quarta-feira, novembro 13, 2024

o que está a acontecer - escrita armada

«Um dia, numa floresta, ao entardecer, quando por sobre as frondes ressoavam as buzinas dos porqueiros, e lentamente na copa alta dos carvalhos se calavam as gralhas, um lenhador, um servo, de surrão de estamenha, que rijamente trabalhara no souto desde o cantar da calhandra, prendeu a machada ao cinto de couro, e, com a sua égua carregada de lenha, recolheu pelos caminhos da aldeia, ao castelo do seu Senhor.» Eça de Queirós, S. Cristóvão (C. 1891/1912)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

PARIS/MCMXIV
TERÇA-FEIRA, 15 DE SETEMBRO
«Paris aguardava ontem um comboio de prisioneiros no trajecto que vai da Gare de l'Est à Gare d'Orsay. Com certeza, não era para lhes dar água como a Cristo o Cirineu. As autoridades houveram por bem modificar o itinerário, esquivando o boche às vaias, aos apupos e ao resto. Do lado de lá deve fazer-se a mesmíssima coisa, em primeiro grau com o mujique russo e o labrego sérvio. Todas estas monstruosidades constituem a inevitável floração da guerra.»
Aquilino Ribeiro, "É A GUERRA-Diário", (Paris, 1914). Publicado em 1934.