quinta-feira, setembro 04, 2025

zonas de conforto

«Viu-o passar aquele meu vizinho que foi buscar um mendigo ao Porto para repartir com ele o caldo e o pão, e deu-lhe de comer à lareira, deixando-o ir embora com indiferença. /--  É um probe que põe medo... / Fujo do velho casarão abandonado e vou para a lareira do Fortunato.» Raul Brandão, O Pobre de Pedir (póst., 1931)

«Um vago e adocicado cheiro a óleo colava-se ao ar. De novo se ouviu, súbito e insólito, agora mais distante, o chocar dos vagões em manobras. / Adiante pararam. Voltados um para o outro, Lambaça e André procuravam adivinhar com que tipo de homem tinham de se haver. No escuro nada viam, porém.» Manuel Tiago, Cinco Dias, Cinco Noites (1975)

«Havia um sabor no ar. Um ímpeto secava a garganta. Ele tentara pensar na razão das suas visitas, pensar no homem que estava doente para além da porta que se abria ao lado do banco e que uma trepadeira popular engrinaldava.» Ferreira de Castro, A Missão (1954)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«Sabeis o que é ser poeta? É querer incravar a roda teimosa das coisas d'este mundo, e sair com o braço partido.»
Camilo Castelo Branco, "Onde Está a Felicidade?" (1856)