segunda-feira, maio 06, 2024

ucraniana CCXXXVIII - com meias-palavras ou directamente, estes querem-nos alinhados numa guerra contra a Rússia. E os interesses de Portugal onde páram?

Três-artigos-três, na mesma edição do Diário de Notícias, a de sábado, que traz a sempre lúcida coluna de Viriato Soromenho Marques -- desta feita sobre marcelices, só muito de raspão aflorando a questão ucraniana, que inconsciente e criminosamente se vai tornando assunto nacional.

Pois bem, o primeiro artigo, do general Valença Pinto, ex-CEMGFA, em «Segurança e Defesa da Europa. Um tema urgente e obrigatório», em que só praticamente o título está certo, começa por falar na "inaceitável invasão" da Ucrânia pela Rússia. Sobre o cerco da Nato ou os mísseís instalados na Polónia (creio), alegadamente para dissuadir o Irão (!), já para não falar da preparação da adesão da Ucrânia à NATO, tudo razões mais do que justificativas para que a Rússia procedesse como o fez, nada diz. (Talvez sejam fantasias; ou propaganda, ver Serronha em baixo). Traça um quadro que me parece correcto no Norte de África e no Sahel -- terrorismo islâmico, tráfico, criminalidades várias --, para sustentar que a influência da Rússia e da China atentam contra os nossos interesses. Ora, parece-me que salvo nos aspectos atrás referidos, os nossos interesses ali não coincidem com os dos franceses (americanos e russos dividem neste momento uma base no Níger...), o que me parece ser um erro grave para um analista militar português; e depois também não seria mal pensado avançar as razões pelas quais os franceses foram chutados vergonhosamente das antigas colónias, A Meloni já explicou porquê. .Mas o general Valença quer fazer-nos crer que, por exemplo, os interesses franceses e portugueses em política externa, especialmente em África, coincidem. Pois só muito parcialmente isso sucede. O general dá ainda de barato a basófia do Trump quanto à Nato. Eu já me enganei muitas vezes, mas ainda não vi lógica nenhuma em que um império global como o americano se desembarace assim dum semi-continente obediente, cujos dirigentes, na sua maioria, não passam de valetes débeis. Claro que haverá sempre a possibilidade terrífica de os Estados Unidos entrarem em guerra civil, mas quem adivinha o futuro? Repetindo-me: sou pelo serviço militar ou serviço cívico obrigatórios, para ambos os sexos, com uma filosofia de base diferente do anterior SMO, mas não de certeza para, por estupidez, fraqueza ou traição, mandarmos os jovens portugueses para a morte em nome dos interesses americanos, ou franceses. A defesa de Portugal compete ao povo português, não a mercenários nem a outros países.

No mesmo número, de Patrícia Akester, especialista em Direito de Autor, publica  «Barómetro Geopolítico: Alta pressão, tempestades à vista, risco de conflito global e um guarda-chuva hegeliano», título arrevesado que não esconde o império da banalidade, do lugar-comum. A citação de Hegel com que nos pipoqueia, aplica-se como uma luva à autora. Nem mereceria comentários, a não ser o carregar na tecla da iminência de uma III Guerra Mundial. Não que ela não seja um perigo real, mas aqui só serve para assustar e encarreirar o rebanho. De resto, como já disse a luminária que está nos Negócios Estrangeiros, "não devemos ter medo dos russos". Repetindo-me outra vez: eu cá dos russos não tenho medo nenhum, tenho é daqueles que alegremente nos andam a empurrar para uma guerra como eles, a começar agora pelo improcriável Macron, que a "Africa Francesa" deitou para o caixote do lixo. (E foi muito bem feito.)

Finalmente, o inevitável Serronha, em «A guerra cognitiva e a guerra das narrativas: a relevância das operações de influência nas guerras», crochetou um texto em que alerta para as enormes capacidades propagandísticas da Rússia e da China, como se não tivéssemos assistido desde a invasão da Ucrânia à maior acção de condicionamento e lavagem cerebral da opinião pública ocidental -- como bem escreveu Miguel Sousa Tavares --, de tal maneira que até finlandeses e suecos se apavoraram com esta quase débil Rússia (em comparação com o poder soviético, em que esses países se mantiveram neutrais, aliás com vantagens para todos), condicionamento que passa pela censura descarada exercida pela UE, que quer proibir o "povo" de ver canais russos por cabo, em inglês, num forte assomo de liberalismo. Serronha propõe ainda mais skills e recursos humanos para a batalha da propaganda (que é real), sob pena de um "desastre estratégico". Desastre estratégico é para onde nos leva as lideranças europeias (que os próprios comentadores prò-Pentágono identificam como fracas), que transformou a UE numa entidade vassala e obediente aos desígnios estratégicos do império americano; desastre estratégico são os governos como o de António Costa e, está visto, o de Montenegro, que nos apequenam, quer na ausência de uma ideia estratégica nacional que não passe por sermos um dos cães dos Estados Unidos, e não uma voz, por acaso secular (estou a repetir-me outra vez), com fortes laços ao Atlântico Sul -- vantagem estratégica que deitamos pela borda fora enquanto nos babamos com a possibilidade do imprestável (exceto na crise da Covid-19) ex-primeiro-ministro possa ser corta-fitas da UE. Os portugueses foram sempre uns basbaques com o "estrangeiro".

Isto tudo num Sábado, que culminou à noite com variedades, animadas por Diana Soller -- não tenho o link --, com disparates vários, um dos quais foi a sua explicação para  a chamada de atenção por parte da Itália para o despropósito e a inconveniência das declarações do improcriável Macron. De acordo com a nossa especialista, elas, as declarações, devem-se a isto: "medo".  São uns valentaços estes comentadores. Mais valera a mui católica Prof.ª Soller, colaboradora do portal dos jesuítas, prestasse atenção e seguisse com cordura as opiniões do maior jesuíta do nosso tempo, que por acaso é o Papa Francisco. Mas nem sempre a Prof.ª Soller se espalha ao comprido. Logo no início da sessão, um patetinha cujo nome não me ocorre arranca com uma das mais asnáticas perguntas que já ouvi sobre esta guerra (ou então já estamos em modo pavloviano), e era ela sobre se a inclusão de Zelensky na lista dos mais procurados pela Rússia não seria um sinal de desespero de Moscovo. Ahahah, caraças... Felizmente para o canal, a senhora respondeu bem.


serviço público

 Manuel João Ramos, «Reparações imBRICadas».

estão à espera doutro Alcindo Monteiro?

Alcindo Monteiro
A escória que atacou, cobardemente, imigrantes no Porto, na sua condição de animais, de cães-de-fila , de marionetas perigosas, são consequência de laxismos vários. O laxismo do Tribunal Constitucional (TC), para começar, que permite a existência de organizações políticas com discurso racista e xenófobo. Não apenas o folclórico (porém, perigoso) Chega, passando pelo neo-fascista Ergue-te, poucos mas maus, e os subgrupelhos adjacentes aos quais se deve dar caça. e quanto mais cedo melhor. Mas para isso, torna-se necessário que o TC exerça a a suas competências e ilegalize essas organizações, pelos programas e/ou pelo discurso, que afrontam o país, para não falar da Constituição. Depois é julgá-los e pô-los na choça. Ou estão à espera doutro  Alcindo Monteiro ? 

Leio que a PJ e as "secretas" estão em campo. Veremos que consequências práticas isso terá. Para já, os crimes de ódio, a violência xenófoba, causam alarme social, independentemente do gás mediático que lhe dêem. Se não matam a serpente no ovo, será depois cada vez mais difícil. Proibir, perseguir, punir exemplarmente. Sem isso, não há democracia possível.


3 versos de Cesário Verde

«Era um municipal sobre um cavalo. A guarda / Espanca o povo. Irei-me; e eu, que detesto a farda, / Cresci com raiva contra o militar.» O Livro de Cesário Verde (póst., 1887)

domingo, maio 05, 2024

3 versos de Alberto de Lacerda

«A casa surgiu-me inesperada na floresta. / Que melancolia, no mistério / da sua solidão perfeita.!» 77 Poemas (1955)

sábado, maio 04, 2024

serviço público

 Carlos Matos Gomes, «A sociopatia e a compreensão das reparações coloniais».

4 versos de José Régio

«Ai vida sem alegria, / Sem desespero nem nada!... / A gente deita-se: É noite. / Levanta-se a gente: É dia...» As Encruzilhadas de Deus (1936)

sexta-feira, maio 03, 2024

Bob Marley, «Forever Loving Jah»

curtas

«A melhor das putas, a mais quebradiça e esquinada, conservada de luar e de exercício, ajoelhou-se aos pés dele e abraçou-lhe as pernas, dizendo frases que o senhor pode ler na tela do Pintor, em onomatopeia, que está agora no museu, por decisão camarária, das dez ao meio-dia e das duas às quatro.» Dinis Machado, Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel García Márquez (1984) «Eu já sabia que aquele povo subalimentado iludia o estômago com litradas de água e montes de verdura, às vezes ervas selvagens, numa sede provocada pelo sal dos alimentos.» Fernando Namora, «História de um parto», Retalhos da Vida de um Médico (1949) «Mesmo emigrados, não esqueciam a Virgem Nossa Senhora: ainda estava para aparecer o primeiro que, meses andados, não Lhe mostrasse a sua gratidão e grau de prosperidade enviando jóias e dinheiro, lá desde os confins da Califórnia, para Lhe serem ofertados, mais jóias, até, que dinheiro porque não havia, na Ilha, onde cambiá-lo.» Assis Esperança, «O dinheiro», O Dilúvio (1932)

4 versos de Mário de Sá-Carneiro

«Tristes mãos longas e lindas / Que eram feitas p'ra se dar... / Ninguém mas quis apertar... / Tristes mãos longas e lindas...» Dispersão (1914)

quinta-feira, maio 02, 2024

quadrinhos

fonte

 

caracteres móveis

«A Noroeste, o recorte esguio e cinzento de Sintra servia de pano de fundo à extensa planície que até lá se espraiava em mancha ora verde das relvas, ora amarelecida dos pastos no Outono, ora branca das povoações caiadas que a salpicavam e nas quais, aqui e ali, começavam a tremeluzir, ainda medrosas, as primeiras luzes.» Joaquim Paço d'Arcos, Ana Paula (1938)

«E em arroubos de apaixonado, envolveu-a na carícia dum tal olhar que a mole inerte pareceu vibrar, estremecer em frémitos de amor, transfigurada e viva na luz doirada que a beijava.» Manuel Ribeiro, A Catedral (1920)

«Vinha certeiro no silêncio e experimentava fortemente as árvores, que durante um segundo descreviam um círculo cheio, como piões no torpor.» Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal (1944)

4 versos de Armando Taborda

«Sou poeta / de índole calma / o sol está-me à porta / da alma.»  Palavras, Músicas e Blasfémias que Envelheço na Cidade (1996)

palavras odiosas

Sibilino. Representa tudo o que eu mais detesto; uma ironia cobarde e efeminada que frequentemente revela despeito e inveja.

quarta-feira, maio 01, 2024

caracteres móveis

«Da sua existência, Juvenal recordava apenas a tarde em que o pai volvera de uma caçada, trazendo, com a pelagem aqui e ali empastada em sangue, alguns pequenos coelhos -- únicas vidas que saltitavam de fraga em fraga, na terra que, de tanto estar sepultada em água, não tinha água que se bebesse.» Ferreira de Castro, Eternidade (1933)

«Mas eu crescera, agora zurzia-me de outro modo, a face dura, coriácea, a palavra seca, reduzida ao essencial da agressividade.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)

«No olfacto desabituado de Henrique de Souselas o cheiro resinoso e activo das pinhas e das agulhas secas dos pinheiros, queimadas no lar, produziam sensações muito longe de serem agradáveis.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)

3 versos de José Régio

«Em frente, no meu espelho, / Alguém me espreita, / Alguém me atrai, me repele.» As Encruzilhadas de Deus (1936)

caracteres móveis

«E imediatamente, a mão à pressa por todo o corpo, pelas nádegas, pelas mamas / -- ...que me magoa / atirados de escantilhão sobre a cama, a minha cólera em pé, enrodilhados, escabujados até à aniquilação.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983)

«O pai de Teresa não embicaria na impureza do sangue do corregedor , se o ajustarem-se os dois filhos em casamento se compadecesse o ódio de um com o desprezo do outro.» Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição (1862)

«Um pé de vento abalou as faias e os cedros, levantando-lhe a ponta do casaco e uma mecha de cabelo.» Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal (1944)

terça-feira, abril 30, 2024

Bob' Seger, «Mongrel Too»

na UE liberal, os bascos comem e calam (às vezes)

As eleições dos passado Domingo no País Basco espanhol deram um empate entre os dois partidos nacionalistas, o PNV, conservador, e o EH Bildu, da esquerda pós-ETA, que terá renunciado à acção armada. Isto é interessantíssimo, demonstrando que em Espanha e na liberal UE, a democracia e o liberalismo só servem se estiverem de acordo com os sistemas de poder. Um direito básico como o da autodeterminação é negado, pela força, claro. 
Gosto sempre de lembrar este iliberalismo quando as marionetas de turno ou os pobres scholars escalados para o comentário, não vêem ou não querem ver (progressão na carreirazinha oblige) um palmo à frente do nariz.

2 versos de Carlos Queirós

 «Por dentro, quem sabe / O que as coisas são?!» Desaparecido (1935)

curtas

«Compareceu de coração apertado, o chapéu a passar-lhe inquieto de mão para mão, defronte de um funcionário de ar severo e compenetrado, que lhe leu uma lenga-lenga qualquer de que ele não entendeu rato.» A. M. Pires Cabral, «O saco», O Diabo Veio ao Enterro (1984) «Em Fafe há sempre umas quadrilhas que dão febra e grandeza ao quadriculado do baixo Minho.» Ruben A., «Branca», Cores (1960) «O Luisinho chegou ao portão e o senhor Joaquim não o podia mandar afastar porque o tratava por menino Luisinho.» António Alçada Baptista, Uma Vida Melhor (1984)

segunda-feira, abril 29, 2024

John Coltrane, «Syeeda's Song Flute»

caracteres móveis

«A apaixonada menina escrevia-lhe a miúdo, e já dizia que a ameaça do convento fora mero terror de que já não tinha medo, porque seu pai não podia viver sem ela.» Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição (1862)

«Ambos suspenderam a marcha, olhando o Sol, que em fogo naufragava no mar.» Joaquim Paço d'Arcos, Ana Paula (1938)

«Ao longe, por detrás do segundo barco, mostravam-se as Desertas, negras na manhã radiosa, mas pousadas em mar tão manso que, mais do que ilhas atlânticas, dir-se-iam contrafortes dum lago.» Ferreira de Castro, Eternidade (1933) 

1 verso de Fernando Assis Pacheco

«cedo à "inspiração" para anotar o dístico há mais de um ano tentando a sua vez de ser um fecho aceitável» Siquer Este Refúgio (1976)

indemnizações, um problema mal posto

Se vierem dizer-me que Portugal deverá reparar Angola, Guiné e Moçambique pela Guerra Colonial, matança levada a cabo entre 1961 e 1974 -- a começar pela dos próprios portugueses criminosamente arrebanhados como carne para canhão --, serei o primeiro concordar. Um crime é um crime, é um crime e é um crime, terá de haver sempre uma reparação. A este crime junto outro, ainda mais obsceno: a figura do "contrato", praticado em relação a angolanos que iam trabalhar para São Tomé e Príncipe, que, no fundo não era mais do que escravatura disfarçada em pleno século XX.

Quanto à escravatura e tráfico negreiro que praticámos com diligência entre os século XV e XIX, trata-se de uma idiotice propor indemnizações. Indemnizar quem? E quem indemniza? Portugal? E os povos africanos que negociavam com os portugueses esse torpe comércio? E o estado brasileiro, que teria de estar na primeira linha do ressarcimento, no caso de haver lugar? O esplendor do wokismo analgabeto.

O assunto interessa-me como historiador; e, já agora, como particular. Sou bisneto de uma mulata brasileira, logo, de origem escrava. Digam-me lá então qual é o pecúlio que me cabe. 

domingo, abril 28, 2024

quadrinhos

fonte

 

4 versos de Sebastião da Gama

«Pecado, Amor? Pecado fora apenas / não fazer do pecado / a força que nos ligue e nos obrigue / a lutar lado a lado.» Pelo Sonho É que Vamos (póst., 1953)

caracteres móveis

«A sua voz era baça e trémula, como a das criaturas que não esperam nada, porque é perfeitamente inútil esperar.» Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego - por Bernardo Soares (póst., 1982) / «E tinham-lha dado sem reserva, confundidos com aquele amor, assombrados por tal fé, convictos, finalmente, de que só ele podia salvá-la, que se ele a não amparasse, a catedral se desagregava em pó, na derrocada irremediável que a deixaria rasa ao solo.» Manuel Ribeiro, A Catedral (1920) / «Todas as palavras que se empregam têm, além da significação banal, uma significação que cada um pesa e calcula -- e outra significação superior.» Raul Brandão, Húmus (1917)

sábado, abril 27, 2024

2 versos de A. M. Pires Cabral

 «Mas ainda é tão cedo. Ainda estou / a meio do banquete de viver.» Caderneta de Lembranças (2021)

Billie Holiday, «Them There Eyes»

sexta-feira, abril 26, 2024

150 portugueses: 41-45

41. Leopoldo de Almeida (1898-1975). Escultor modernista, dos maiores da arte portuguesa, é sua a extraordinária estatuária do Padrão dos Descobrimentos. Pai da artista plástica Helena Almeida.

42. D. Manuel I (1469-1521). Apesar de neto de D. Duarte e irmão da rainha D. Leonor, teve a ventura de o trono lhe cair no colo, sem saber ler nem escrever. É o rei da nossa idade de ouro (Gama, Cabral, Albuquerque, Gil Vicente, Camões...), coligiu e renovou a  legislação nas Ordenações Manuelinas, criador e confirmador de concelhos. Deu nome a um peculiar gótico tardio, o «manuelino». O Mosteiro do Jerónimos é, no fundo, o seu jazigo...

43. Nuno Gonçalves (1420/30 - c. 1490). Pintor de que pouco se sabe, não havendo sequer a certeza se terá sido mesmo o autor dos Painéis, o maior tesouro da pintura portuguesa de todos os tempos. 

44. D. Pedro I (1320-1367). Um tresloucado que reinou por uma década, protagonista real de uma das grandes histórias de amor da humanidade, para a qual deu contributos decisivos, v.g. os túmulos, dele e de Inês de Castro, em Alcobaça, conhecida e pasmada em todos os azimutes.

45. Raul Lino (1879-1974). Arquitecto de mão-cheia, não é o criador da chamada casa portuguesa, sendo contudo seu teorizador e prático, e à qual o seu nome ficou ligado.

2 versos de Manuel Bandeira

«Gosto de samba e de fado, / Portugal, meu avozinho» Berimbau e Outros Poemas  (antologia por Elias José)

quinta-feira, abril 25, 2024

José Afonso e Ferreira de Castro sobre o 25 de Abril

Sempre!


 

4 versos de José Afonso

«Trovas e cantigas muito belas / Afina a garganta meu cantor / Quando a luz se apaga nas janelas / Perde a estrela d'alva o seu fulgor» José Afonso (coord. José Viale Moutinho, 1972)

quarta-feira, abril 24, 2024

José Afonso, «Os Vampiros»

2 versos de Fernando Jorge Fabião

 «A biblioteca / é uma concha de silêncio.» Nascente da Sede (2000)

terça-feira, abril 23, 2024

Francisco Fanhais, «Porque»

caracteres móveis - Ferreira de Castro (1898-1974)

«Com os rebanhos, idos do sertão do Nordeste, demandavam a selva exuberante todos os aventureiros que buscam pepitas de oiro ao longo dos caminhos do mundo.» A Selva (1930) 

«Era um sonho denso, uma ambição profunda que cavava nas almas, desde a infância à velhice.» Emigrantes (1928) 

«O "Avelona Star" cruzava-se com outro navio do mesmo armador e os seus silvos trouxeram Juvenal à vida do momento.» Eternidade (1933)

2 versos de Luísa Dacosta

«Como quem procura conchas à beira do mar, / escolho as palavras para te dizer.» A Maresia e o Sargaço dos Dias (2011)

caracteres móveis - Eça de Queirós (1845-1900)

«Naquele tempo o rio ia muito vazio; pedaços de areia reluziam em seco; e a água baixa arrastava-se com um marulho brando, toda enrugada do roçar dos seixos.» O Crime do Padre Amaro (1875/1880) 

«Num camarote, vestida de cor lilás, com o cabelo enchumaçado em capacete, estava a viscondessa dos Rosários, branca e gorda, cuja virtude escandalizava Lisboa, a ponto de se gritar dela com impaciência e cólera: que estúpida, que estúpida, Santo Deus!» A Tragédia da Rua das Flores (1877-78/1980)

«Procurava a rima já interessado, quando um sujeito baixote e bochechudo, de bonezinho escocês, apareceu à grade da estação, com uma chapeleira de papelão azul, a galhofar com duas raparigas que o seguiam, oferecendo-lhe ovos moles ou mexilhões, para ele levar para Lisboa.» A Capital! (1875-76/1925)

segunda-feira, abril 22, 2024

ucraniana CCXXXVII - nem com farinha Maizena


Disse o novo ministro dos Negócios Estrangeiros, em tom paternalista, que  não nos devemos deixar intimidar pelo Kremlin, saudando a primeira fase dos milhões aparentemente desbloqueados, com que a Ucrânia irá comprar mais armamento aos americanos para se suicidar nas nossas barbas e com a ajuda moral do Ocidente. Regime extraordinário o de Zelensky: com ele, os ucranianos endividam-se para se matarem. É trágico. 

Depois de Cravinho, só me faltava Rangel. Eu tenho muito mais medo do Pentágono e da CIA, porque estão mais perto dos mansos úteis aqui do rectângulo, para não falar nas adjacências. O que Rangel representa, como de resto Cravinho, é apenas a nossa rendição aos ditames de terceiros, preparando-nos para os gastos, e, como um azar nunca vem só, sabe-se lá o que mais. 

Nada a que não estejamos habituados, de resto: vai fazer agora 50 anos que terminava o morticínio colonial, mancebos arrebanhados à má-fila em todas as Berças deste país, para que suas bandalhas incelências, no governo da nação, pudessem, "Portugal, do Minho a Timor", bolsar mentirolas indecorosas.

[Já agora, a crónica de Viriato Soromenho Marques, como sempre, no Diário de Notícias«A herança traída de Immanuel Kant», serviço público.]

2 versos de Antero Abreu

«E é sobre tudo o silêncio das coisas / O triste silêncio das coisas silenciosamente tristes» Poesia Intermitente (1987)

Duke Ellington, «Just A-Sittin' and A-Rockin'»

sábado, abril 20, 2024

2 versos de Alberto de Lacerda

 «tudo me pertence como a flor / pertence ao perfume adormecido» 77 Poemas (1955)

sexta-feira, abril 19, 2024

quinta-feira, abril 18, 2024

150 portugueses: 36-40

36. Domingos Sequeira (1768-1837). Pintor de transições: de estilos (do neoclassicismo para o romantismo) e de regimes (do absolutismo para o liberalismo, com as Invasões Francesas pelo meio). A pintura doméstica, os retratos familiares -- esplêndido.

37. D. Fernando II (1816-1885). O grande rei consorte, extraordinário na atenção ao património histórico e à arte do seu tempo. Com ele, Portugal ficou menos pobre.

38. Gaspar Corte-Real (c. 1450-1501). O destemor do desconhecido -- ou a coragem de vencer o temor... -- e a condição trágica de uma família desaparecida quase toda nos mares do Atlântico Norte.

39. Henrique Pousão (1859-1884). Único na nossa pintura, país com demasiados génios artísticos precoces na morte: Cesário (seu contemporâneo), António Nobre, Amadeu, António Fragoso, Mário Botas

40. D. João II (1455-1495). Uma das figuras-chave dos Descobrimentos e, principalmente, da expansão; centralizador do poder régio; herdeiro e vingador do avô, D. Pedro, o regente que fora o Infante das Sete Partidas.

3 versos de Fernando Assis Pacheco

«acho tudo belo a Primavera no fim as árvores da praça / adormeceria aqui sentado / repleto com a minha meia idade atordoante»  Siquer Este Refúgio (1976)

quarta-feira, abril 17, 2024

Bob Marley & The Wailers, «Could You Be Loved»

4 versos de Rui Knopfli

«Tudo entre nós foi dito, / olhamos o apodrecer do parque, / o vento, o crepitar leve das folhas / e, sem ressentimentos, dizemos adeus.»  O País dos Outros (1959)

terça-feira, abril 16, 2024

Bob Seger, «Leanin' on My Dream»

2 versos de Sebastião da Gama

«Tão alegre este Sol! Há Deus. (Tivera-O eu negado / antes do Sol, não duvidava agora).»  Pelo Sonho É que Vamos (póst., 1953)

segunda-feira, abril 15, 2024

quadrinhos

fonte

 

4 versos de José Régio

«Sonhei que ela me espera, adormecida / Desde o começo da vida, / Nua, deitada sobre as tranças de oiro, / Guardada para mim como um tesoiro.» As Encruzilhadas de Deus (1936)

domingo, abril 14, 2024

o lugar dos mitos


Napoleão Bonaparte é uma das poucas personagens de carne e osso que encontra lugar junto dos mitos, de Aquiles ou de Ulisses, ou se quiserem, que poderiam ser heróis da DEC ou da Marvel. Ele, Alexandre o Grande, Júlio César, Carlos Magno, Rodrigo Díaz de Bivar -- El Cid, Afonso de Albuquerque, Francis Drake...  
Incomensurável, megalómano e meteórico, a sua medida é de outra natureza, espécie de herói da DC ou da Marvel no nosso imaginário. É por isso despropositado, creio eu, pedir um quimérico rigor histórico a um filme de Hollywood. É o Napoleão de Ridley Scott e David Scarpa, e será por aí que teremos de o avaliar. 
Vi-o a medo em Novembro, com o «Gladiador» na memória, de que não gostara. Não sendo um filme inesquecível, tem dois desempenhos esplêndidos (Joaquin Phoenix e Vanessa Kirby) e grandes e boas cenas de batalha, das que ficam e põem o filme à beira do filmaço.

3 versos de Alexandre O'Neill

«Se eu não estivesse a dormir / perguntaria aos poetas / A que horas desejam que vos acorde?»  Tempo de Fantasmas (1951) 

sábado, abril 13, 2024

caracteres móveis

«Certa noite, eu erguera-me cauteloso, saíra sem ser ouvido, ia ter com a puta Adelaide que morava no Termo, o outro extremo da aldeia, eu morava no Cabo, que era o oposto.» Vergílio Ferreira, Para Sempre (1983) / «Depois, na madrugada clara, recobrada a lucidez e acalmada a febre, a confiança renascera ao saudar a velha amiga, toda gloriosa e soberana na poeira de oiro das suas ruinas.» Manuel Ribeiro, A Catedral (1920) / «Num e noutro ponto deparavam-se-lhe já algumas casas de tectos de colmo, de cujas inúmeras fendas saía um fumo espesso, que a atmosfera húmida mal deixava elevar nos ares.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)

serviço público

 Viriato Soromenho Marques, «As areias que sopram do futuro».

«California»

4 versos de Cesário Verde

«Quando, se havia lama no caminho, / Eu te levava ao colo sobre a greda, / E o teu corpo nevado como arminho / Pesava menos que um papel de seda...» O Livro de Cesário Verde (póst., 1887)

sexta-feira, abril 12, 2024

John Coltrane Quartet, «Spiral»

1 verso de Mário de Sá-Carneiro

 «--Onde existo, que não existo em mim?» Dispersão (1914)

curtas

«Cá fora, na rua, estava o senhor Joaquim, o dono do macaco e uma data de gente a que os jornais costumavam chamar "populares".» António Alçada Baptista, Uma Vida Melhor (1984)«Ele tirava o chapéu e ela abria a sombrinha sem que se passasse qualquer outra ligação entre eles.» Ruben A., «Branca», Cores (1960) «Quando voltei ao pátio, o velho espremia as mãos e falou-me como se tivesse as maxilas retesadas.» Fernando Namora, «História de um parto», Retalhos da Vida de um Médico (1949)

quinta-feira, abril 11, 2024

150 portugueses: 31-35

31. Salgueiro Maia (1944-1992). O operacional da tomada do poder na Revolução. Idealista e incorruptível, pagou cara a façanha de ser um homem sério num país que não presta. Está nesta lista por todos os militares de Abril.

32. Vasco Gonçalves (1921-2005). O seu nome liga-se a um epifenómeno revolucionário numa país de meias-tintas, bisonho e manhoso: o PREC, também conhecido por gonçalvismo. Um meteoro na História de Portugal, suficientemente incisivo  para lá permanecer.

33. D. Afonso III (1210-1279). Cabeça da oposição ao irmão, destituído pelo papa, Deixou-nos o rectângulo conquistado e um filho chamado Dinis.

34. Bocage (1765-1805). No liceu, foi-me apresentado como um dos poetas do pódio (com Camões e Pessoa). Pré-romântico instável, amoroso fulgurante e fescenino, excessivo e único.

35. D. Carlos I (1863-1908). Um rei "morto como um ladrão a uma esquina de Lisboa" (Raul Brandão). Diplomata, artista, oceanógrafo -- assassinado por uma conspiração em que políticos monárquicos manobraram uns simplórios republicanos exaltados. 

2 versos de Alberto de Lacerda

«O mundo foi alheio e a vida foi comprida / nos seus desenganos de coisa perdida.» 77 Poemas (1955)

quarta-feira, abril 10, 2024

Billie Holiday, «My Man»

7 versos de Fernando Namora

«E na mesma noite    noite boa    noite branca / fumei Estoril    Valetes    Kayakes e bebi Compal / depois da Salus e da Schweppes / fumei quilómetros e quilómetros de prazer / quilómetros e mais quilómetros -- há um Ford no meu futuro -- / mais facturas mais fomes mais prazer / e agora já não sei qual dos cigarros com filtro me soube melhor.» Marketing (1969)

quadrinhos

fonte

 

terça-feira, abril 09, 2024

3 versos de Antero Abreu

«E era o tempo da fraternidade / Porque cada homem se media pelos outros homens / E não pelas coisas que os envolviam.» Poesia Intermitente (1987)

Eugénio Lisboa (1930-2024)

Estive com ele há poucas semanas. Devo-lhe a generosidade de me prefaciar um livro; devo-lhe mais: o exemplo da liberdade de pensar.

Eugénio Lisboa é um ensaísta arguto, culto e informado, e sendo uma autoridade em José Régio e na presença, foi muito mais que isso: alguém que se deixava encantar pelo talento verdadeiro, e pouco atreito a fazer fretes.

Foi também um temível polemista. Temível, porque tinha uma cultura vasta que lhe servia um espírito crítico acerado; e não tinha medo, não andava aqui para agradar, como sucede com tanto patife e tanto invertebrado.

A sua obra de ensaísta claramente ficará -- para os happy few, expressão que gostava de usar. Tenho especial estima por O Objecto Celebrado (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1999), talvez por ser o primeiro que me ofereceu, já eu o admirava há muito. Mas não podemos esquecer o poeta, com grandes momentos, em especial no início, o memorialista e o diarista.

Tenho, há anos, preparada uma antologia de poemas dedicados a Ferreira de Castro, por poetas de várias gerações, começando em João de Barros (1881-1960). No ano passado, num Encontro Castrianos/Regianos, em Vila do Conde, Eugénio Lisboa não pôde estar presente, mas enviou duas óptimas composições, uma sobre José Régio, a outra sobre Ferreira de Castro.

No nosso último encontro, ao fim da manhã de 16 de Março, em S. Pedro do Estoril, dei-lhe nota de que pretendia incluir esse poema na minha antologia, enviando-a depois por mail. A sua resposta, na nossa derradeira conversa, reproduzo-a aqui:

"Caríssimo Ricardo, recebi, li e agradeço a antologia. Tem poemas belos e, toda ela, merece ser retida, até porque reflecte bem a marca de afecto que a obra do escritor suscitou. Para muitos leitores FC ficou como escritor e eterno Amigo. Não é para todos!

Forte abraço do / E.".


Um grande e grato abraço, Eugénio Lisboa!

150 portugueses - 26-30

26. D. João I (1357-1433). De bastardo real, Mestre de Avis, a progenitor da Ínclita Geração e rei que inicia a expansão.

27. D. Luís I (1838-1889). Tradutor (bom) de Shakespeare e mau violoncelista num reinado de normalidade burguesa, guardada estava a catástrofe para o filho.

28. Mafalda de Sabóia (c. 1125 - 1158). Primeira rainha, gerou todos os reis seguintes. É avó de todos nós.

29. Infante D. Pedro (1392-1449). Príncipe ilustrado, o das Sete Partidas, senhor feudal e regente centralizador. Acaba tragicamente, o neto de certa maneira vinga-o.

30. Raposo Tavares (c.1598-c.1659). O mais célebre dos bandeirantes, alentejano que rasgou a fronteira do Brasil para ocidente

segunda-feira, abril 08, 2024

Duke Ellington, «Harlem Air Shaft»

é uma pena

Tenho consideração intelectual por algumas das pessoas ligadas a este projecto, mas, enquanto pai de quatro filhos, avô de um neto, filho de um nonagenário que consigo vive, numa dádiva de amor filial absolutamente natural, tenho pena que uma questão tão importante como a do valor da família esteja submetida a uma perspectiva confessional e ideológica de Direita, misturando alhos com bugalhos. Como se a questão da despenalização do aborto ou a lei da eutanásia estivesse, sequer, a montante... E não fosse a desestruturação provocada pela desregulada sociedade ultracapitalista em que vivemos, que transformou pessoas e cidadãos em consumidores passivos, ignaros, e confusos -- pasto fértil para o trabalho desregulado --, animaizinhos a quem se dá uma panóplia mediática de embrutecimento.

Acho aliás insuportável, como tenho aqui dito tantas vezes, que os patrões dos me(r)dia, que intoxicam a manada com a satisfação dos instintos mais baixos -- reality shows, crime, futebóis, bisbilhotices & outras parvoíces --, sejam os mesmos que preservam as suas famílias (e as suas crianças) do lixo que dejectam na sociedade.  

Podem vir chorar lágrimas de crocodilo, mas quando muitos dos autores que aqui vejo são defensores da mais obscena rapina capitalista, alguns coincidindo com a imposição fanática e intolerante da sua fé -- fé essa que pessoalmente desprezo, quando procura ser imposta aos outros -- faz-me ter pena de não haver, dos lados esquerdo e não-confessional, uma abordagem, sempre crítica, mas que veja a família como a base e o princípio de tudo. Felizes todos os que podem olhar para trás e ter tido a alegria de uma família! 

Ter convidado Passos Coelho, o campeão do troikismo, para fazer a apresentação, fere tudo aquilo de morte. É impossível não olhar para a coisa como uma frente de neocons e beatos. Sem ter lido, posso estar errado, e penitnecio-me; mas pela amostra...

2 versos de Luísa Dacosta

 «Com a noite dos teus olhos / escusava lua e estrelas.» A Maresia e o Sargaço dos Dias (2010)

domingo, abril 07, 2024

Bob Marley, «Pimper's Paradise»

o "logótipo"

Remetamos as coisas às suas dimensões. O logótipo que o actual governo anulou -- e  quanto a mim bem -- não passa disso mesmo: branding. Ou seja: pôr o executivo ao nível so Pingo Doce ou do Novo Banco. Há quem goste. Se não gostar disso é ser-se reaccionário, sê-lo-ei com muito gosto; se é ser patriota, idem. Pobre país em que a esfera armilar, o escudo, os castelos, as quinas (e já agora as cinco chagas de Cristo, que Leitão Amaro, certamente por pudor, não mencionou), é visto, como sucede com Pacheco Pereira, particularmente abstruso, como um piscar de olhos ao Chega.


Por mim, podem chamar-me reaccionário, que é para o lado que durmo melhor. Sempre quero ver é quem, no meio de tanto patrioteirismo ou tanta inclusão (a justificação do anterior governo foi a de que o novo símbolo era mais inclusivo); sempre quero ver quem e como defende o país de ser um joguete ao serviço de interesses de terceiros, como está a acontecer na guerra da Ucrânia, Portugal como um mero peão do imperialismo americano e do seu complexo militar-industrial. Aí é que se quer ver quem é quem. 

2 versos de Mário de Sá-Carneiro

 «O que devemos é saltar na bruma, / Correr no azul à busca da beleza.» Dispersão (1914)

caracteres móveis

«A vida não o corrompera nem o vulgarizara a ponto de o fazer quedar indiferente à beleza rara do espectáculo que, embora diàriamente se repetisse, atingia sempre -- até que as chuvas viessem impregnar o céu da sua fealdade -- grandeza e poesia a que nem a alma bronca do soldadito se mantinha alheia.» Joaquim Paço d'Arcos, Ana Paula (1938)

«E via a cena, via-a com toda a nitidez: ele, ao leme, ela sentada em frente, temerosa, receando que a vela se desprendesse e a arrojasse ao mar; logo, excitada, os seus belos olhos sorrindo pela distracção que, de imprevisto, se lhe oferecia.» Ferreira de Castro, Eternidade (1933)

«Olhou para o casarão engolido no escuro da quinta, apenas visível pela esteira de luz que vinha do quarto do avô quebrar-se na janela da saleta.» Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal (1944)

um dos magos da minha infância, o grande Ziraldo (1932-2024)





 

sábado, abril 06, 2024

Joana Amaral Dias, é assim mesmo!

«Queres que o teu filho vá para a guerra da Ucrânia? Queres que a tua filha morra a defender Kiev? E tu? Estás disposto a dar a tua vida sob a batuta de Zelensky? Eu não quero que os meus filhos vão rebentar as entranhas em guerra alguma, mas muito menos nas guerras dos outros. Se alguém entrar por aqui dentro, serei a primeira a levantar-me. Mas cuspir os putos para os açougues dos EUA e para os matadouros de terceiros, não obrigada.» Joana Amaral Dias, «Vai tu» -- aqui

Eva Bernáthová, Karel Ancerl, Concerto para piano #3, de Béla Bartók

3 versos de A. M. Pires Cabral

«Há dias tão descidos ao fundo da furna, / que nem sequer com a minha própria / indulgência posso contar.» Caderneta de Lembranças (2021)