Miles Davis
quinta-feira, fevereiro 17, 2011
quarta-feira, fevereiro 16, 2011
Antologia Improvável #464 - Luís Filipe Parrado
Tudo o que o meu pai me disse quando, aos 15 anos,
declarei em família que iria começar a escrever poesia
«Antes
de te sentares
à mesa
lava bem
essas mãos.»
Resumo -- A Poesia em 2009
(escolha de José Tolentino Mendonça)
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Luís Filipe Parrado
terça-feira, fevereiro 15, 2011
De gravata ao pensamento / Sou eu quem leva a melhor.
Pedro Homem de Melo
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Pedro Homem de Melo
segunda-feira, fevereiro 14, 2011
parte-se-me o coração quando passo pelas minhas casas da infância
por isso espero sempre que a casa onde estou seja a última, e, se afortunado, nela morrer; por isso gosto tanto disto que escreve o quase centenário Sabato*:
«Avanço para a minha casa por entre as magnólias e as palmeiras, entre os jasmins e as imensas araucárias e detenho-me a observar a trama que as trepadeiras esculpiram sobre a fachada desta casa que é já uma ruína querida, com persianas apodrecidas ou desengonçadas; no entanto, ou precisamente pela sua velhice parecida com a minha, compreendo que não a trocaria por nenhuma mansão do mundo.»
*Resistir, tradução de carlos Aboim de Brito, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2005, p. 28.
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Ernesto Sabato
domingo, fevereiro 13, 2011
sábado, fevereiro 12, 2011
sexta-feira, fevereiro 11, 2011
Egipto, ou viva o poder popular
O que mais me impressionou nestes dias de levantamento popular no Egipto foi não apenas a determinação demonstrada pelos cairotas e restante população contra o regime de Mubarak, mas a civilidade com que o fizeram: os episódios do Museu do Cairo e da Biblioteca de Alexandria, o exemplo de unidade para além das confissões religiosas, a ausência de bandeiras americanas queimadas, quando se sabia que os EUA foram sustentáculo do regime, como pragmaticamente tiveram de o ser (Obama esteve muito bem, mais uma vez). As mortes foram causadas pelos esbirros do costume.
A seguir se verá o que vem; mas venha o que vier, tal não apagará da memória o notabilíssimo exemplo cívico destas semanas na Praça da Liberdade.
(foto: Marco Longari, AFP)
(foto: Marco Longari, AFP)
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quinta-feira, fevereiro 10, 2011
Antologia Improvável #463 - José Craveirinha (5)
PRIMAVERA DE BALAS
Agarro
Na minha última humilhação
E sem ir embora da minha terra
Emigro para o Norte de moçambique
Com uma primavera de balas ao ombro.
E lá
No Norte almoço raízes
Bebo restos de chuva onde bebem os bichos
No descanso em vez da minha primavera de balas
Pego no cabo da minha primavera de milhos
e faço machamba ou se for preciso
Rastejar sobre os cotovelos
E os joelhos
Rastejo.
Depois
Escondido em posição no meio do mato
Com a minha primavera de balas apontada
Faço desabrochar no dólman do sr. Capitão
As mais vermelhas flores florindo
O duro preço da nossa bela
Liberdade reconquistada
Aos tiros!
in No Reino de Caliban III
(edição de Manuel Ferreira)
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quarta-feira, fevereiro 09, 2011
terça-feira, fevereiro 08, 2011
genealogia (4)
o medo e a transgressão
o disfarce e a submissão
correm no meu sangue
confinado à beira baixa
no retrato duma trisavó
na terra
no nome da família
inscreve-se ao baixo o rasto milenar da judeia na cara do meu
[sangue
passei a exigir-me judeu
vestígio da nobreza do meu sangue
berbere celta negróide
e há segredos de roda
tradição familiar fantasiosa de aristocracia presuntiva
sem um pingo da nobreza do meu sangue
a verdade é que no meu sangue há criadas de servir
criadas em locais remotos duma baixa beira
terra de contrabando e crime
terra de ninguém
o disfarce e a submissão
correm no meu sangue
confinado à beira baixa
no retrato duma trisavó
na terra
no nome da família
inscreve-se ao baixo o rasto milenar da judeia na cara do meu
[sangue
passei a exigir-me judeu
vestígio da nobreza do meu sangue
berbere celta negróide
e há segredos de roda
tradição familiar fantasiosa de aristocracia presuntiva
sem um pingo da nobreza do meu sangue
a verdade é que no meu sangue há criadas de servir
criadas em locais remotos duma baixa beira
terra de contrabando e crime
terra de ninguém
segunda-feira, fevereiro 07, 2011
domingo, fevereiro 06, 2011
prezo-me de alguma sagacidade, espero
Escreveu La Bruyère*: «Um espírito medíocre julga que sabe escrever divinamente; um espírito sagaz julga que só escreve razoàvelmente.» -- ou do espírito crítico (algo que, como o bom senso, foi pessimamente distribuído por deus nosso senhor pelas suas criaturas).
*Os Caracteres, tradução, selecção e prefácio de João de Barros, Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1941, p. 73.
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sábado, fevereiro 05, 2011
sexta-feira, fevereiro 04, 2011
quinta-feira, fevereiro 03, 2011
quarta-feira, fevereiro 02, 2011
Antologia Improvável #462 - José Carlos Barros
DO QUE A VIDA PODERIA TER SIDO
Os amigos juntam-se e falam do passado,
da música que já não se ouve na rádio,
do inverno em que choveu semanas a fio
e o rio saiu das margens para desenhar
nos troncos das árvores os círculos imperfeitos
da idade. Eles sabem para si mesmos que falam
do que nunca existiu: das mulheres
que se renderam para sempre às palavras do amor,
das perdizes caindo de asa nas encostas
iluminadas da urze, das corridas memoráveis
do vinte e cinco de abril, das tardes de domingo
que haveriam de envergonhar a uefa
se a televisão estivesse presente nas finais dos torneios
dos bombeiros voluntários. É disso que os amigos
falam: do que a vida poderia ter sido
se não fosse a filha da puta de vida que foi.
Resumo -- A Poesia em 2009
(escolha de Luís Miguel Queirós)
Os amigos juntam-se e falam do passado,
da música que já não se ouve na rádio,
do inverno em que choveu semanas a fio
e o rio saiu das margens para desenhar
nos troncos das árvores os círculos imperfeitos
da idade. Eles sabem para si mesmos que falam
do que nunca existiu: das mulheres
que se renderam para sempre às palavras do amor,
das perdizes caindo de asa nas encostas
iluminadas da urze, das corridas memoráveis
do vinte e cinco de abril, das tardes de domingo
que haveriam de envergonhar a uefa
se a televisão estivesse presente nas finais dos torneios
dos bombeiros voluntários. É disso que os amigos
falam: do que a vida poderia ter sido
se não fosse a filha da puta de vida que foi.
Resumo -- A Poesia em 2009
(escolha de Luís Miguel Queirós)
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Luís Miguel Queirós
terça-feira, fevereiro 01, 2011
genealogia (3)
no meu sangue há homens do mar
celtas de olho azul vindos em balsas
da verde erin
tiveram poiso por séculos na costa norte
mas logo se lançaram a esse mar
para cima do árctico
e desceram a sul
à aventura e à rapina
celtas de olho azul
branco o loiro da barba
neve da terra nova
celtas de olho azul
roupa colada ao visco do corpo
calor húmido dos trópicos
homens e mulheres da pesca e do peixe
da costa nova à capital do império
onde assentaram arraiais os filhos dos arrais
em lisboa se fixam
trazem despojos vivos
dos restos d'além-mar
e com eles se misturam
no meu sangue
tudo isto e ainda mais
celtas de olho azul vindos em balsas
da verde erin
tiveram poiso por séculos na costa norte
mas logo se lançaram a esse mar
para cima do árctico
e desceram a sul
à aventura e à rapina
celtas de olho azul
branco o loiro da barba
neve da terra nova
celtas de olho azul
roupa colada ao visco do corpo
calor húmido dos trópicos
homens e mulheres da pesca e do peixe
da costa nova à capital do império
onde assentaram arraiais os filhos dos arrais
em lisboa se fixam
trazem despojos vivos
dos restos d'além-mar
e com eles se misturam
no meu sangue
tudo isto e ainda mais
dúvida
Uns portugueses dizem erecção, outros ereção. Com o maravilhoso acordo ortográfico que umas luminárias fizeram aprovar, como se passará a escrever?
Tusa?
A TIME tinha razão, de A a Z
O que está a passar-se no Norte de África, Tunísia e depois Egipto, e a alastrar para o Médio Oriente, revoluções facebook, demonstra que a Time teve razão em substituir o Assange dos leitores pelo Zurckerberg da redacção.
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