quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Antologia Improvável #462 - José Carlos Barros

DO QUE A VIDA PODERIA TER SIDO

Os amigos juntam-se e falam do passado,
da música que já não se ouve na rádio,
do inverno em que choveu semanas a fio
e o rio saiu das margens para desenhar

nos troncos das árvores os círculos imperfeitos
da idade. Eles sabem para si mesmos que falam
do que nunca existiu: das mulheres
que se renderam para sempre às palavras do amor,

das perdizes caindo de asa nas encostas
iluminadas da urze, das corridas memoráveis
do vinte e cinco de abril, das tardes de domingo
que haveriam de envergonhar a uefa

se a televisão estivesse presente nas finais dos torneios
dos bombeiros voluntários. É disso que os amigos
falam: do que a vida poderia ter sido
se não fosse a filha da puta de vida que foi.

Resumo -- A Poesia em 2009
(escolha de Luís Miguel Queirós)

7 comentários:

Paulo Cunha Porto disse...

Este final é muito no meu tom...
Olha, já mandei aquilo.
Abraço

Ricardo António Alves disse...

Recebido, parcialmente.
Outro

Mónica disse...

gosto disto, espirito critico q deus vosso senhor deixou ao poeta

Ricardo António Alves disse...

"vosso"?...

Mónica disse...

n tenho deus logo n é "nosso" eheheh



eu devia estar era trabalhar em vez de brincar aos blogues

Ricardo António Alves disse...

Nós não temos deuses. Eles, acaso existissem, é que nos teriam.
Quanto ao resto, trabalhe e brinque, que não virá mal ao mundo. Deus perdoa-lhe.

Mónica disse...

ai sim? essa agora deuses com posses? isso é muito grego e pouco cristão :P