segunda-feira, agosto 11, 2025

o que está a contecer

«A podridão tinha chegado ao âmago da árvore, e ela devia secar. O próprio clero se corrompeu por fim. O vício e a degeneração corriam soltamente, rota a última barreira. / Foi então que o célebre Roderico se apossou da coroa.» Alexandre Herculano, Eurico o Presbítero (1844)

«Fazendo sentinela à terra pródiga, duas cerejeiras contrastavam, pela sua frescura e opulência da folhagem, com a figueira árida -- apesar de tudo muito mais feliz do que a bíblica, pois Judas fora substituído por uma grande abóbora amarela, que pendia da primeira forquilha. » Ferreira de Castro, Emigrantes (1928) 

«Constou-me aqui há dias que a Sr.ª Joaquina de Vilalva  tinha um gigo de livros velhos entre duas pipas na adega, e que as pipas, em vez de malhais de pau, assentavam sobre missais. O meu informador denomina missais todos os livros grandes; aos pequenos chama cartilhasCamilo Castelo Branco, A Brasileira de Prazins (1882)

1 comentário:

  1. «Nesse salto do século, a aventura de Portugal declinava para o ocaso. Estava transposta a linha da cumeada. Tudo agora era declive. De modo especial, os vizinhos de Lisboa -- porque esses, ou seus próximos, é que concorriam ao 'ring' -- viviam o mais fidalgamente que lhes era possível, corrompendo uns na abundância, batendo outros o dente na mediocridade e na penúria dourada. Mas sempre fidalgos, isto é, cabeça alta, espada no talim, pluma branca no chapéu, orgulho tão desmedido que só Deus lhes conhecia as misérias. Claro que com este modo de ser apenas eram conciliáveis a ociosidade e a livre gandaia. Quando muito, o exercício das armas.»
    Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)

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