1 verso de Carlos Queirós

«De mais ninguém, senão de ti, preciso:» 

Desaparecido (1935)

tempo de romance

«A raça dos Visigodos, conquistadora das Espanhas, subjugara toda a Península havia mais de um século.» Alexandre Herculano, Eurico o Presbítero (1844)

sábado, junho 29, 2024

a arte de começar - VIÚVAS DE VIVOS

«Escolhera o mestre do barco aquela noite negra, para que a Lua não assistisse à largada. Também não compareceram as estrelas, com grande contentamento do velho João Frade, posto lhes quisesse muito, mas no alto, em plena derrota, para conversar com elas  sobre coisas noutros tempos acontecidas, já que sem idade para sonhar com vida nova.»

Viúvas de Vivos (1947), de Joaquim Lagoeiro (1918-2011), aborda o tema das mulheres que ficavam anos sem ver os maridos, emigrados para a América do Norte, como outrora sucedia com as companheiras dos navegadores.

O título do romance é bastante expressivo, pois é viúva de vivo quem tem marido demasiado longe de si, na emigração, na guerra ou noutras situações extremas -- e sem perspectivas de reencontro a breve trecho.

A frase inicial transmite uma atmosfera carregada de ilicitude, de clandestinidade: há um barco que partirá de noite, tão de breu que nem a Lua poderá assistir à largada, situação reforçada a seguir com a referência às estrelas, que nessa noite não se vislumbravam.

Outra sensação que podemos colher deste incipit, trazida por uma informação objectiva que nos é dada pelo narrador, é a de que algo com um certo grau de grandeza irá ocorrer, uma vez que o "velho João Frade" é um lobo do mar, um capitão de longo curso, pois trata-se de alguém que costuma falar com as estrelas, certamente para confirmar se a rota está a ser seguida à risca.

Mas é no fim do parágrafo que o leitor fica ciente de que a emigração é um tópico central do romance -- a emigração e as suas decorrências na vida social e mental de quem a sofre, de quem parte e quem fica, ideia que percebemos bem a partir do título: João Frade já vivera tempo demasiado para que pudesse permitir-se «sonhar com vida nova.» 

Emigração clandestina e abandono das mulheres (e dos filhos) é pois o que nos dá, sem grande margem para dúvidas, título e parágrafo inicial deste belo romance, que segue por aí fora, contando-nos mais das mulheres que por cá ficaram do que dos homens que saíram, pois nelas está o foco; mas umas e outros aparecem-nos na narrativa como vítimas duma terra madrasta e medíocre, com o circuito a fechar-se no explicit, o fim da narrativa.

O tempo histórico não é referido, mas percebe-se contemporâneo, até por algumas alusões de modernidade: automóveis, um médico de visão progressiva, além do padre, a farejar o Vaticano II, ainda duas décadas à frente, personagem deliciosa a fazer lembrar a bonomia austera do senhor reitor do Júlio Dinis.

O espaço é indefinido. À medida que a narrativa avança, com alusões que poderiam referir-se a uma vasta área do litoral norte -- e digo norte, pois as festas sob a égide de determinados santos concorrem para fornecer mais dados ao leitor familiarizado com esse folguedo -- o lugar vai-se precisando, embora nunca nomeado: a aldeia de Veiros, concelho de Estarreja, terra-natal do autor.

Parece outro tempo, outro mundo, mas foi ainda ontem.

2 versos de Miguel Barbosa

«tudo o que se possa pensar / já foi pensamento socrático» 

Um Mensalão É Urgente no Meu País (2014)

2 versos de Sebastião da Gama

«--Trago-te no dedo / num anel que trago» 

Pelo Sonho É que Vamos (póst., 1953)

quinta-feira, junho 27, 2024

2 versos de Mário de Sá-Carneiro

 «Tombei... / E fico só esmagado sobre mim...»

Dispersão (1914)

quarta-feira, junho 26, 2024

3 versos de Camões

«E aqueles que por obras valerosas / Se vão da lei da Morte libertando / -- Cantando espalharei por toda a parte,» 

Os Lusíadas, I.2 (1572)

terça-feira, junho 25, 2024

Assange -- e também os outros

1. O poder dos estados não hesita em massacrar o indivíduo. Após a denúncia da WikiLeaks, que revelou, entre outras coisas, os crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos no Afeganistão, ou que espiavam os próprios aliados (quem não se lembra do embaraço de Obama com Merkel?), o poder não ficou parado. Comprou magistrados na Suécia, engendrando um muitíssimo mal amanhado caso de "violação" num ménage à trois; e contou com a subserviência da Inglaterra e da própria Austrália, o país de Assange...

2. Só a força conjugada da opinião pública mundial com a imprensa livre pode enfrentar o poder e forçá-lo a ceder. A fórmula arranjada serve para tentar minimamente salvar a face dos Estados Unidos, que não obstante tem a seu crédito a infâmia de Assange ter estado doze anos arrecadado, primeiro na embaixada do Equador em Londres e numa prisão de alta segurança nos últimos cinco anos.

Assange não é o único. Edward Snowden, um patriota americano que revelou aos concidadãos que eram vigiados pelo próprio governo -- a quem Putin, num gesto de grande dignidade concedeu a cidadania russa por ocasião da invasão da Ucrânia -- está exilado. Mas há pior, e não nos podemos esquecer deles: Abdullah Öcalan, patriota curdo, antigo líder do PKK, preso desde 1999 na Turquia; Marwan Barghouti, palestino da Fatah, nas prisões israelitas; Ales Bialiatski, professor de Literatura e defensor dos direitos da cidadania bielorrussa; e a maravilhosa e heróica Narges Mohamaddi, coleccionadora de encarceramentos no regime clerical iraniano, por recusar-se a usar o chamado "véu islâmico" (por cá justificado pelo wokismo  idiota) -- os seja por recusar-se a ser uma pessoa de segunda classe na própria sociedade.  

2 versos de Luísa Dacosta

 «Atravessa os campos da noite / e vem.» 

A Maresia e o Sargaço dos Dias (2011)

segunda-feira, junho 24, 2024

2 versos de José Pascoal

«Tenho respeito pelos sítios / Que me dizem respeito.» 

Sob Este Título (2017)

1 verso de Fernando Jorge Fabião

«Pus as mãos / sobre a tua sombra» 

Nascente da Sede (2000)

sábado, junho 22, 2024

1 verso de Dick Hard

«Os preservativos não passam de sapatos de pénis» 

De Boas Erecções Está o Inferno Cheio (2004)

sexta-feira, junho 21, 2024

2 versos de José Régio

 «Mora-me um Poeta / Que tento esconder,»

As Encruzilhadas de Deus (1936) 

1 verso de Fernando Namora

«Este poeta não tem unhas: tem garras» 

Marketing (1969)

quarta-feira, junho 19, 2024

o António é o mais brilhante cartoonista português desde o Rafael Bordalo Pinheiro

 


Marcelo, com fairplay -- e certamente feliz, pois ser (e é-o há décadas) objecto do lápis de António Antunes é um degrau mais (pelo menos) para estar na História em carne e papel, e não ser apenas um nome esquecido.

Também gosto muito das foices e martelos no Saramago, pensando em especial nos que querem esconder o seu evidente neo-realismo, pensando que lhe dá, a ele, Saramago, mais sainete, quando é precisamente o contrário. 

2 versos de Helder Macedo

«Cortaram membro a membro a minha árvore / ficou só a raiz e o seu vazio.» 

Viagem de Inverno (1994)

terça-feira, junho 18, 2024

4 versos de António Jacinto

«Se o corpo mais que a alma sentia / e se todo ele existia / porquê porquê ai porquê / a insatisfação que se sente e não se vê?»

Poemas (1961)

ucraniana CCLIII - o fiasco

As expectativas eram baixíssimas, mas nem assim, e com todos os expedientes para ludibriar os inocentes e os tolinhos -- e apesar das intenções iniciais da Suíça serem sérias -- o efeito foi zero. Talvez, numa perspectiva optimista, possamos pensar que, subterraneamente, algo poderá ser conseguido no sentido da cessação as hostilidades num futuro próximo. Isto, apesar dos zeros que lideram aa União Europeia: Índia, Brasil, México, Arábia Saudita, Tailândia, Jordânia, Iraque, entre outros estados relevantes, recusaram-se a assinar a declaração final -- ou seja recusaram aparecer como marionetas dos americanos e dos seus desgraçados lugares-tenentes na União Europeia. Em África, Egipto e Etiópia nem sequer responderam ao convite e, da CPLP, Angola e Moçambique não se fizeram representar -- o que só mostra o quão medíocre e até catastrófica é uma política externa que, na verdade, desde há muito não existe, a não ser para floreados, que não é apenas deste governo, mas principalmente do anterior. 

Por isso, António Costa na UE, para ser um boneco igual aos que lá estão, apenas com mais palheta? Dados os antecedentes próximos, ficaria surpreendido se dali saísse um líder digno desse nome. 

4 versos de Carlos Queirós

«Por ser tão brando o teu sorrir, / Tão cheio de feliz regresso / Do longe prado, onde apeteço / Contigo ir...» 

Carlos Queirós, Desaparecido (1935)

domingo, junho 16, 2024

serviço público - Carlos Branco e Viriato Soromenho Marques

Bem podem ladrar os cadelos que ainda vêem na Rússia a potência "comunista" herdeira ideológica da União Soviética, pobres ignorantes, piores ainda que as marronas da academia que trazem a lição bem estudada, mas não alcançam um palmo à frente do nariz. Algumas até vão para o governo, outras a deputadas. (Para não me insultarem de misoginia, nem falo deles, espalhados pelos jornalismo e esportulados pelos think thanks).

Felizmente, ainda temos arremedos de imprensa livre. 

Carlos Branco, «A tentativa de 'maidanizar' a Geórgia». 

https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/a-tentativa-de-maidanizar-a-georgia/

Viriato Soromenho Marques, «O novo outono alemão»

https://www.dn.pt/4074951637/o-novo-outono-alemao/

4 versos de Cesário Verde

«O seu olhar possui, num jogo ardente, / Um arcanjo e um demónio a iluminá-lo; / Como um florete, fere agudamente, / E afaga como o pêlo dum regalo!» 

O Livro de Cesário Verde (póst., 1887)

sábado, junho 15, 2024

ucraniana CCLII - quando queremos ser caninos, somos mesmo pequeninos

Na manobra de propaganda mal amanhada da chamada cimeira da paz, a presidente da Suíça revela não estar para fazer figura d'úrsula, e disse que a ideia não era bem esta, mas algo que pudesse originar uma efectiva cessação das hostilidades.

É claro que isso vai contra os desígnios presentes dos Estados Unidos, que é o de alimentar a guerra, mas deixando as despesas para os europeus, que contam para isso com estas úrsulas e outros rangéis, sem esquecer uns quantos comentadores de serviço.

Por falar no Rangel, vi-o há dias a disfarçar: coiso e tal -. trata-se de um primeiro passo para uma conferência de paz -- um fiasco anunciado, abrilhantado por Marcelo, que irá dizer lapalissadas e mais uma vez deixar-nos mal vistos. Rangel, creio que o único ministro dos Estrangeiros da Europa Ocidental e do Sul a subscrever o pedido para começar já as negociações de adesão com a Ucrânia, deixando para trás uma série de países, como a Macedónia. Quando queremos ser caninos, somos mesmo pequeninos.

Por falar em Rangel, e assim à vista desarmada, eis um auxílio à Ucrânia que poderíamos fazer mais, e até temos preparação para isso: a recuperação dos soldados estropiados nesta guerra. Isso sim, é ajudar mais do que dar formação à tropa para tanques cujo destino deverá ser o dos nossos Leopard, transformados em sucata na planície ucraniana.

Quem acha que a Rússia vai facilitar, ponha o dedo no ar! 

Só há uma coisa que me deixa satisfeito no meio desta miséria: os russos a pôr os patifes dos americanos em sentido (falo da corja dominante, claro).

1 verso de Manuel Bandeira

 «Santa Clara, clareai.» in Berimbau e Outros Poemas (antologia)

1 verso de Dick Hard

«Os poetas comem-se uns aos outros» 

De Boas Erecções Está o Inferno Cheio (2004)

quinta-feira, junho 13, 2024

serviço público - Carlos Matos Gomes: a Nato como promotora de migrantes, logo da extrema-direita europeia, sem esquecer "os pequenos rafeiros que dirigem os estados europeus" -- isto é, brilhante

 Carlos Matos Gomes, "O paradoxo da imigração e da guerra" 

https://cmatosgomes46.medium.com/o-paradoxo-da-imigra%C3%A7%C3%A3o-e-da-guerra-174b213846f6

150 portugueses: 56-60

56. D. Manuel II (1889-1932). Sobe ao trono aos dezoito anos, o último rei de Portugal, que só o foi pelo assassínio do pai e do irmão mais velho, D. Carlos e Luís Filipe. Um reinado de acalmação, que serviu os conspiradores de 1908, republicanos e monárquicos. No exílio adquiriu livros antigos, incunábulos e manuscritos, que deixou ao país.

57. D. Pedro II (1648-1706). Uma personagem. Último filho de D. João IV, depôe Afonso VI, seu irmão, ficando-lhe com a mulher. No seu reinado começa a chegar o ouro de Brasil, mesmo a calhar quando pelo Tratado de Methuhen se estoira com a nascente indústria dos lanifícios.

58. D. Sancho I (1154-1211) Segundo rei de Portugal, extraordinário no co-governo com o seu pai, e ainda depois, pelas políticas de povoamento e reforço da moeda, nunca deixando de ser um rei medieval, batalhador, mas também poeta e apreciador da nossa poesia trovadoresca, que parece ter cultivado.

59. D. Afonso V (1432-1481) Chamam-lhe o último rei medieval, contrariando a política de centralização do seu tio e sogro, na regência -- o Infante D. Pedro acabará em Alfarrobeira; e também pelas pelejas na Península e conquista das praças de África. 

60. Carlos Paredes (1925-2004). Tinha o som do país na sua guitarra.

2 versos de José Pascoal

 «O verso é uma linha / Sem rosto.» Sob Este Título (2017)

quarta-feira, junho 12, 2024

3 versos de Luísa Dacosta

 «No fundo do mar, / perdidos, / estão os sonhos,» A Maresia e o Sargaço dos Dias (2011)

porra, morreu o Fernando Grade

Foi já no dia 8, mas só agora soube. Inesquecível, o Fernando Grade; e fiquei triste.

(ver aqui e aqui, por exemplo); e um texto de José d'Encarnação.

terça-feira, junho 11, 2024

Europeias, coisas que me agradaram

Internamente, a manutenção do PCP no PE, e também a do BE, confesso. Acho ainda civilizante haver uma representação liberal, independentemente dos protagonistas. Uma sociedade complexa tem liberais e conservadores, como radicais de vários matizes. Gostei do trambolhão do Chega, apesar de tratar-se de eleições diferentes; no entanto, indicia que aquela votação para as legislativas foi inflacionada por votos de protesto e outros que tais. Talvez venha a ter um destino parecido com o dos partidos dos reformados, dos marinhos e dos coelhinhos. Há sempre pobres de espírito disponíveis. 

Por falar em trambolhões, foi muito agradável ver, lá fora, o dos Verdes vendidos na Alemanha e o da organização de que Macron é ceo. O PSF, chegando aos 14% deixou de ser um cadáver. Apenderão algo com isso, ou continuarão na senda de coisos como a Ségolène ou do Hollande -- essa nódoa, que não só trouxe o Macron da banda para a política -- que saloio... -- como quis endrominar o Putin nos Acordos de Minsk? 

2 versos de Miguel Barbosa

«iremos de bosão em bosão / buscar o nosso estatuto de deuses» Um Mensalão É Urgente no Meu País (2014)

segunda-feira, junho 10, 2024

serviço público - João Paulo Oliveira e Costa

 João Paulo Oliveira e Costa,  "Portugal, uma longa e improvável existência de nove séculos" -

https://www.dn.pt/3795070181/portugal-uma-longa-e-improvavel-existencia-de-nove-seculos/

4 versos de Helder Macedo

«Na mesma estrada de sempre / o mesmo velho de sempre / dava corda ao realejo / que toca sem fazer som» Viagem de Inverno (1994)

domingo, junho 09, 2024

2 versos de Fernando Namora

 «Eu sabia que a Lua era azul /antes de lá irem dar-me razão;» Marketing (1969)

sábado, junho 08, 2024

o único voto que me é possível, entre marionetas do Pentágono e da CIA e a esquerda idiota útilis

Entre tantas questões importantes ou decisivas -- da concorrência fiscal dentro da UE à manutenção do voto por unanimidade em questões decisivas no Conselho -- nada me parece mais grave do que a guerra da Ucrânia, entre Estados Unidos e Rússia. 

Das forças em presença nestas eleições, temos as marionetas do Pentágono e da CIA -- PSD, PS, CDS, Chega e IL (mercearias e lugares-comuns -- nunca menosprezar a validade destes); e do outro lado, o antiputinismo epidérmico e risível, que leva BE, Livre, PAN a contemporizar com os grandes criminosos  da outra banda atlântica.

Claro que vou votar em João Oliveira e na CDU, creio que pela primeira vez em eleições para o Parlamento Europeu. Nem tenho outra alternativa.

sexta-feira, junho 07, 2024

8 versos de Luís de Camões

«As armas e os barões assinalados, / Que da ocidental praia lusitana, / Por mares nunca dantes navegados, / Passaram ainda além da Taprobana /E em perigos e guerras esforçados / Mais do que prometia a força humana, / E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram;» Os Lusíadas, I.1 (1572)

Nota: Hoje, 7 de Junho, dia de Cascais (7 de Junho de 1364, a carta de vila de D. Pedro I autonomiza o burgo piscatório de Sintra). A Cascais, a 7 de Abril de 1570, na companhia de Diogo do Couto, aporta Camões, com o manuscrito d'Os Lusíadas.

quinta-feira, junho 06, 2024

ucraniana CCLI - explicação (em stand up e em estrangeiro) sobre a natureza da guerra na Ucrânia, destinada a antigos e actuais ministros, jornalistas & outros analfabetos

Querendo, também podeis ler a coluna à direita, texto escrito por um não-especialista quando a guerra começou. Não é nada de especial, basta ter lido umas coisas, um mínimo de espírito crítico e estar atento.

4 versos de Sebastião da Gama

«Ó meu Amor, cheia da graça / que a um tempo sobre os dois desce, / nas horas pagas a desgosto / ganhámos esta que não passa.» Pelo Sonho É que Vamos (post., 1953)

1 verso de Alberto de Lacerda

«Anónimo navio, beleza do inconstante!»  77 Poemas (1955)

terça-feira, junho 04, 2024

ucraniana CCL - mas o que quer este "especialista"?

 Raramente vejo a sic, não tenho, por isso, de o ouvir. Mas como compro o Diário de Notícias, lá o leio, de vez em quando e a contragosto. Não há diferença nenhuma entre o que ele diz e o que ouvimos a pessoal como o secretário-geral da Nato, um qualquer ministro inglês dos Negócios Estrangeiros, um porta-voz da Casa Branca. Não, na verdade, há: o carregar nas tintas. Para este Germano Almeida, há que espicaçar, conformar e fazer aceitar a opinião pública da inevitabilidade da guerra.

Fala-nos dos "longos tentáculos da espionagem russa", que obviamente existe, mas cala-se em relação aos porta-vozes oficiosos dos interesses dos Estados Unidos, como vários comentadores ligados a institutos americanos. Não sei se é o caso, e na verdade estou-me nas tintas, de tal forma aparece como comentador comprometido com a estratégia estadunidense.

Vejamos o início deste parágrafo: "Sem uma Ucrânia democrática não haverá uma Europa democrática.» Está-se mesmo a ver, não é? Curiosamente, a democrática Finlândia, só para falar no caso mais evidente, aguentou-se como tal durante décadas, a fazer fronteira com a União Soviética, e nem precisou de aderir à Nato, uma vitória actual dos Estados Unidos e dos seus propagandistas.

Depois, defende que Putin está nos boletins de voto destas eleições. Pois estará, assim como o Pentágono e a CIA, mas para Germano ça va sans dire.  Por mim, podem chamar-me putinista à vontade, apesar de alguns pergaminhos. Dito por esta tropa, é para o lado que durmo melhor. De qualquer modo, sem esquecer a brutalidade na Chechénia, contra a qual, nas minhas fracas possibilidades me insurgi (e posso prová-lo), não me esqueço convenientemente dos massacres da Segunda Guerra do Iraque -- nem agora da duplicidade mostrada perante os crimes do governo israelita.

O que escreve sobre a farsa da "Conferência de Paz" na Suíça, fá-lo sem um pingo de espírito crítico; é pura propaganda para convencidos e ignorantes. Mas tem quase razão quando diz que para a Rússia ver a Ucrânia na UE é, tornou-se uma impossibilidade -- ou não estivesse a UE transformada em instrumento dos EUA.

Lengalenga para atrasados mentais: "Não foi a Ucrânia que invadiu a Rússia; é a Rússia que está a invadir a Ucrânia.» Decididamente, nunca leu Platão. Além disso, "o próprio direito de fronteira -- sustenta -- passará a estar em causa", se a Rússia vencer a guerra. A Sérvia que o diga...

Finalmente, evoca Zelensky com o seu "os russos só entendem a linguagem da força", para terminar, funéreo: «E nós demorámos tempo demais a compreender isso verdadeiramente.» 

Então que conclusões tirar, depois de lido este "especialista"? Que temos, Europa, de ir para a guerra. Há outra?

E porque vai a Europa para a guerra? Segundo Germano & Cia., é a democracia europeia que está em perigo com uma vitória da Rússia (ela está aí, semi, ou total). A obscena Nuland -- "Fuck the EU" -- não diria melhor.

6 versos de Carlos de Oliveira

«Amazónia. / O Negro e o Índio e o mais que me souber: / o fogo doutro céu, / o nome doutro dia / e tudo o que estiver / nos nervos que me deu.» Turismo (1942)

segunda-feira, junho 03, 2024

5 versos de Mário de Sá-Carneiro

«Volteiam dentro de mim, / Em rodopio, em novelos, / Milagres, uivos, castelos, / Forcas de luz, pesadelos, / Altas torres de marfim.» Dispersão (1914)