Cito de memória: "Se os Estados Unidos vierem a abandonar a Nato, a Europa não deixará de assumir as suas responsabilidades.» Excerto de uma entrevista na RTP3 que passou num bloco noticioso. Subentenda-se, entrar em guerra com a Rússia por causa da Ucrânia. E em sequência, penso que perguntado se tal era possível sem os EUA (é ir à box confirmar), Santos Silva retorquiu: bem, na I Guerra os EUA só entraram em 1917 e na II em 1942 e a Europa soube resistir -- ou coisa assim.
Ora bem:
1) Os Estados Unidos são a Nato. Se viessem a "abandoná-la", o que não sucederá, evidentemente, a Nato acabava.
2) A alusão às duas guerras mundiais é de extremo mau gosto, embora toda a gente esteja a pensar nos riscos de poder desencadear-se uma terceira.
3) Santos Silva, que não é destituído nem enlouqueceu, acha que as pessoas engolem a lengalenga. E a maioria engole, pois claro -- o que se espera dum país sem massa crítica? Mas esses de certeza não estão a assistir a uma entrevista de Santos Silva na RTP3, mas enfronhados lá nos dejectos televisivos que lhes servem.
4) Dissesse lá o Santos Silva por que razão a Europa iria entrar em guerra com a Rússia. Já faltou mais, claro, porque a Europa não passa de um peão dos Estados Unidos. Mas pensando no interesse nacional, por que diabo Portugal iria entrar em guerra com a Rússia? O que tem a Ucrânia que ver com o interesse nacional português? A não ser que se considere que o interesse nacional é ser-se capacho do nosso vizinho atlântico.
5) Mesmo que a historieta criada para os indigentes de que a Rússia atacou a Ucrânia sem motivo fosse verdadeira -- porém é falsa, como Santos Silva, não sendo destituído, sabe --, mesmo que fosse verdade, onde está aí um ataque a um país da aliança atlântica? Há, de facto, países da Nato a atacar a Rússia, mas isso não nos obriga a correr para o matadouro, atrás estratégia final dos Estados Unidos quando tudo falha, como tem falhado, miserável e indecorosamente.
Em resumo: vendo Santos Silva cheio de confiança, aqui na outra ponta da Europa, muito distante de onde as coisas aquecem e acontecem, o que me apetece é mandá-lo alistar-se.
Quando esse manga de alpaca se apressou a reconhecer Guaidó (que será feito de tal palhaço?), sem necessidade e apresentou um "ultimato" à Venezuela, assim colocando a comunidade portuguesa numa situação muito difícil; quando esse manga de alpaca foi ao portão das Necessidades, encurvado e cheio de salamaqueques dignos de um mordomo inglês quando Mike Pompeo veio a Portugal; quando esse manga de alpaca falou forte para os fracos e subserviente para os fortes percebi que estava perante um indivíduo sem coluna vertebral. Perante um merda seca. Um bom fim de semana Ricardo.
ResponderEliminarÉ todo um retrato, caro Lúcio.
EliminarTambém para si.