(José da Cunha Brochado a desconhecido) «O respeito que sempre tive e devo ter à pessoa e ao carácter de V. Ex.ª, me levou sempre à veneração de suas altas prendas pelo seguro caminho de uma pura e fiel contemplação, entendendo que, como V. Ex.ª é todo espírito e todo inteligência, mais se pagaria das respeitosas meditações da minha fé, que das intrometidas assistências da minha dignidade.» .../... Cartas*
(1) José da Cunha Brochado, Cartas (ed. António Álvaro Dória, 1944)
1 comentário:
Porto, 20 de Setembro de 1872
Meu Amigo
Envio-te hoje um opúsculo, uma verdadeira 'pochade', atirada aí para a tempestade de uma questão muito séria. Acho péssimo o litígio; e, se eu pudesse matá-lo com a irrisão, teria feito um grande serviço à moral pública, e não menor obséquio às mulheres francesas que têm vindo com o seu óbolo para esta suja contenda. Parece-me que o folheto não te cairá fora de ponto entre um discurso de Cícero e outro de Demóstenes. As leituras profundas condensam a sensibilidade no espírito ou no coração: é mister chamá-la à periferia do sorriso. Não te assevero que o nosso pedagogo João Inácio Luís Minas Júnior (esqueceu-me o nome de meu avô; e não há olvidar-se-me o daquele guerreiro que nos ensinava o Lobato de barretina!) me transmitisse aquela máxima. Dele ou de Platão, peço-te que a tenhas muito à flor da tua arte de ser feliz.
Tens tu saúde, meu caro amigo? Nada te pergunto do que se faz ou pensa a respeito da tua liberdade. Os rumores públicos alegram-me; mas o conhecimento que tenho da índole dos perseguidores assusta-me, não pelo êxito, mas pela demora.
Basta por hoje a estafa que te envio nas 50 páginas impressas.
Teu afectuosíssimo
C. Castelo Bco.
"Camilo Íntimo-Cartas inéditas de Camilo Castelo Branco ao visconde de Ouguela" - Clube do Autor, SA (2012)
Enviar um comentário