terça-feira, outubro 29, 2024

tempo de romance

«As poucas pessoas do costume cumpriram religiosamente aquela invocação sentida do caseiro. Resignadas, aceitavam agora a metódica explicação. / -- Esta Torre não se sabe bem de quantos séculos podemos datá-la, mas o certo é que Dom Raymundo da Barbela (crê-se que tenha sido o primeiro grande home da família da Torre) saiu destas bandas para ajudar com os seus homes as cargas de Dom Afonso Henriques, seu primo colateral.» Ruben A.,  A Torre da Barbela (1964)

«Resoluto, Manuel da Bouça levantou-se e, pisa aqui, arrasta ali o pé dolorido, atravessou o pinhal. / Quando, porém, o outeiro, em curva suave de ventre feminino, se cosia ao sinuoso caminho que dava acesso à aldeia, deteve-se, meditativo, a contemplar a sua casita, quase debruçada no Caima.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928)

«Encostou-se ao pedestal da estátua, tirou o lenço da cabeça e olhou para o marido. Este baixou-se um pouco, apontou demoradamente a máquina e disparou por fim. / Mary virara-se outra vez de costas e Giovanni quis adivinhar-lhe a direcção dos olhos, acompanhá-los depois no voo extasiado que terminava na torre do Palazzo Vecchio.» Augusto Abelaira, A Cidade das Flores (1959)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«Acercando-se do povo com mais vagar, o Brás em breve enxergou na luz mortiça o casario adormecido. E, para fugir aos trilhos costumados, pôs-se a fazer um grande rodeio, metendo pelas hortas em que as couves tronchas se desorelhavam de fartas. Vestidas de codo assemelhavam, à claridade do luar que esmorecia, touceiras de açucenas em flor. Sentindo-as balofas de seiva, o Brás deitava olhos namorados de lavrador àqueles campos férteis, tão mimosos, que eram cobertos de oiro ao necessitado que os vendia.»
Aquilino Ribeiro, "Terras do Demo". Romance. (1919)