e então, o «Eixo do Mal», que nunca perto resolveu perorar sobre o Aborto Ortográfico, a propósito das declarações de Marcelo, em Moçambique.
Não me vou debruçar sobre a questão político-diplomática, porque nem sequer é relevante, mas sobre as declarações de Clara Ferreira Alves e Daniel Oliveira, deixando de parte Pedro Marques Lopes e Luís Pedro Nunes, não por menosprezo, mas por considerar que os primeiros têm mais responsabilidades no que à questão respeita.
Antes de mais, convém dizer o óbvio: qualquer pessoa tem o direito (e, em alguns casos, o dever) de defender o que acha o mais apropriado, ou, neste particular, o menor dos males. Deve fazê-lo, porém, com honestidade intelectual e, já agora, tratando-se de pessoas com acesso ao espaço público, com um mínimo de substância. Ou então abster-se de debater assuntos para os quais não estão preparados ou a que não atribuem grande importância, sob pena de transformarem o programa numa coisa abaixo de cão, que foi o que ontem aconteceu.
Clara Ferreira Alves, jornalista e literata. em descabelo, disse enormidades, falsidades, parvoiçadas. Não me dou ao trabalho de descriminá-las, quem quiser que vá ver. Diga-se, a propósito que a indivídua, não obstante os dislates, se deu ao luxo de pronunciar o P da palavras percepção, que em Portugal (estou a pensar no leitores brasileiros) é uma consoante muda... A senhora, que passa por intelectual -- numa sociedade em que quem consegue juntar duas palavras com sentido, merece esse qualificativo --, sempre foi muito poucochinho. Demonstrou-o mais uma vez neste tema, como também, no bloco seguinte, sobre política de Educação, saindo-se com o último soundbite do CDS e do PSD: Tiago Brandão Rodrigues, o actual ministro da Educação está 'capturado' por Mário Nogueira. As clarices do costume.
Sobre esta senhora já gastei demasiado as teclas, espero não voltar a falar dela, a não ser por boas razões, o que me espantaria.
O caso de Daniel Oliveira já fia mais fino. Não o conheço pessoalmente. Leio-o e oiço-o com atenção, As suas posições são, na maioria dos casos, muito próximas das minhas. Por outro lado, trata-se de uma das pessoas que melhor escreve na imprensa portuguesa. Por isso, foi com bastante irritação, até porque me soou a falso, o modo blasé (se não fosse Daniel Oliveira, escreveria bovino) com que se pronunciou sobre o assunto: é uma questão que o maça...
Numa coisa o acompanho, a única, parece, que sobre este assunto lhe provoca reacção: o 'nacionalismo' analfabeto com que se fala da nossa língua, para concordar com ele que a língua portuguesa é tanto dos portugueses como dos brasileiros, dos angolanos, etc. Mas, sobre este aspecto, escreverei outro post sobre as más razões de se ser contra o Aborto Ortográfico.