«I. Conta Lázaro a sua vida e de quem era filho. Pois saiba vossa mercê, antes de mais nada, que me chamam Lázaro de Tormes, que sou filho de Tomé González e de Antona Pérez, naturais da província de Salamanca, aldeia de Tejares. Nasci no rio Tormes, e daí me veio o apelido. E aqui tem.» Anónimo, Lazarilho de Tormes (1554) - trad. Ricardo Alberty § «Picasso era um homem baixo que tinha uma maneira cómica de andar, pondo um pé adiante do outro atá dar aquilo a que se chama "passos". Rimo-nos com as suas ideias deliciosas, mas pelos finais dos anos 30, com o fascismo no auge, havia muito poucas coisas de que nos ríssemos.» Woody Allen, Getting Even / Para Acabar de Vez com a Cultura - «Memórias dos Anos Vinte» - trad. Jorge Leitão Ramos § «Nessa altura gostava muito da cozinha catalã; mas desde esse dia começaram a desfazer-se-me as gengivas e a apodrecer os dentes. Os médicos, unânimemente, declararam que o meu mal não tinha cura. Mandei deitar as cartas. Foi então que o curandeiro me receitou o regime de nuvens.» Félix Cucurull, Antologia do Conto Moderno - «Carta de despedida» - trad. Manuel de Seabra § «Na cela há cinco polícias fortes e um preso. Os polícias dispõem de meios que tudo alcançam e sabem que o obrigarão a confessar. / Como feras esfaimadas, atiram-se ao preso, às cegas, numa fúria. No fundo sentem-se mal, porque a cela é demasiado pequena para tanta gente. Além disso, os fatos pesados são um estorvo e os colarinhos duros incomodam terrivelmente.» Michael Gold, Para a Frente América... - «Cárcere» - trad. Manuel do Nascimento
sábado, maio 17, 2025
alhures
o que está a acontecer
«A cauda ergueu-se num ápice, formando volta que nem cabo de guarda-chuva; a cabeça levantou-se também e nela luziram os olhitos até aí amortecidos. "Piloto" estugou o passo. O caminho estava cheio de tentações, de paragens obrigatórias, estabelecidas por todos os cães que passaram ali desde que Manteigas existia, desde há muitos séculos.» Ferreira de Castro, A Lã e a Neve (1947)
as 2-razões-2 por que vou voltar a votar no PCP/CDU este ano
Como sempre, continuo a votar onde e em quem me apetece; como no ano passado, volto a votar nos mesmos e pela mesmíssimas razões. São elas:
1. A posição do PCP em relação à Guerra da Ucrânia, entre a Rússia e (parece que ainda) os Estados Unidos. Posição moderadíssima, aliás, que tem a grande virtude de não tolerar que Portugal seja nesta questão mais um verbo de encher, ao contrário dos outros partidos todos com assento no Parlamento, do do "nacionalista" Ventura ao do sofista Tavares.
2. Gosto de votar e que o meu possa ter influência, o que várias vezes não sucede. Há uma ano votei na CDU para ajudar a eleger António Filipe, número dois por Lisboa. O último ano mostrou como a Assembleia da República se degradou com a eleição dos candidatos do Chega. Nunca como agora o Parlamento precisou tanto de bons parlamentares. E António Filipe é dos melhores.
E é isto
sexta-feira, maio 16, 2025
2 versos de Cristóvão de Aguiar
«velha pecha esta minha de mergulhar / nos confins do teu nome para te procurar»
«Na esquina do vento», Sonetos de Amor Ilhéu (1992)
Palestina, um crime nas nossas barbas
Se há nação e estado que nunca deveria ser agente, por acção ou omissão, do que se está a passar na faixa de Gaza (nem nos colonatos da Cisjordânia ocupada, já agora), esse seria o povo judeu e o estado israelita, com o perpetrar de um genocídio nas nossas barbas. Nunca como agora o velho cartoon do António foi tão actual, tão verdadeiro, e infelizmente também, cada vez menos exagerado, na sua função satírica.
(Infelizmente palavras como genocídio estão cada vez mais banalizadas, num tempo em que elas, as palavras, valem cada vez menos. Se chamamos genocida a um ladrão pindérico como o Bolsonaro, como designaremos agora Netanyahu: alguidar?, carburador?, pastel de nata?...)
A partir de agora a bandeira da Palestina vai estar na coluna direita. Perdi por Israel todo o respeito e admiração que em tempos tive. Restam os kibutz, as pequenas comunas que já existiam antes da criação do estado e que continuarão a existir depois dele.
Não se trata com isto, como sabem os que por aqui passam, de desculpar e muito menos "absolver" a barbárie do Hamas -- grupo armado independentista islâmico, e não terrorista na sua essência, mesmo que praticando abjectas acções terroristas, como o são quaisquer ataques a civis; mas o a abjecção do governo israelita traduz-se na multiplicação do terror infligido pelo Hamas. Se fosse a vingança bíblica que queriam, há muito que estavam vingados. Mas é mais que isso: é genocídio praticado por um povo que foi sempre perseguido, de Nabucodonosor a Hitler.
zonas de conforto
Frei João Álvares aos monges do Paço de Sousa, 24-XII-1467: .../... «Mas empero eu verdadeiramente conheço que de ignorância e de negligência me nom posso escusar porque, nom embargando que eu muito mais pudera fazer do que fiz,, nom sei como pudera ir com elo ata a fim. E às vezes melhor é de não começar homem a fazer alguas cousas quando nom vê como se possam acabar.» Andrée Rocha, A Epistolografias em Portugal (1965) § António de Cértima: .../... «E é aqui, certamente, que tudo o que há de cerebral, de luminoso e de fútil, na permanência dos seus valores e das suas sugestões, se encontra bem marcado, excitante e inamovível.» .../... Doce França (1963) § Machado de Assis: «A mulher, que tinha então vinte e um anos, e morreu com vinte e três, não era muito bonita, nem pouco, mas extremamente simpática, e amava-o tanto como ele a ela. Três dias depois de casado, mestre Romão sentiu em si alguma cousa parecida com inspiração. Ideou então o canto esponsalício, e quis compô-lo; mas a inspiração não pôde sair.» Histórias sem Data (1884) - «Cantiga de esponsais»
quinta-feira, maio 15, 2025
2 versos de Camões
«Tão brandamente os ventos os levavam / Como quem o Céu tinha por amigo;»
Os Lusíadas, I,43 (1572)
o que está a acontecer
«Lá dentro, na fofa viuvez de um canapé acolchoado, um Mestre de Rythmos me sondava os músculos e as articulações, na esperança de poder contribuir para o meu futuro alindamento. Lembro-me de que um moço do talho chamado Isaac fazia sempre cócegas à mesma criada e no mesmo sítio. Lembro-me ainda de que, quando a noite caía e a rua se tornava numa tira preta colada aos vidros, eu ia sentar-me na casa de banho para ouvir pingar as torneiras, pois tinha medo do silêncio.» Nuno Bragança, A Noite e o Riso (1969)
«O clarão, dos altos daquele encafuamento, deixava-se ganhar, degrau a degrau, e fazia descobrir as tonalidades mais verdes de musgos escondidos e de andrajosos líquenes de fraca reprodução. Tinham passado já o suar das paredes que cá em baixo tanto fazia admirar os visitantes.» Ruben A., A Torre da Barbela (1964)
«Em anoitecendo, tudo aquilo era duma contemplação lúgubre e misteriosa, em que se adivinhava o trabalho de milhões de larvas; o ladrar dos cães tinha um eco desolado, que tornava depois mais sinistro o silêncio; a porta fechava-se sem rumor, girando em gonzos discretos, e uma luz esmaecia na treva, no fundo dos ciprestes e dos túmulos, diante de um santuário deserto, onde o Cristo, do alto, olhava vagamente o guarda-vento.» Fialho de Almeida, A Ruiva (1878)
quarta-feira, maio 14, 2025
4 versos de José Pascoal
«É a vontade sensível de viver / Mergulhado nos mapas deslumbrantes / Da memória, nas cartas do futuro / Incompleto de todos os instantes.»
«A vida íntima», Sob Este Título (2017)
terça-feira, maio 13, 2025
ucraniana CCLXXXVIII - Zelensky repara, Zelensky substitui
Chega um tipo ao restaurante, a televisão sintonizada na cnn, e vê o pobre general Carlos Branco a pisar um daqueles filetes que está na base do ecrã, destacando as últimas (ou penúltimas) parvoíces de desinformação. Hoje era qualquer coisa como isto: Zelensky delineia plano de paz para a reunião na Turquia; Zelensky só aceita reunir-se com Putin, etc....
Não é cómico? Um tipo que vai ao país dos otomanos por uma orelha e pela mão do Trump, e estas pulgas da cnn-Portugal (certamente orientadas pela casa-mãe) a aldrabarem os feirantes de Espinho, dizendo-lhes que Zelensky repara, Zelensky substitui; Zelensky delineia, Zelensky exige.
Já não me sorria tanto desde que uma barbie empoderada (é português isto?) parecia a caminho do orgasmo sempre que pronunciava o nome do grande líder; ou uma outra, velha platinada, vinda ao ecrã gabar o tónus olímpico do Biden destroço.
4 versos de Rui Knopfli
«Das sombras, das solidões / dos recantos recônditos / da noite e da chuva / saem homens.»
«Dawn», O País dos Outros (1959)
atrás de um idiota
Diz este estúpido que "a chave é ter tropas na Ucrânia". É um imbecil que nem sequer tem filhos para mandar para lá, acirrado por os russos estarem a tramá-lo em África. Isto daria pano para muita conversa. O que espero é que os que agora estão com sorrisinhos eleitorais, em especial Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, sejam políticos portugueses e não nos atrelem a esta criatura. Devo dizer, aliás, que tanto Montenegro como Rangel, para surpresa minha, foram muito menos infelizes nas suas declarações enquanto governantes do que o infelicíssimo Costa e ministro -- não sei se estão recordados do catastrófico Costa, recompensado pela sua miséria política com um posto de corta-fitas na UE. Aqueles tinham ao menos o cuidado da ponderação mínima e de dizer que a acção do estado português decorrerá sempre sob a égide da ONU e no respeito pelo Direito Internacional. Veremos se é só conversa.
segunda-feira, maio 12, 2025
2 versos de José Alberto Oliveira
«A literatura é o subúrbio da poesia, / concordámos, sem muito esforço, por esses dias;»
«Cartas - 1. Para o Manuel Afonso Costa», O que Vai Acontecer? (1997)
sábado, maio 10, 2025
sexta-feira, maio 09, 2025
3 versos de Arnaldo Santos
«Vinham ao longe / Em conversas vagas / Na tarde baixa ressumando dobres.»
«Contratados», Fuga (1960)
quinta-feira, maio 08, 2025
Leão
Como toda a gente, assim que ouvi o nome do novo papa, Leão XIV, liguei-o ao anterior Leão, o da doutrina social da Igreja e da encíclica Rerum Novarum. Qualquer que seja a direcção que venha a tomar, certamente humanista, o nome indicia que o agora pontífice não vai ficar parado. E se há coisa que este mundo sujo precisa é de grandes figuras éticas. O Papa além de ser o chefe espiritual do catolicismo, é um chefe de estado, um líder político, goste-se ou não -- como de resto o é também o Dalai Lama, outra figura ética e política, enquanto monarca apeado no Tibete.
não é D. Tolentino, ó palermas...
Sempre me irritou esta preguicite de cortarem o nome às pessoas. Foi mais um mau hábito que caiu no goto, não se percebe bem porquê. Agora, por causa da eleição do novo papa, a toda a hora os me(r)dia nacionais convocam o nome do cardeal José Tolentino Mendonça, chamando-lhe D. Tolentino... Se o homem se apresenta e assina com o nome próprio, a referência correcta será sempre D. José T. M. Vivemos imersos numa tosca porcaria.
2 versos de José Régio
«Lá pela noite morta, / Passaram salteadores à minha porta.»
«Canção de guerra», As Encruzilhadas de Deus (1936)
zonas de conforto
Raul Brandão: «O casebre não existe -- as paredes não têm limites, na escuridão remexem seres que esperam que se realize um sonho impossível no mundo. / O Fortunato que nunca comeu à sua vontade e que trabalha até à morte, a velha que não fala e nunca se queixou, a Rosa e o ladrão que anda a monte, o criado que os serve há tantos anos sem receber soldada, ouvem o Manco e deixam apagar o lume reduzido à ponta dum cigarro.» O Pobre de Pedir (póst., 1931) § Machado de Assis: «Não é que não rabiscasse muito papel e não interrogasse o cravo durante horas; mas tudo lhe saía informe, sem idéia nem harmonia. Nos últimos tempos tinha até vergonha da vizinhança, e não tentava mais nada. / E, entretanto, se pudesse, acabaria ao menos uma certa peça, um canto esponsalício, começado três dias depois de casado, em 1779.» Histórias sem Data (1884) -- «Cantiga de esponsais». § Fialho de Almeida: «Hão-de ter reparado que certas coisas têm fisionomias humanas conhecidas de nós, o traço dalguém que amámos, duma pessoa que nos impressionou em tal parte, ou por um qualquer detalhe, pequenino que fosse. Às vezes é uma nuvem que, por entre uns esboços de cara, guarda por momentos o doce sorriso de nossa irmã. Às vezes é uma flor, a do pilriteiro, que tem no desenho do cálice o modelo frágil da pobre criaturinha loura que morreu tísica ao escrever-nos a primeira carta.» O País das Uvas (1893) -- «Pelos campos» § Augusto Casimiro: «Há crimes que invocam o Amor da Pátria para se realizar. Há violências que se dizem por ele exigidas. Mentiras que dele querem viver e da sua força.» O Livro dos Cavaleiros (1922) § António de Cértima: .../... «E é entre estes dois pontos terminais da mais bela artéria urbanística do mundo que me parece dever fixar-se a verdadeira representação psico-fisiográfica de Paris -- que alguns pretendem deslocar para o território intelectual da Sorbonne, outros para a arte do Louvre, e ainda outros (ou outras) para os salões de Dior e Jean Dessès, na convicção de que só a inventiva dos grandes costureiros saberá definir perante o universo o poder criador da cidade.» .../... [14.VIII.1961], Doce França (1963) § Frei João Álvares ao monges do Paço de Sousa, 24-XII-1467: .../... «E assi de vós outros que vos deve nembrar como vos destes e oferecestes e consagrastes a Deus per vossos votos e vossa própria vontade, ca a mim não me prometestes nenhuma cousa, nem eu vos nom demando nem requeiro al senom o que deveis de pagar a Deus que o entregueis e deis a mim, que som seu procurador e mordomo que ele escolheu e me chamou à luz deste mundo do ventre da minha mãe, e me ungiu com o óleo da sua misericórdia e me pôs neste lugar antre vós, feito padre e abade, per a qual dignidade e ofício vós me nom elegestes nem me escolhestes, mas eu vos elegi e escolhi. E de como vos mantive e governei esse tempo que convosco estou, vós o sabeis e podeis delo dar testemunho.» .../... in André Rocha, A Epistolografia em Portugal (1965/85)
quarta-feira, maio 07, 2025
o que está a acontecer
«2- No dia a seguir àquele em que comecei a usar risca ao lado fui transportado para uma habitação na berma da cidade. Pela poeirenta rua deslizavam carros, volumes, carteiros e toda a sorte de animais. Como um rio, o barulho do que na rua decorria se raspava de encontro aos muros da que, agora, era a minha casa.» Nuno Bragança, A Noite e o Riso (1969)
«Na lama constante do caminho, eram profundos os sulcos que as seges de enterro deixavam até à porta do cemitério, escancarada sempre, como a goela dum plesiossauro faminto.» Fialho de Almeida, A Ruiva (1878)
«-- Subir é o caminho para os céus -- dizia o caseiro. -- Há dias que venho cá duas e três vezes quando não quatro e cinco. Enfim, são sortes. Tenho o coração que nem um garrano. Vamos, falta pouco. Só quinze degraus e depois é a terra toda e o rio de boca aberta para nós.» Ruben A., A Torre da Barbela (1964)
5 versos de Fernando Jorge Fabião
«entrar em casa / é pensar a mulher / na limpidez absoluta das sílabas / quando ainda se ignora a morte / e tudo pode ser dito»
Nascente da Sede (2000)
terça-feira, maio 06, 2025
3 versos de Cesário Verde
«A espaços, iluminam-se os andares, / E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos / Alastram em lençol os seus reflexos brancos;»
«Noite Fechada - O Sentimento dum Ocidental II», O Livro de Cesário Verde (póst., 1887)
segunda-feira, maio 05, 2025
apagão
Em pleno dia, numa paragem de autocarro apinhada, uma velha tem as duas mãos postas à cabeça, como que a arrancar o cabelo curto. (Visto num telejornal.)
3 versos de Fernando Grade
«A correr atrás da carruagem / um eco de patas a percorrer a melancolia / de as rodas serem mais velozes»
«A correr atrás da carruagem», O Livro do Cão (1991)
domingo, maio 04, 2025
saiu no JL
António Cândido Franco: «Havia nele qualquer coisa dum Cristo literário, disposto a sacrificar a vida por todos, e dum Saint-Just anónimo, que com indefectível pureza não se perdoava a si e aos outros a menor cedência.» (sobre Luiz Pacheco)
António Carlos Cortez: «Explorando os ambientes e cambiantes de São Salvador da Bahia, Paulo Teixeira sabe bem o que é literatura: povo, oralidade, realismo levado até ao osso; mas sem rasgar à força a arte da elocução, sem artificializar.» (sobre o romance de Paulo Teixeira, Não Digas o que a Baiana Tem)
Carlos Vale Ferraz: «Como escritor sou um dano colateral do 25 de Novembro de 1975.» («Autobiografia»)
Guilherme d'Oliveira Martins: «O Papa Francisco lembrava Gustav Mahler, a defender que a fidelidade à tradição não consistiria em adorar as cinzas, mas em conservar o fogo.»
Maria Fernanda de Abreu: «[...] creio bem que a grande qualidade de Vargas Llosa é herdeira do melhor romance oitocentista, que ele actualiza, reformulando também a herança da literatura indigenista, para contar histórias (quase sempre) do seu tempo e da sua terra.»
Paulo Teixeira: «Somos todos personagens secundárias.» (entrevista a Luís Ricardo Duarte)
JL #1424 -30.4.2025
alhures
«Sempre supus que antes de desaparecer totalmente como personagem terráquea ainda estaria a tempo de provar os teus lábios. Não sei se isso me daria algum alimento, mas pelo menos produzir-me-ia uma espécie de cócegas estranhas muito confortáveis, no sangue. Julgo isso porque aos vinte anos beijei uma rapariga: era feita dos materiais que se costumam usar correntemente. Estiraçámo-nos atrás duns arbustos.» Félix Cucurrull, Antologia do Conto Moderno -- «Carta de despedida» -- trad. Manuel de Seabra § «Picasso estava a começar o que mais tarde seria conhecido como o seu "período azul", mas Gertrude Stein e eu estivemos a tomar café com ele e por isso ele começou-o dez minutos depois. Durou quatro anos e portanto os dez minutos não tiveram grande importância.» Woody Allen, Getting Even / Para Acabar de Vez com a Cultura (1966) -- «Memórias do Anos Vinte» -- trad. Jorge Leitão Ramos § «"Escritura lavrada em Pampérigouste, no cartório do notário Honorat, na presença de Francet Mamaï, tocador de pífaro, e de Loiset, por alcunha o Quique, cruciferário dos penitentes brancos; / "Que assinaram com as partes e com o notário, depois de lida...» Alphonse Daudet, Cartas do Meu Moinho (1869» -- «Prólogo» - trad. Fernanda Pinto Rodrigues
sexta-feira, maio 02, 2025
2 versos de Rui Knopfli
«Vinte e tantos anos de idade / e outros tantos de medo.»
«A quinta década», O País dos Outros (1959)
quinta-feira, maio 01, 2025
ucraniana CCLXXXVII - uma vitória do "mediador", uma derrota para a Rússia (e a 'débâcle' da Ucrânia)
1. Segundo o comentariado de meia-tigela, indignados com a mudança de atitude da nova administração Trump, de alegada aproximação das partes, os Estados Unidos não seriam mediadores isentos pela forma como pressionavam a Ucrânia em favor da Rússia.
2. Vários daqueles são comentadores de meia-tigela porque querem e não se importam de fazer figuras tristes, até porque sabem que a maior parte do público não percebe de geopolítica.
3. Acontece que, como é óbvio, os Estados Unidos não são mediadores de coisa nenhuma, mas parte, a mão por detrás do arbusto, como diria José Sócrates a outro propósito, que realmente manipula o Zelensky. Mais ainda, como já aqui escrevi: a mudança de estratégia dos EUA em relação à Ucrânia é fruto do reconhecimento da derrota da jogada da anterior administração americana.
4. Se Putin joga xadrez, Trump é um celebrado vendedor de carros usados. O acordo que foi assinado sobre as terras raras, a efectivar-se, representa uma vitória dos Estados Unidos em relação à Rússia, mas acima de tudo a débâcle da Ucrânia, pois se os russos não abandonarão os territórios ocupaqdos, os americanos passarão, sem disparar um tiro, a tomar conta do que resta da Ucrânia, com a suprema lata trumpista de justificarem a extorsão como "compensação" pelo "apoio" à Ucrânia na guerra que eles próprios, americanos, provocaram com a Rússia. Estou curioso para ver o que se passará a seguir.
o que está a acontecer
«Reunido o Conselho de Família, verificou-se (e registou-se em acta) a ausência do meu tio Augusto, que não pôde comparecer, ocupado, como estava, a violentar a filha menos vesga do jardineiro. Decidiu-se que eu não seria imediatamente recrutado: a debilidade era o meu forte. Foi-me oferecido um gato de peluche e, como nesse dia perfiz cinco anos, assim terminou a minha recuada infância.» Nuno Bragança, A Noite e o Riso (1969)
«Daí à torreta eram ainda uns trinta degraus, dos mais altos e pesados, daqueles que, sem se querer, fazem pregas indiscretas na barriga. / A bicha dentro do esófago da Torre, contava para si os martírios passados naquela ascensão; uns davam ah has de alívio, outros comparavam com a escadaria do Bom Jesus do Monte, com a Torre dos Clérigos e ainda recordavam a subida ao Santuário de Lamego.» Ruben A., A Torre da Barbela (1964)
«Tratava-se então de levantar um muro de cantaria que fosse como uma fachada opulenta da gélida cidade de cadáveres; na planura que medeia entre o cemitério e as terras, o terreno via-se revolto; os carros de mão jaziam esquecidos; os montes de pedras miúdas e de argamassas antigas tornavam penoso o trânsito.» Fialho de Almeida, A Ruiva (1878)
2 versos de Florbela Espanca
«Quem noites só conheceu, / Não pode cantar auroras.»
Trocando Olhares / Antologia Poética
quarta-feira, abril 30, 2025
4 versos de Luísa Dacosta
«Longe, mentalmente, / e ainda com maior leveza / do que a das águas da maré, / imprimo, em mim, as rugas do teu rosto.»
«Aprendizagem», A Maresia e o Sargaço dos Dias (2011)
terça-feira, abril 29, 2025
1 verso de Vítor Oliveira Jorge
«e tu começavas caminhando, e todo o teu corpo se enchia de pequenos sons musicais, e quando paravas eu debruçava-me sobre a tua pele e ouvia a respiração da terra»
Sem Outra Protecção Contra a Noite (1980)
segunda-feira, abril 28, 2025
3 versos de Alberto de Lacerda
«Canto porque as palavras / passaram cegas à espera / da luz da minha canção.»
«Sim», 77 Poemas (1955)
domingo, abril 27, 2025
o que está a acontecer
«Não que o meu sorriso fosse esgar, ou o meu gargalhar inexistente; mas uma certa palidez no semblante geral denunciava (ao que parece) más possibilidades. Foi nessa época que se pôs o problema de eu ser ou não envolvido a fundo nas malhas da F.R.I.P.M.S. (Fundação do Recrutamento Infantil Pró Movimento Selecta). Nuno Bragança, A Noite e o Riso (1969)
«A taberna do Pescada ficava mesmo em frente ao cemitério dos Prazeres, e era frequentada pela gente do sítio, especialmente de noite, à hora em que os cabouqueiros e os britadores abandonam os seus trabalhos e entram na cidade, em ruído.» Fialho de Almeida, A Ruiva (1878)
«-- Pode-se ir lá acima? / -- É à vontade. / Degrau a degrau, de cabeça marrada aos pés, os visitantes trepavam lentamente. Ultrapassada a casa de defesa, resto de quarto só com paredes e bancos ao pé de velhas seteiras, o público respirava satisfeito. A cisterna então não deixava ver bem os fundos, espelhava de mais.» Ruben A., A Torre da Barbela (1964)
sábado, abril 26, 2025
sexta-feira, abril 25, 2025
2 versos de Luísa Dacosta
«Só o lume duma traineirinha / é pirilampo na noite.»
«Nocturno», A Maresia e o Sargaço dos Dias (2011)
alhures
«A Itália fez-me lembrar bastante Chicago, sobretudo Veneza, já que ambas as cidades têm canais e as ruas estão cheias de estátuas e de catedrais dos maiores escultores do Renascimento. / Naquele mês fomos ao atelier de Picasso em Arles, que então se chamava Ruão ou Zurique, até que os franceses a rebaptizaram em 1589, sob o domínio de Luís, o Vago. (Luís foi um rei bastardo do século XVI que era mauzinho pata toda a gente.) Woody Allen, Getting Even / Para Acabar de Vez com a Cultura (1966) - trad. Jorge Leitão Ramos § «Se te houvesse convertido num fantasma, talvez um dia qualquer nos encontrássemos juntos para além do satélite artificial que os americanos querem atirar para o espaço: seríamos como dois elnçóis flutuando entre a terra e a lua; talvez uma noite qualquer provocássemos um eclipse.» Félix Cucurull, «Carta de despedida», Antologia do Conto Moderno - trad. Manuel de Seabra § «"Esta venda é feita em bloco e mediante o preço convencionado, que o Sr. Daudet, poeta, apresentou e depositou neste cartório em moeda corrente, o qual preço foi em seguida contado e levantado pelo Sr. Mitiflo, tudo na presença do notário e das testemunhas abaixo assinadas, do que se dá quitação sob reserva.» Alphonse Daudet, Cartas do Meu Moinho (1869) - «Prólogo» - trad. Fernanda Pinto Rodrigues
quinta-feira, abril 24, 2025
4 versos de José Régio
«Porque não vens, tu que não chegas, / Meu terrível fantasma real e vago? / E sonho... sim!, que vens, sim!, que te entregas / Na pobre carne que pago.»
«Poema da Carne-Espírito», As Encruzilhadas de Deus (1936)
zonas de conforto
António de Cértima: [14.8.1961] «Subo um pouco mais e, da planura verdejante do Rond Point, os olhos divertem-se a seguir o movimento da multidão zebrada de cores que sobe e desce a Avenida, e a aprisioná-la lá em cima, num cartaz modernista, junto do Arco glorioso que nos fala das preocupações arquitecturais e do instinto das batalhas do vencedor de Arcole e Austerlitz.» Doce França (1963) § Fialho de Almeida: «Porque, seriamente, nós volvemos de novo à flor desta sagrada terra que nos devora, uma vez, muitas vezes, em regiões várias, climas, vários e disfarçados consoante o humorismo da química que nos manipula.» «Pelos campos», O País das Uvas (1893) § Machado de Assis: «Naturalmente o vulgo não atinava com ela; uns diziam isto, outros aquilo: doença, falta de dinheiro, algum desgosto antigo; mas a verdade é esta: -- a causa da melancolia de mestre Romão era não poder compor, não possuir o meio de traduzir o que sentia.» «Cantiga de esponsais», Histórias sem Data (1884) § José Bacelar: «Gritar, vituperar, amaldiçoar -- está bem ainda. Mas ai daquele que não faz como os outros -- ai daquele que friamente levanta um pouco o véu.» Revisão 2 -- Anotações à Margem da Vida Quotidiana (1936) § Eugénio de Andrade a Jorge de Sena (1955): .../... «Bem vê, portanto, que a nossa camaradagem e amizade sai intacta do prémio, como não podia deixar de ser. / Diga-me quando puder qualquer coisa sobre a antologia do Pascoaes. Não voltou a pegar-lhe? Era bonito aparecermos com isso no próximo inverno. Quando passar pelo Porto, previna-me. Gostava de estar consigo. / lembranças à Mécia e o melhor abraço do seu / Eugénio.» Cartas de Eugénio de Andrade a Jorge de Sena, ed. António Oliveira, 2015 § Raul Brandão: «A terra é dos probes -- teima ele. / Cheira a monte e arfa no escuro uma coisa sagrada -- o sonho dos pobres. As figuras da realidade desapareceram, outras figuras estão presentes como sombras carcomidas e que chegam ao céu. Um momento a brasa ilumina as mãos da senhora Emília que parecem de morta.» O Pobre de Pedir (póst., 1931)
quarta-feira, abril 23, 2025
5 versos de José Agostinho Baptista
«por vezes / as aves do litoral, em largos círculos à volta dos navios, traziam / notícias do norte que eu abandonara -- / campos de silêncio adormecidos pelos séculos, vinhas e árvores, / atalhos onde pela noite se reuniam as feiticeiras da ilha;»
«Morituri», Deste Lado Onde (1976)
o que está a acontecer
««Então, buscando o menos possível mudar-lhe a fisionomia, o antigo ar interior e íntimo (Na cantoneira onde a tia Mariana guardava a marmelada, nem tocar...), chamara um mestre-de-obras e assenhoreara-se de todo o edifício, aproveitando-o conforme a ideia que de longe lhe trabalhava no sentimento.» Tomaz de Figueiredo, A Toca do Lobo (1947)
«1. Criado embora entre hálitos de faisão, cedo me especializei na arte de estender os braços. Dia após dia os mais laboriosos, cansativos forcejos projectavam meus membros anteriores em-frentemente. E isto assim até que perdi as mãos de vista.» Nuno Bragança, A Noite e o Riso (1969)
«Contra o que seria plausível esperar neste desigual processo de transporte, dos dois o menos extenuado e impaciente com as longuras e fadigas da jornada não se pode dizer que fosse o cavaleiro.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)
terça-feira, abril 22, 2025
2 versos de José Alberto Oliveira
«Pernoitou nos arrabaldes de uma cidade estranha / e reviu sem gosto o princípio da matéria dada,»
«A Sede do Gado», O que Vai Acontecer? (1997)
segunda-feira, abril 21, 2025
um líder excepcional
Baptizado, educado na Igreja Católica, numa família que se dividia entre o ateísmo anticlerical e uma prática religiosa abaixo dos mínimos, por tradição, hábito e superstição, português e europeu, sou um ateu impregnado de cristianismo. Aliás, como qualquer um cujo coração está à Esquerda, a figura histórica de Jesus Cristo, a sua mensagem revolucionária, pregada ainda na Antiguidade, recorde-se, de que todos os homens são filhos de Deus e iguais na dignidade, só pode merecer a adesão de todos quantos atribuem a essa mesma dignidade um valor inegociável e sem cotação em bolsa.
O papa Francisco, Jorge Bergoglio, era desses. Por isso -- com as excepções do costume -- concitou não apenas o amor e a admiração dos seus fiéis, como de todos os homens de boa-vontade, qualquer que fosse a sua religião, ou não professassem credo algum, como é o meu caso.
Além disso, o seu humanismo e bom-senso, uma voz que se elevava sobre os guinchos das hienas da indústria bélica e os seus criados, na União Europeia e alhures, e sobre a indiferença que estes mesmos servos da UE já demonstraram ter diante do genocídio -- creio que só agora assumo esta palavra, e já vou muito atrasado -- dos palestinos e a condescendência para com os criminosos de guerra do governo de Tel-Aviv.
Como esquecer a ida a Lampedusa, no início do pontificado?; as palavras contundentes e cheias de indignação contra a "economia que mata"?; os latidos da Nato à porta da Rússia?; a vergonha excruciante de chefiar uma instituição religiosa com um histórico encobrimento de abusos sexuais generalizados que tornam uma parte da igreja num coio de crime e abjecção? A luta entre bem e mal trava-se também lá dentro. Francisco era do Bem, e só este é admissível.
Vai fazer imensa falta, e espero, que o próximo possa estar à altura do grande Francisco. Afinal, um papa continua a ser um líder político mundial e uma das consciências da humanidade.
3 versos de José Pascoal
«A rua é um largo claro / Onde as crianças brincam / Com os lábios ao fresco.»
«Angelus», Sob Este Título (2017)
domingo, abril 20, 2025
o que está a acontecer
«A casa, não. Fruída nos últimos anos a meias com o caseiro (para este a banda virada a nascente, e donde se alcançava o Penedo Grande, a cavaleiro do Monte dos Covos; para os patrões a oposta, com serventia própria e voltada para a mata) desde que resolvido o passo de vir ali enterrar-se vivo, Diogo Coutinho destinava ao caseiro que se passasse para os Nogais.» Tomaz de Figueiredo, A Toca do Lobo (1947)
«Não se moviam em perfeita igualdade de condições os dois viandantes. / Um, o mais moço e pela aparência o de mais grada posição social, era transportado num pouco escultural, mas possante muar, de inquietas orelhas, músculos de mármore e articulações fiéis; o outro seguia a pé, ao lado dele, competindo, nas grandes passadas que devoravam o caminho, com a quadrupedante alimária, cujos brios, além disso, excitava por estímulos menos brandos do que os de simples e nobre emulação.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)
«A família de Bernardo Sanches tinha adquirido um estado aristocrático, o que quer dizer que estacionara no cumprimento de determinada herança de hábitos, frases, opiniões que, uma vez desprendidas da personalidade que os fizera originais, restavam agora somente como snobismos e ocas imitações. Enfim, o talento da imitação -- pensava Germana -- chegava a ser tão característico como uma originalidade, não só em determinadas famílias, como, mais genericamente, em determinados povos.» Agustina Bessa Luís, A Sibila (1954)
sábado, abril 19, 2025
sexta-feira, abril 18, 2025
o que está a acontecer
«Pois que é a aristocracia senão o degrau mais alto que uma sociedade deseja atingir, a supremacia de determinada classe sobre as outras, a imposição dos seus valores, sejam eles de força, de trabalho, de espírito, conforme a época que lhes é propícia?» Agustina Bessa Luís, A Sibila (1954)
«Portão e caminho até ao terreiro, sob a latada, quisera o dono continuassem escalavrados como no tempo ido, em que só ali vinha, e nem sempre, quando era pelas vindimas e varejadas de castanhas, lá raro pela feitura do azeite.» Tomaz de Figueiredo, A Toca do Lobo (1947)
«Vestígios de existência humana raro se encontravam. Só de longe em longe, a choça do pegureiro ou a cabana do rachador, mas estas tão ermas e desamparadas, que mais entristeciam do que a absoluta solidão.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)
quinta-feira, abril 17, 2025
o que está a acontecer
«-- Uma espécie de aristocracia ab imo. -- E Bernardo riu-se, cheio duma ironia afável e quase distraída; tirou do nariz as lunetas, muito maquinal, colocou-as de novo, ajustando as molas de ouro nos vincos que pareciam o sinal de unhadas, e, com um piscar precipitado como quem bruscamente transita da obscuridade para a luz, disse ainda -- «Ab imo», da terra, pois ele considerava a cultura como um privilégio pessoal, e nunca perdia a oportunidade de se mostrar generoso, transmitindo-a.» Agustina Bessa Luís, A Sibila (1954)
«Embora de teimoso castanho, abanados por entalões de carretos, chicoteados e entranhados por chuvas de invernos, os batentes do portão, lassos da corrosão das cunhas cinco dos seis chumbadouros, havia muito que não jogavam nos gonzos. Franqueados como abraços, o areão e o saibro dos enxurros caldeavam-nos à terra como se houvessem botado raízes, reverdecidos.» Tomaz de Figueiredo, A Toca do Lobo (1947)
«Era nos extremos do Minho e onde esta risonha e feracíssima província começa já a ressentir-se, senão ainda nos vales e planuras, nos visos dos outeiros pelo menos, de sua irmã, a alpestre e severa Trás-os-Montes. / O sítio naquele ponto, tinha o aspecto solitário, melancólico e, nessa tarde, quase sinistro. Dali a qualquer povoação importante, e com nome em carta corográfica, estendiam-se milhas de poucos transitáveis caminhos.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)
Fernando J. B. Martinho (1938-2025)
E só agora, pelo JL, dei pela morte de Fernando Martinho, com quem estive, em várias circunstâncias, nos últimos trinta ou mais anos, sempre por causa da poesia e dos seus poetas, que ele sabia como ninguém abrir à leitura e comunicá-la.
Carlos Matos Gomes (1946-2025)
Durante uns breves dias fora e desconectado, a morte de Carlos Matos Gomes -- tantas vezes aqui chamado, em serviço público --, apanha-me como a pior notícia desta Páscoa, pelo inesperado e pela falta que fará na análise de um momento internacional em que a inteligência e a coragem estão em suspenso.
sexta-feira, abril 11, 2025
«"presença": esboço para uma antologia pessoal»
2 versos de Dick Hard
«Sonhei que Deus dava autógrafos / à saída do Céu»
«Provas da inexistência de Deus (por ele mesmo)», De Boas Erecções Está o Inferno Cheio (2007)