedades modernas, há muitos factos adquiridos indubitável e indisputadamente para a ciência; mas há muitos mais ignorados, incompletamente conhecidos, ou disputados; e isto não só na história política e na social, mas também na do desenvolvimento intelectual do género humano, na das letras e da ciência. Que síntese séria é possível assim? Enquanto a análise não tiver subministrado uma extensa série de monografias definitivas, as sínteses que andam por aí correndo não passam de romances pouco divertidos, quando não são piores do que isso: uma geringonça absurda.
No tempo em que eu andava peregrinando por esse mundo literário, antes de me acolher ao mundo tranquilo de santa rudeza, conversei um pouco com Vico e Herder, com Vico e Herder como a Itália e a Alemanha os geraram, e não como os aleijaram e embaiucaram os cabeleireiros franceses (todo o francês, com raras excepções, tem um pedacinho de cabeleireiro). Sempre me pareceu que tinham nascido muito antes do seu tempo. Deus ter-lhes-á de certo perdoado o mal que fizeram. Sem o quererem, nem pensarem, deram origem a uma cousa em história que eu só sei comparar ao gongorismo da poesia e da prosa literária do século XVII.
Desculpe V. S.ª esta franqueza de um homem do campo. Tenho-a, porque o seu opúsculo revela um escritor, e, posto que hoje eu não passe de um profano, far-me-ia pena se o visse perdido por esse desvios das simbólicas, das estéticas, das sintéticas, das dogmáticas, das heróicas, das harmónicas, etc..
Teófilo Braga é uma inteligência completa e uma grande vocação literária, mas uma fraca vontade: gosta de fazer ruído; deseja adquirir reputação; não possui, porém, o querer robusto que vai até o sacrifício, que vai até o martírio, e que é preciso para se tornar um homem verdadeiramente superior. Achou a porta do abstruso sintético e simbólico engrinaldada de maravalhas francesas: meteu-se por ela; e, em resultado, aí temos, não direi a Visão, as Tempestades e a Ondina, porque não quero que V. S.ª fique mal comigo, mas direi a História da Poesia Popular e os Forais que V. S.ª mesmo trata desapiedadamente.
Nestas matérias, peço a V. S.ª que se volte um pouco para a análise. Há tanto que fazer por esta parte! Relendo o seu folheto daqui a anos, há-de conhecer que o conselho era sincero e amigável. Dir-me-á porque não o dou a Teófilo Braga? Porque não o aceita. Aquele, ou já se não cura, ou há-de curar-se a si mesmo. É o que, sem lho dizer, eu do coração desejo. Disponha V. S.ª da inutilidade deste aldeão que é, de V. S.ª V.or e C.
In Oliveira Martins, Alexandre Herculano
(edição de Joel Serrão)

Oliveira Martins

sábado, junho 17, 2006

Caracteres móveis #78 - Edgar Allan Poe

Nada mais vago que as impressões da identidade dos indivíduos.

O Mistério de Maria Roget
(tradução de Jorge de Sena)

Poe

Boas maneiras

sexta-feira, junho 16, 2006

Dubcek



O episódio de ontem do interessantíssimo documentário sobre Álvaro Cunhal recordou-me o rosto humano de Alexandre Dubcek, um dos meus heróis da adolescência.

Antologia Improvável #140 - João de Barros (4)

RENÚNCIA

Esta é a hora de renunciar...
Antes que venham mais desilusões,
Ensina o teu orgulho a desprezar
Sonhos inúteis e banais paixões.

Beijos que deste -- ensinam-te a chorar...
Alma em que viste ocultas perfeições
Soube apenas mentir ou duvidar:
Nunca entendeu as tuas ambições!

Esquece tudo, esquece e renuncia!
-- Maior do que essa, fora a covardia
De viver de um amor desiludido.

Ah! desejar o encanto das estrelas!...
-- Tão longe estão que a gente, só de vê-las,
Quase imagina tê-las possuído!

Humilde Plenitude

Fastio

A cerveja «Sagres» encheu de cores nacionais o restaurante onde costumo almoçar: a bandeira com o nome do estabelecimento, além de garridas tarjas e tarjetas. Os empregados de mesa envergavam patrióticas camisolas com a esfera armilar. Para ajudar, o ecrã gigante sintonizado na sport tv vomitava portugaaaaaaall com estrilho, seguindo-se o respectivo patrocinador. Perde-se logo a vontade de apoiar.

quinta-feira, junho 15, 2006

Espera

A noite fechada trouxe-me cá fora, ao alto portão de ferro. Agarro-me às grades como um escravo da luz de breu. Passo o portão e em dois passos estou na abadia que parecia distar léguas. Um cheiro fétido a suor e burel revelam-me um monge que me fita silencioso. Trespassa-me uma ventania de claustro e o piso, antes terroso, é agora de pedra. Não consigo articular uma palavra, apenas sons abafados pelos sinos que me ensurdecem. Os olhos, de dentro do capuz, indicam-me agora um rectângulo na laje. Gravado está o meu nome, o dia do meu nascimento, e o desta noite.
Agosto de 2000
Seis Composições Outonais

quarta-feira, junho 14, 2006

Caracteres móveis #77 - Aurélio Buarque de Hollanda

As qualidades dominantes do estilo de Eça
parecem-me o resultado destes três factores:
uma requintadíssima percepção sensorial, que ia quase à volúpia;
um agudo senso do pitoresco;
e a ironia.
«Linguagem e estilo de Eça de Queiroz»,
Livro do Centenário de Eça de Queiroz
(edição de Lúcia Miguel Pereira e Câmara Reys)
Caricatura de Eça de Queirós, por Rafael Bordalo Pinheiro, para o Álbum das Glórias

Aurélio, o próprio

terça-feira, junho 13, 2006

Antologia Improvável #139 - Carlos Nejar (3)

A MATÉRIA FELIZ

Toda a matéria pesa
quando acordada e é leve
se adormecida. Raro
o instante que nos serve.
Da alma tudo é breve
por ser tudo infinito.

A matéria é feliz,
quando sonhada.
E amada, então
toda a matéria
pausa.

Livro de Gazéis / Antologia Poética
(edição de António Osório)

Nejar

segunda-feira, junho 12, 2006

...e vergonha na cara, quem sabe o que é?

estampa XLIX

James Ensor, Auto-retrato com Máscaras
Colecção particular

domingo, junho 11, 2006

Nenhum inferno é maior que o da voz traída / e nenhum bem vale o da sua integridade
Rui Knopfli

Proxenetismo social

A propósito de um brinde do saudoso Expresso -- a bandeira nacional patrocinada pelo Banco Espírito Santo --, Alexandre Dias Pinto, n'O Tonel de Diógenes, elabora certeiramente a propósito dos principios que os nossos queridos capitalistas em geral põem alegremente entre parênteses quando se trata do dinheirinho. Veio-me logo à ideia gente como o Pais do Amaral ou o próprio Balsemão, que não têm escrúpulos em despejar em casa dos seus pobres concidadãos todo o lixo de que podem lançar mão -- lixo televisivo que, obviamente, eles, pessoas educadas, não vêem. A esta mentalidade chamou certa vez Assis Esperança, numa carta a Ferreira de Castro, a avidez da ganhuça. E quem ganha dinheiro a degradar espiritualmente os outros, só merece para a sua sórdida actividade o qualificativo com que intitulo este post: o de proxenetismo social.

Pessoa

Correspondências #48 - Fernando Pessoa a Armando Cortes-Rodrigues

28-6-1914

Irmão em Além!
Eu vos saúdo e vos peço que amanhã, entre o soar duplo das duas e o soar simples das duas e mais metade de uma hora, surjais com a vossa presença carnal -- sem prolongamento gesticulante de bengala agressiva -- à vil cova ou jazigo de inutilidades e propósitos artísticos que dá pelo nome humando de «Brasileira do Rossio». Da vossa tese vos falarei, insciente ainda se então pronta, mas pronta de certo, se não a essa, ora marcada, hora, ao cair lento e morno do crepúsculo de amanhã. Não vos aflijais! Os deuses têm tempo para tudo. E no dia 30 entregareis, se antes o Destino a não telegrafar de pronta.
Guarde-vos Deus; e que a futura Divindade Tutelar das Estranhezas Irritantes vos assente à sua mão direita.
Fernando Pessoa
Cartas a Armando Cortes-Rodrigues
(edição de Joel Serrão)

Armando Cortes-Rodrigues

Boas maneiras

John Lennon

sábado, junho 10, 2006

Antologia Improvável #138 - Pedro Tamen

Tendo chegado ao fim da rua, vês de longe
que o princípio da rua não existe. O que tu vês
não é calçada ou casa, sequer esquina,
o que tu vês não é alegre ou triste,
o que tu vês arrasa os próprios olhos
porque os vês vazios.

E apenas há quem julgue que chegaste
porque pesas um peso que soltaste
pelo caminho por onde nunca andaste.

Guião de Caronte

Pedro Tamen













Fotografia de Luísa Ferreira

sexta-feira, junho 09, 2006

Gotha Posted by Picasa

Só espero que não se esqueçam dos gatos...

E porque não?

E porque não, um dia do cão? Tudo que contribua para ajudar a civilizar um país ajavardado como o nosso querido Portugal é positivo e tem o meu apoio. Eu gosto de cães e aprecio o civismo. Os cães já nós temos...
Charlie Posted by Picasa

estampa XLVIII

António Carneiro, Onda (Vaga)
Colecção particular (Jorge de Brito), Cascais

quinta-feira, junho 08, 2006

Caracteres móveis #76 - Edmundo de Bettencourt


-- O nome de «presença» é um achado. [...] Como lhe ocorreu esse nome, que é a mais bela síntese, que conheço, de um programa tão vasto?
-- [...] Encontrei-o por intuição, digamos [...] uma ideia latente em quase todos os presencistas [...] ela me parece obedecer a uma noção da vida nas suas relações com o tempo, segundo a qual a consciência de existir, na maior plenitude, nos é dada pelo momento presente que vivermos em intensidade. Só esse valerá para a aspiração de eternidade que não abandona o homem, porque será antecipação, futuro já, por conseguinte. Aquele futuro de que o homem não se pode desprender por estar na raiz do seu próprio instinto de conservação, e que é desejo obscuro de continuar.
In João de Brito Câmara, O Modernismo em Portugal (Entrevista com Edmundo de Bettencourt)

quarta-feira, junho 07, 2006

Antologia Improvável #137 - Ed. Bramão de Almeida (2)

AMOR-METEORO

Encontrei-a no cais, ao embarcar,
E, após um curto olhar retribuído,
Tão preso me senti, tão seduzido,
Que até como isto foi nem sei contar.

Só sei que agradeceu o meu olhar
Com outro mais gentil e enternecido,
E que fiquei em terra possuído
De um ódio torvo e estranho contra o mar.

Não mais em minha face inconsolável
Demorará seus olhos de veludo!
Não mais aquele instante inolvidável!

Um protesto de amor ardente e mudo,
Um sorriso, uma dor incomportável,
Um triste volver de olhos... e foi tudo.

Maré Alta













A ficção-científica por antonomásia.

segunda-feira, junho 05, 2006

Figuras de estilo #31 - Trindade Coelho

Tinham andado à azeitona todo o santo dia, e estavam a cear, de ranchada, em casa do amo. Prosseguiu a conversa em grande galhofa enquanto durou o caldo, e enquanto, depois do caldo, comeram as batatas guisadas. Era na cozinha, a grande cozinha escura do lavrador -- com o lume a arder além, o armário acantoado acolá, ali a cantareira, além a boca do forno, a masseira logo ao pé, a banca daquela banda, onde a moça, mais a ama, despachavam as refeições, e em cima, pingando, as varas do fumeiro. A um lado, ao pé da porta que dava saída para o quintal, as azeitoneiras comiam, alumiadas por uma candeia.
«Luzia»,
Antologia do Conto Português

Trindade Coelho

Posted by Picasa

fonte

domingo, junho 04, 2006

Antologia Improvável #136 - Francisco Alves da Costa

MARASMO

Nenhum grito desperta o silêncio de agora;
Cavalga sobre o mar um turbilhão de medos;
Perderam as marés o ímpeto de outrora;
Já não franjam de espuma a crista dos penedos.

Crocitam pelo espaço, em bandos, as gaivotas
E os capitães, no cais, dormitam, insensíveis;
Sob as águas do porto, as âncoras ignotas
Sonham cada vez mais com viagens impossíveis.

Viagem Dentro de Mim

«A Selva» e a selva,

segundo António Cândido Franco,
escrevo para dizer o que não pode ser dito
Ana Hatherly

Boas maneiras

Dave Swarbrick
(foto: Valerie Wilmer)

sábado, junho 03, 2006

Camilo

Correspondências #47 - Camilo Castelo Branco a João de Deus

[1887]

Meu prezado João de Deus

Nas onze dúzias de livros que fabriquei, não há uma elegia. As minhas elegias são tristezas incomunicáveis.
Lida a sua estimada carta, escrevi isso que remeto. Consulte T. Braga. Fomos inveterados inimigos em letras. Que não vá a minha intervenção na sua dor causar-lhe desgosto. Aqui estou quási cego, paralytico; ao lado de um filho querido e mentecapto que já tentou matar-me. Haverá grandes desgraçados, que comparados comigo, se considerem quási felizes.
Abraça-o o seu velho amigo
C. CASTELLO BRANCO
In Moreira das Neves, Camilo Tal Qual

João de Deus

sexta-feira, junho 02, 2006

Empolgante monotonia,

deslumbrante melancolia.















César Franck

quinta-feira, junho 01, 2006

Antologia Improvável #135 - Afonso de Castro (2)

SONETO DO OUTONO

A CORREIA DA COSTA

Enquanto o Outono lacrimoso tece
Seus claros véus de chuvas e de bruma,
E o prado de esmeralda empalidece,
E as folhas de âmbar tombam uma a uma...

Enquanto o vento, em cânticos de prece,
Com afagos de seda me perfuma,
E a tarde exangue, em êxtase, esmorece
Num céu morno de etéria sumaúma...

É que me sinto amar com mais ardor
Tua beleza de ave, estrela e flor,
-- Beijo que rezo e sonho que murmuro...

E num deslumbramento prodigioso,
Noivo, comungo, em plenitude e gozo,
Teu destino de sombra, que procuro.

Antifonário Pagão

estampa XLVII

Posted by Picasa
Frédéric Bazille, O Atelier da Rue La Condamine
Museu d'Orsay, Paris